Obras paralisadas, saneamento precário e falta de leitos ameaçam a preparação da cidade para o evento climático global em 2025
A um ano da COP30, Belém encara desafios para sediar a conferência da ONU
Belém, capital do Pará e primeira cidade amazônica a sediar uma Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a COP30, enfrenta desafios significativos para se preparar para o evento previsto para novembro de 2025. Com estimativa de atrair cerca de 60 mil visitantes, incluindo líderes de 193 países, a cidade luta para ajustar sua infraestrutura e resolver pendências ambientais e logísticas. Entretanto, o governador Helder Barbalho mantém-se otimista, afirmando que a cidade estará pronta para receber a comunidade internacional.
Suspensão de obras e embargos ambientais
Na última terça-feira (5), a Justiça do Pará determinou a suspensão das obras de duplicação da rua da Marinha, uma importante via que ligaria Belém a cidades da região metropolitana. A decisão, em resposta a uma ação civil pública movida pelo Ministério Público do Estado, aponta a falta de licença ambiental, a ausência de estudos de impacto e a falta de consulta pública. A multa para descumprimento é de R$ 100 mil por dia.
A construção do novo eixo viário, que se estenderia por 3,5 km, é considerada crucial para a mobilidade da região. Contudo, há preocupações sobre o impacto ambiental no Parque Ambiental Gunnar Vingren, área ecologicamente sensível. O governador Helder Barbalho destacou que o Estado deve recorrer da decisão, argumentando que a obra, executada em terreno da Marinha, passou por adaptações para minimizar impactos.
Falta de saneamento e déficit de leitos para o megaevento
Belém enfrenta problemas críticos de saneamento e infraestrutura, com mais da metade de sua população vivendo em áreas classificadas como favelas, e 80% dos moradores sem acesso a redes de esgoto. A cidade também sofre com coleta irregular de lixo, realidade que contrasta com as necessidades para a COP30.
Além disso, um déficit estimado de 32 mil leitos hoteleiros traz um novo desafio. Para suprir a demanda, o governo planeja instalar uma vila provisória, disponibilizar imóveis de locação temporária e contar com cruzeiros de luxo, cuja viabilidade depende da dragagem do rio Guajará, essencial para permitir o acesso de embarcações de grande porte.
Expectativas e investimentos
Com investimento de R$ 4,7 bilhões provenientes de recursos federais e privados, o governo do Pará aposta que o evento trará um legado duradouro para Belém. Obras emblemáticas, como o Parque da Cidade e Porto Futuro 2, seguem no cronograma previsto.
Além disso, ações voltadas à melhoria do turismo e à capacitação profissional estão em andamento, com a requalificação do Complexo Ver-O-Peso e a criação de 22 mil vagas para treinamentos de mão de obra. O governador reafirma que o evento acontecerá em Belém, apesar das adversidades. Em entrevista recente, Helder Barbalho declarou: “Temos absoluta certeza de que faremos aqui a mais extraordinária COP, apresentando uma cidade digna, qualificada e com o ativo inigualável de estar na floresta amazônica.”
Especialistas e a visão de legado da COP30
Especialistas, como Emilio Lebre La Rovere, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e participante da conferência, afirmam que a COP30 representa uma oportunidade única para transformar Belém. “É preciso que haja um legado para a cidade, que enfrente suas carências e melhore sua infraestrutura de forma perene”, comenta La Rovere, ressaltando que o evento pode acelerar investimentos e políticas de desenvolvimento sustentável.
Uma corrida contra o tempo
A COP30 traz a Belém uma visibilidade internacional inédita e a chance de repensar e melhorar sua estrutura urbana e ambiental. Com poucos meses para resolver entraves logísticos e enfrentar uma realidade social e ambiental desafiadora, a capital paraense corre contra o tempo para cumprir as promessas do governo estadual e tornar-se um palco digno do debate climático global.