Indígenas, professores e governo em confronto: a batalha pela educação no Pará que ganha proporções nacionais
Crise na educação do Pará: ocupação da Seduc expõe tensões políticas e ameaça ano letivo de 500 mil estudantes
Há 15 dias, a Secretaria de Educação do Pará (Seduc) foi ocupada por manifestantes em um protesto que começou com comunidades indígenas e ganhou o apoio de professores e movimentos sociais. A crise, que já dura duas semanas, expôs uma fratura política sem precedentes no estado, ameaçando a relação até então estável entre movimentos sociais e os governos estadual e federal. Com o início do ano letivo em jogo, a situação coloca em risco o ensino de 500 mil estudantes da rede pública, enquanto o governo e os manifestantes travam uma batalha que vai além da educação, envolvendo acusações de sucateamento, contratos questionáveis e uma radicalização sem precedentes.
O estopim da crise: ocupação da Seduc completa 15 dias
A ocupação da Seduc começou como uma estratégia de pressão liderada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará (SINTEPP) e por lideranças indígenas. Os manifestantes exigem a revogação de medidas que, segundo eles, desvalorizam os profissionais da educação e prejudicam o ensino público, especialmente nas comunidades indígenas e rurais. A tática de coincidir a greve com o início do ano letivo, em 27 de janeiro, foi planejada para maximizar o impacto do protesto.
O governo do Pará, no entanto, não reconhece a greve e afirma que o ano letivo começou conforme o planejado. A Seduc destacou que convocou mais de 2.300 novos professores para garantir a continuidade das aulas e reforçou que o estado paga o maior salário médio do país aos docentes, além de oferecer benefícios como vale-alimentação.
Rossieli Soares: o secretário de Educação no centro da polêmica
No centro das críticas está o secretário de Educação do Pará, Rossieli Soares da Silva, ex-ministro da Educação no governo Temer e com passagens pelas pastas no Amazonas e em São Paulo. Rossieli é acusado pelo SINTEPP e por lideranças indígenas de implementar políticas que sucateiam a educação pública e desvalorizam os profissionais, especialmente aqueles que atuam em áreas indígenas e rurais.
Uma das principais acusações envolve o contrato com a Starlink, empresa de satélites de Elon Musk, para fornecer internet às escolas estaduais. Enquanto o governo justifica a medida como necessária para áreas sem cobertura, os críticos questionam a transparência e a eficácia do acordo.
Helder Barbalho e a frágil aliança política que ruiu
A crise também revela a ruptura de uma aliança política que, durante seis anos, manteve o PT e outros partidos de esquerda em harmonia com o governo de Helder Barbalho (MDB). Agora, o SINTEPP, majoritariamente dirigido pelo PSOL e pelo PT, tornou-se um espaço de oposição sistemática ao governo.
Mesmo com o governador afirmando que “não vamos acabar com a educação presencial indígena” e a ministra dos Povos Indígenas pedindo diálogo, os manifestantes continuam firmes em suas reivindicações. A ocupação da Seduc, transmitida ao vivo pelas redes sociais, ganhou apoio nacional e amplificou a pressão por uma solução.
O que está em jogo: 500 mil estudantes e o futuro da educação no Pará
Enquanto o governo garante que o ano letivo começou normalmente e que os salários dos professores estão entre os mais altos do país, os manifestantes insistem que as políticas atuais prejudicam a qualidade do ensino e desrespeitam os direitos dos profissionais e das comunidades indígenas.
Uma reunião marcada para esta terça-feira (28) entre lideranças indígenas e o governador pode ser o primeiro passo para um acordo, mas a desocupação da Seduc ainda parece distante. Enquanto isso, o futuro de 500 mil estudantes e a estabilidade política do Pará permanecem em suspenso.
A crise na educação do Pará é um reflexo de tensões acumuladas que transcendem a esfera local, envolvendo questões políticas, sociais e culturais. Com a ocupação da Seduc completando 15 dias, o impasse entre governo e manifestantes coloca em risco o ano letivo de meio milhão de estudantes e expõe as fragilidades de um sistema educacional sob pressão. Enquanto as redes sociais amplificam as vozes dos protestos, a busca por uma solução parece depender de um diálogo que, até agora, não conseguiu ser estabelecido.