A denúncia que pode reescrever a história política do Brasil
Em um dos capítulos mais dramáticos da recente política brasileira, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, denunciou o ex-presidente Jair Bolsonaro e 33 aliados por tentativa de golpe de Estado. O documento de 272 páginas, enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), acusa o grupo de articular, desde 2021, um plano para deslegitimar as eleições e perpetuar-se no poder. Se aceita, a ação penal pode levar Bolsonaro a responder por crimes com pena total de até 38 anos de prisão.
Os crimes e a trama detalhada em 272 páginas
A denúncia descreve uma “organização criminosa” estruturada, liderada por Bolsonaro, com o objetivo de invalidar o sistema eleitoral e instaurar um regime de exceção. Entre os crimes listados estão:
- Organização criminosa (Lei 12.850/2013): coordenação de ataques ao processo democrático.
- Tentativa de golpe de Estado (art. 359-M do Código Penal): articulação para anular resultados eleitorais.
- Abolição violenta do Estado Democrático (art. 359-L): incentivo à invasão de prédios públicos em 8 de janeiro.
- Dano qualificado: destruição de patrimônio histórico durante os ataques.
Os protagonistas da crise: de generais a assessores
Além de Bolsonaro, a lista de denunciados inclui figuras-chave:
- Walter Braga Netto (ex-candidato a vice): acusado de coagir militares a apoiar o golpe.
- Mauro Cid (ex-ajudante de ordens): elo entre o ex-presidente e a articulação ilegal.
- Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) e Almir Garnier (ex-comandante da Marinha): facilitaram a infiltração golpista nas Forças Armadas.
- Silvinei Vasques (ex-diretor da PRF): usou a Polícia Rodoviária Federal para dificultar votação em regiões adversárias.
As provas: de minutas de decreto a mensagens cifradas
O Ministério Público reuniu documentos explosivos:
- Minutas de decretos: propostas para anular as eleições e instaurar intervenção federal.
- Gravações e mensagens: diálogos entre Bolsonaro e generais sobre a necessidade de “ação enérgica” pós-eleição.
- Relatórios de inteligência: alertas sobre movimentações suspeitas em quartéis.
- Vídeos do Planalto: discursos do ex-presidente atacando urnas eletrônicas.
O papel do 8 de janeiro na acusação
A invasão das sedes dos Três Poderes é tratada como ápice do plano golpista. Segundo a denúncia, os ataques foram “premeditados” e contaram com omissão de autoridades. A destruição do patrimônio público, incluindo obras de arte tombadas, é classificada como “símbolo da instabilidade” buscada pelo grupo.
O que acontece agora? O caminho até o julgamento
O processo seguirá as seguintes etapas:
- Análise de Alexandre de Moraes: ministro do STF relator do caso decidirá se aceita a denúncia.
- Defesa de Bolsonaro: 15 dias para contestar as acusações após notificação.
- Coleta de provas e interrogatórios: testemunhas e réus serão ouvidos.
- Votação no plenário do STF: os 11 ministros decidirão a condenação ou absolvição.
Repercussão e riscos políticos
A denúncia reacende tensões entre os Poderes e divide opiniões:
- Aliados de Bolsonaro: acusam o STF de “perseguição política”.
- Juristas: destacam que as provas são robustas, incluindo documentos assinados pelo ex-presidente.
- Mercado: teme instabilidade caso o processo se arraste durante o ciclo eleitoral de 2026.
Um teste para a democracia brasileira
O caso coloca o Brasil em um divisor de águas: é a primeira vez na história recente que um ex-presidente é formalmente acusado de tentativa de golpe. Se condenado, Bolsonaro perderá direitos políticos e poderá cumprir pena em regime fechado. Para o STF, é uma chance de reforçar sua imagem como guardião da Constituição – ou de alimentar narrativas de lawfare. Enquanto isso, o país aguarda para ver se a “música” descrita na denúncia, comparada ao Bolero de Ravel, terminará em tragédia institucional ou em um recado claro contra aventuras autoritárias.