Em discurso na abertura da 77ª Assembleia Geral da ONU, chefe do Executivo proferiu, mas uma vez, uma série de mentiras
O presidente Jair Bolsonaro (PL) participou da abertura da 77ª Assembleia Geral da ONU, na manhã desta terça-feira (20), com um discurso recheado de mentiras e um forte teor político-eleitoral.
Esta pode ser a última participação do Brasil no evento sob o comando de Bolsonaro, que é o segundo colocado nas pesquisas de opinião sobre a disputa pela reeleição.
Em sua fala, Bolsonaro repetiu a postura dos três últimos anos, utilizando um dos principais espaços da diplomacia global para difundir uma imagem do país que poucos brasileiros reconhecem como real.
Além disso, fez um ataque ao ex-presidente Lula (PT), afirmando que o petista seria o responsável pela corrupção na Petrobras e que teria sido condenado em três instâncias. O ex-presidente, no entanto, acumula 26 vitórias na Justiça.
“No meu governo, extirpamos a corrupção sistêmica que existia no país. Somente entre o período de 2003 e 2015, onde a esquerda presidiu o Brasil, o endividamento da Petrobras por má gestão, loteamento político em e desvios chegou a casa dos US$ 170 bilhões de dólares”, afirmou. “O responsável por isso foi condenado em três instâncias por unanimidade. Delatores devolveram US$ 1 bilhão de dólares e pagamos para a bolsa americana outro bilhão por perdas de seus acionistas. Esse é o Brasil do passado.”
Mergulhado em escândalos em diversas pastas de seu governo, o presidente tem lutado para se esquivar da pecha de “corrupto”. A interferência em investigações contra sua família, o uso descabido do sigilo em informações públicas e o aparelhamento do Estado para satisfazer interesses de aliados apontam outra realidade.
Em dezembro de 2020, Bolsonaro foi eleito a “Personalidade do Ano” por seu papel na promoção da corrupção e do crime organizado pelo Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP), um consórcio internacional que reúne jornalistas investigativos e centros de mídia independente.
Especialistas e organizações apontam que outro fator relevante é o ataque sistemático do governo Bolsonaro à transparência pública. Um relatório da Transparência Brasil sobre a Lei de Acesso à Informação (LAI) com base nos dados do Executivo federal identificou quase 1.500 pedidos de informação que foram negados utilizando a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), de forma equivocada, como justificativa.
Quase 700 mil mortes
Outro dos temas abordados pela presidente foi a pandemia. Segundo ele, o Brasil atuou com firmeza para garantir a vacinação da população. Na realidade, porém, o governo Bolsonaro boicotou a compra de vacinas, o que contribuiu para a marca de quase 700 mil mortos pela covid-19.
“Quando o Brasil se manifesta sobre a agenda da saúde pública, fazemos isso com a autoridade de um governo que, durante a pandemia da covid-19, não poupou esforços para salvar vidas e preservar empregos”, disse o mandatário. “Lançamos um amplo programa de imunização, inclusive com produção doméstica de vacinas. Somos uma nação com 210 milhões de habitantes e já temos mais de 80% da população vacinada contra a Covid-19. Todos foram vacinados de forma voluntária, respeitando a liberdade individual de cada um.”
O presidente ainda usou termos como “ideologia de gênero”. Mostramos, em reportagem, como o conceito tenta espalhar uma ideia falsa de que uma suposta ideologia de gênero vem sendo propagada globalmente para manter a sociedade desigual.
“Outros valores fundamentais para a sociedade brasileira, com reflexo na pauta dos direitos humanos, são a defesa da família, do direito à vida desde a concepção, à legítima defesa e o repúdio à ideologia de gênero”, afirmou.
Desmatamento da Amazônia
Na tentativa de abordar temas pelos quais é criticado, Bolsonaro também citou a preservação ambiental da Amazônia. No entanto, dados do sistema Deter do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) apontam que o desflorestamento foi o maior no mês de agosto desde 2017.
O número supera aquele que ficou conhecido como “dia do fogo”, em 10 de agosto de 2019. Na ocasião, produtores rurais combinaram para o mesmo período queima de pasto e de áreas em processo de desmatamento.
“Dois terços de todo o território brasileiro permanecem com vegetação nativa, que se encontra exatamente como estava quando o Brasil foi descoberto, em 1500. Na Amazônia brasileira, área equivalente à Europa Ocidental, mais de 80% da floresta continua intocada, ao contrário do que é divulgado pela grande mídia nacional e internacional”, disse o presidente. (Originalmente em Brasil de Fato)
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