Carne começa a desaparecer dos pratos feitos e quentinhas

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O Dieese aponta que, no 1º trimestre deste ano (Jan-Mar/2022), a alta acumulada no preço do quilo da carne bovina chegou a 4,81%, contra uma inflação calculada em 3,42% (INPC/IBGE) para o período

Se analisados os preços cobrados pela carne bovina nos últimos doze meses (março de 2021 a março de 2022) em Belém, o que se constata é um reajuste acumulado que chegou a quase 11%. Na prática, o que o percentual apontado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) significa é o que os trabalhadores já perceberam há algum tempo: o preço da carne vermelha disparou. Segundo o DOL, como consequência, o produto já começa a diminuir de quantidade e a ser substituído em quentinhas e pratos feitos vendidos na capital paraense.

ESTRATÉGIA
No quadro fixado na entrada do pequeno restaurante instalado dentro do Mercado de Carne do Ver-o-Peso, a variedade de proteínas listadas é a amostra de uma das estratégias adotadas pela autônoma Nazaré Martins, 60 anos, para driblar o alto preço da carne vermelha. Além da opção da carne assada, que não se pode abrir mão, os clientes ainda podem escolher entre a dourada frita, costela assada, guisado de porco, fígado, frango guisado, calabresa acebolada e charque com ovo.

“A gente tem que inventar. A gente tenta dar mais opções para diminuir a quantidade de carne vermelha, mas abrir mão totalmente não tem como. Os clientes cobram a carne”.

Nazaré trabalha com a venda de refeições desde os 22 anos de idade e conta que não se lembra de um período anterior em que a situação esteve tão complicada como a atual.

Ainda que o preço da carne tenha subido muito, ela lembra que outras proteínas, como o próprio peixe e até mesmo o charque, também estão com preços muito elevados, o que também ajuda a diminuir a margem de lucro.

“Sentimos muito esse aumento na carne, mesmo trabalhando dentro do Mercado. A gente vai tentando substituir, mas o peixe também está muito caro, então, a verdade é que a gente vai empurrando com a barriga”.

Apesar do movimento razoável no restaurante em dia de semana, a autônoma lembra que a demanda de refeições no local diminuiu bastante. O que tem ajudado a segurar as contas, atualmente, são as quentinhas vendidas por delivery. Ainda assim, ela conta que na maioria das vezes acaba gastando mais para produzir as quentinhas, do que lucra com o negócio.

“A gente mais paga do que leva para casa. O custo está muito caro mesmo”, considera. “Mas a gente continua vendendo a refeição por R$15. Não tem condições de aumentar porque, se não, o cliente não compra”.

Outra saída encontrada por Nazaré para não perder os clientes foi fazer uma versão reduzida dos PFs e das quentinhas, com uma quantidade menor de comida, para que pudesse vendê-los a R$10 e R$12, dependendo da proteína escolhida. “Tem que diminuir a comida para vender mais barato”.

A necessidade de reduzir a quantidade de proteína que vai para o prato também precisou ser adotada pelo autônomo Messias Barros, 56 anos. Para que conseguisse manter o preço do PF a R$15, ao invés de três pedaços de carne, ele passou a servir apenas dois por refeição.

“A gente teve que diminuir a quantidade porque não tinha outra saída. Ao invés de três pedaços, coloca dois de carne. Se o cliente reclama, a gente precisa explicar a situação como está e, se ele quiser que coloque mais carne, a gente oferece a opção de cobrar um pouco a mais”.

A lida com o preço elevado da carne vermelha faz parte da rotina de Messias mesmo antes de ele começar a trabalhar com a venda de refeições. Açougueiro no Mercado de Carne, ele conta que, neste ano, precisou migrar de ramo para conseguir manter a renda, já que o preço cobrado pela carne desde o fornecedor dificultou as vendas no açougue.

“O fornecedor que deixa a carne aqui (no Mercado de Carne) vem de manhã deixar o produto e no final da manhã eles já voltam para receber o valor, com isso a gente só tinha como vender para o cliente à vista, não tinha como vender no cartão porque no mesmo dia já tem que pagar o fornecedor”, conta. “Aí ficou muito complicado, ficou difícil mesmo. Tanto é que eu mudei de ramo, pelo menos por enquanto”.

INFLAÇÃO

O último balanço divulgado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta que, no 1º trimestre deste ano (Jan-Mar/2022), a alta acumulada no preço do quilo da carne bovina chegou a 4,81%, contra uma inflação calculada em 3,42% (INPC/IBGE) para o período.

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