A polícia afirma que o fato de uma mesma facção atuar nos dois estados facilita esse “intercâmbio”
A investigação do assalto a uma joalheria no Village Mall, há dez dias, mostrou que bandidos do Rio não agem mais sozinhos. O chefe do bando que invadiu o shopping na Barra seria Rodolfo Nascimento Silva, o Mãozinha, que é de Belém do Pará. Ele também é citado num relatório de inteligência feito pela Polícia Civil paraense, que revela a presença de 21 criminosos daquele estado em favelas do Rio, principalmente nas do Complexo da Penha, na Zona Norte.
Chefe do Comando Vermelho estava presente no assalto à joalheria no RJ → https://t.co/yhLBUK1XG9 pic.twitter.com/4q4VW1bY2q
— iG Último Segundo (@ultimosegundo) June 30, 2022
Os forasteiros estariam atuando em assaltos, na venda de drogas e na segurança armada de traficantes. Além de Mãozinha, a polícia fluminense identificou outros dois suspeitos do Pará, mas seus nomes não estão no relatório de inteligência, mostrando que o número de paraenses foragidos no Rio pode ser ainda maior.
O principal nome citado no documento é o de Leonardo Costa Araújo, foragido do sistema penitenciário do Pará e suspeito de ser chefe da facção criminosa naquele estado. No Rio há mais de um ano, ele teria recebido dos traficantes do Rio Wilton Carlos Quintanilha, o Abelha, e Edgar Alves de Andrade, o Doca, que têm o Complexo da Penha como base, o controle de pontos de venda de drogas em Itaboraí, na Região Metropolitana. Dois comparsas de Leonardo, Anderson Souza Santos e David Palheta Pinheiro, também procurados pela Justiça do Pará, estariam no Rio.
A polícia afirma que o fato de uma mesma facção atuar nos dois estados facilita esse “intercâmbio”.
— Eles vieram para ficar mais próximos do comando da facção, de onde as decisões são tomadas. Além disso, como são foragidos e procurados no Pará, usam a estrutura das comunidades controladas pelo tráfico, onde as incursões policiais são feitas com mais dificuldade — explicou um policial.
A polícia do Rio tem ido a favelas em busca desses criminosos. Em fevereiro, oito pessoas — sendo três paraenses acusados de crimes em seu estado — morreram numa operação da PM na Vila Cruzeiro. Três meses depois, com apoio de policiais rodoviários federais, outra ação na mesma favela terminou com 23 mortos. Segundo a polícia do Pará, quatro vítimas eram investigadas naquele estado por envolvimento com facções criminosas e ataque contra policiais.
Segundo o jornal O Globo, essa migração não é de agora. Em 2019, a polícia do Rio prendeu num dos acessos à Vila Cruzeiro, na Penha, o suspeito de um assalto a uma joalheria em Ipanema. Ele estava condenado a 50 anos de prisão por seis crimes cometidos no Pará, como homicídios e roubos.
Em nota, a Polícia Civil afirmou que “vem monitorando criminosos de outros estados refugiados em comunidades do Rio”. Acrescentou que, em dois anos, houve 12 prisões. Ainda segundo o comunicado, o chefe da quadrilha que assaltou a joalheria na Barra “foi um dos alvos da Operação Coalizão pelo Bem, no fim de 2021, e também de recente ação da PM na Vila Cruzeiro”.