Fiocruz analisou dados da imunização e constatou: há pouca diferença entre a CoronaVac, AstraZeneca e Pfizer. A primeira mostrou-se potente na pior fase da pandemia; as outras têm mais de 90% de eficácia contra mortes em todas as idades
Enquanto o difícil ano de 2021 vai chegando ao fim, temos, no Brasil, ao menos um grande fato para se orgulhar e comemorar: o programa nacional de imunização operado pelo SUS, que alcançou 65% da população – 77% com a primeira dose. A vacinação é o que melhor tem funcionado para manter a pandemia, já que a péssima condução do governo federal fez tudo para atrapalhar medidas como uso de máscaras e distanciamento social, criticou lockdowns e espalhou mentiras sobre medicamentos com comprovada ineficácia. Nesse fim de ano, as mortes caíram drasticamente e os hospitais não estão mais passando sufoco. E, há alguns dias, uma análise mais completa da eficácia da campanha foi apresentada pelo projeto VigiVac, da Fiocruz. Sua conclusão principal [confira a íntegra] é animadora: todas as quatro vacinas utilizadas no Brasil dão proteção acima de 85% contra a hospitalização e acima de 89% contra as mortes por covid-19.
A pesquisa utilizou os dados coletados pela Campanha Nacional de Vacinação, o sistema de registros e-SUS Notifica e as Notificações de Síndrome Respiratória Aguda Grave. Compilou todas as informações de vacinação, internações e óbitos disponíveis, e fez um relatório da eficácia na vida real das vacinas CoronaVac, Oxford/Astrazeneca, Pfizer/BioNTech e Janssen/Johnson & Johnson. Os resultados podem decepcionar os sommeliers de vacina: há, na verdade, pouca diferença entre elas…
Vamos aos números. A CoronaVac, a vacina que primeiro começou a ser distribuída (portanto a que imunizou grupos prioritários como idosos e profissionais da saúde), chegou ao braço de mais de 40 milhões de brasileiros. Entre a população de 18 a 59 anos, apresentou uma eficácia que varia entre 89% e 93% contra óbitos, 85% a 91% contra internações e 66% a 72% contra infecções leves. Na população idosa, ela perde efetividade: protegeu de 69% a 86% contra mortes e de 64% a 81% contra internações. A AstraZeneca foi a vacina mais utilizada em brasileiros, especialmente entre os meses de abril a julho – e abrangeu todas as faixas etárias. Foi muito efetiva: 91% dos idosos com mais de 80 anos ficaram protegidos contra a morte – porcentagem que aumenta na faixa dos 60 aos 79 anos e chega a 99% entre aqueles que têm entre 18 e 59 anos. Hospitalizações também caem bruscamente, com variação entre 87% e 98%.
A Pfizer, empresa cujos 53 emails de oferta de vacina foram ignorados pelo governo federal em 2020, começou a ser aplicada apenas em abril, e alcançou seu pico em agosto – chegando a 50 milhões de brasileiros, especialmente os mais jovens. Esse fato fez com que os dados relacionados à sua aplicação em idosos, mais escassos, não sejam tão confiáveis. Mas em relação à população com idade entre 18 e 59 anos, a proteção foi também muito grande: de 98% a 100% contra mortes; 96% a 99% contra internações; 94% a 97% contra casos mais brandos. A vacina com números menos favoráveis foi a Janssen, mas isso explica-se também pelo fato de que apenas 4 milhões de brasileiros foram vacinados com ela – portanto os dados são mais frágeis. Em idosos de mais de 80 anos, ofereceu proteção de 91% contra mortes e 93% contra internações. Entre aqueles na faixa de 18 a 59, apresentou eficácia de 84% a 92% contra mortes; 88% a 91% contra internações; 68% a 73% contra infecções.
O relatório da VigiVac explica que há de se fazer considerações importantes em relação aos números extraídos. Elas dizem respeito ao período a que os dados se referem e ao momento em que cada vacina estava sendo utilizada. A diferença de efetividade entre o imunizante CoronaVac e o da Pfizer deve se explicar principalmente porque a primeira foi oferecida às populações mais vulneráveis, num período muito mais crítico da pandemia – entre os meses de janeiro e abril, quando a covid-19 estava descontrolada e morreram mais de 208 mil brasileiros. Além disso, por ser a vacina que foi administrada há mais tempo, seus números de efetividade já podem estar registrando a queda na proteção, esperada após alguns meses.
Portanto, continua valendo a máxima: vacina boa é a que tem no postinho. Todos os laboratórios, inclusive, já estão pesquisando se a variante ômicron faz cair a eficácia de suas vacinas (veja: CoronaVac; AstraZeneca; Pfizer; Janssen) – embora a maior parte dos cientistas afirme que muito dificilmente a imunidade já conquistada perderá totalmente a sua relevância. Também não há mais justificativas para que o governo federal não compre a CoronaVac produzida no país pelo Intituto Butantan, e dê preferência à Pfizer, por exemplo. No próximo ano, tudo indica que as doses de reforço deverão ser intensificadas se quisermos manter o controle da pandemia. Não há, portanto, motivo para rejeitar nenhuma dose de vacina.
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