‘Cepa América’: Brasil recebe enxurrada de críticas por decisão de sediar Copa América

Leia mais

Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Torneio aconteceria na Argentina, mas foi cancelado no país pela Conmebol por conta do recrudescimento da pandemia; dez dias antes, o mesmo aconteceu com a Colômbia

O anúncio de que o Brasil sediará a Copa América de 2021, em substituição à Argentina, desatou uma chuva de críticas e comentários jocosos no país, o segundo em número de mortos por Covid-19 no mundo e que teme uma terceira onda da pandemia em junho.

A Conmebol retirou no domingo (30) a sede da Argentina, onde há um recrudescimento da pandemia. Dez dias antes, a entidade fez o mesmo com a Colômbia, imersa em tumultos sociais responsáveis por dezenas de mortos.

Embora a Conmebol ainda não tenha anunciado as cidades que sediarão os jogos e não tenha comentado a possibilidade de público nos estádios, vários estados, entre eles Pernambuco e Rio Grande do Norte, já rejeitaram receber partidas por “fata de segurança epidemiológica”.

Em suas redes sociais, a governadora do Rio Grande do Norte Fátima Bezerra foi enfática ao dizer que o combate ao coronavírus segue como prioridade máxima em seu estado. Ela alegou não existir condições de segurança epidemiológica do estado sediar uma competição da grandeza de Copa do Brasil.

“O Rio Grande do Norte não recebeu nenhum comunicado oficial a respeito da realização da Copa América em território potiguar. Mas, apesar de sermos um dos estados com estrutura física disponível, não temos hoje níveis de segurança epidemiológica para realização do evento”, se antecipou Fátima Bezerra.

A Conmebol e a CBF tinham como ideia inicial fazer jogos em estádios sem partidas do Brasileirão para não atrapalhar a competição. Seria um acordo de cavalheiros e Mané Garrincha, em Brasília, Arena Pernambuco, no Recife, e Arena das Dunas, em Natal, foram alguns dos locais indicados. Todos os estádios sediaram jogos da Copa do Mundo em 2014 e têm ótima infraestrutura.

Recife não aceitou e Natal segue o mesmo caminho. Colômbia e Argentina descartaram a Copa América por causa da pandemia da covid-19. O Brasil se colocou à disposição dizendo que estava com o controle da doença. Os políticos locais desmentem os dirigentes e o governo federal vetando seus determinados estados.

“Estamos numa luta diuturna para amenizar os efeitos da pandemia, que está em um momento crescente por aqui. O Governo é, portanto, contrário à realização do evento no nosso estado”, disse Fátima Bezerra.

“Um evento dessa magnitude mobiliza inúmeras pessoas, mesmo se os jogos forem sem público. E mobilidade aumenta a transmissão do vírus. Isso terá um componente muito significativo nessa questão do recrudescimento da pandemia”, declarou o infectologista José David Urbáez, da Câmara Técnica de Infectologia do Distrito Federal. “Esse torneio deveria ser cancelado e pronto”, completou o especialista.

O epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), classificou de “temerária” a decisão da Conmebol, que agradeceu ao presidente Jair Bolsonaro “por abrir as portas” para o torneio que acontecerá de 13 de junho a 10 de julho.

“Há muitos países que estão com vacinação muito mais avançada e com a pandemia muito mais controlada. O Chile é o exemplo mais fácil de dar. Por isso, é difícil entender de onde vem essa decisão”, explicou.

O Brasil é o segundo país do mundo em óbitos por Covid-19 (mais de 460 mil mortes), situação que, segundo especialistas, foi causada pela ausência de medidas sanitárias rígidas, em grande parte devido à campanha do presidente Jair Bolsonaro contra a quarentena devido ao prejuízo econômico, o lento avanço da vacinação (menos de 11% da população recebeu duas doses) e a chegada de novas variantes.

Há algumas semanas, a média móvel de mortes se estabilizou em menos de 2 mil por dia, um número bem abaixo do pico de 4 mil mortes registrado em abril, o que levou vários estados a relaxar as medidas de confinamento.

A Fiocruz alerta que a retomada das atividades em quase todo o país “vai manter o número de internações e óbitos em patamares elevados, com tendência de piora nas próximas semanas”. Soma-se a isso a incerteza potencial da nova variante indiana, cujos primeiros casos já foram detectados no Brasil.

‘Campeonato da morte’

Nas últimas semanas, o público só teve permissão para entrar de forma muito limitada em dois jogos no Brasil, algo proibido no país desde o início da pandemia. Mas algumas finais de campeonatos estaduais acumularam multidões em torno dos estádios, outro motivo de preocupação.

O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI que investiga eventuais “omissões” por parte do governo Bolsonaro na pandemia, denunciou o que classificou de “campeonato da morte”. “Sindicato de negacionistas: governo, Conmebol e CBF. As ofertas de vacinas mofaram em gavetas mas o ok para o torneio foi ágil. Escárnio”, criticou o senador no Twitter.

O vice-presidente da CPI, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), informou que apresentou um requerimento de convocação do presidente da CBF, Rogério Caboclo, para saber “que medidas foram planejadas para garantir a segurança sanitária dos brasileiros” durante o torneio.

O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) anunciou que irá entrar com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir a realização do torneio no Brasil.

A ‘Cepa América’

Após o anúncio, não demoraram a surgir nas redes sociais comentários irônicos e ‘memes’ sobre a competição, rebatizada de “Cepa América”, incluindo um de um caixão brincando com uma bola em formato de vírus e outro de um mascote chamado ‘Cloroquito’, em referência à cloroquina, o medicamento que Bolsonaro promove contra o coronavírus, embora sua eficácia não tenha sido comprovada pela ciência.

O vice-presidente Hamilton Mourão defendeu nesta segunda-feira (31) que organizar a Copa América no Brasil apresenta “menos risco” do que na Argentina devido à imensidão do território e ao elevado número de estádios, o que permitirá a “distribuição” dos jogos. Uma tese que, mesmo em um país onde o futebol é religião, não convenceu muita gente.

“Eu não acho que deveria acontecer um evento esportivo tão grande nesse momento devido à situação da pandemia, não acho que é prudente, acho que é muito arriscado. Claro que faz bem para a economia, mas certamente isso vai aumentar os casos de Covid aqui, então eu não sou a favor, por mais que eu ame futebol”, declarou Guilherme Bezerra da Silva, que trabalha com comércio exterior em São Paulo.

“Não é possível, é inaceitável. A sociedade brasileira, a coletividade do futebol e do esporte, não podemos aceitar essa decisão”, disse indignado o comentarista esportivo Luiz Roberto durante o programa Seleção SporTV com a decisão do governo de sediar a Copa América. O vídeo teve imensa repercussão em diversas redes sociais. 

AFP

VOZ DO PARÁ: Essencial todo dia!

- Publicidade -spot_img

More articles

- Publicidade -spot_img

Últimas notíciais