De olho em 2022, Lula já se movimenta para tentar reconquistar eleitorado de centro

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Lula, que não perdeu nada do seu carisma, ainda não se declarou candidato, mas está costurando alianças com dirigentes que lhe deram as costas e adversários tradicionais

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aos 75 anos, tem uma longa lista de vitórias improváveis e poderia somar mais uma: reconquistar o centro político brasileiro para derrotar Jair Bolsonaro em 2022.

Um desafio difícil até mesmo para o líder da esquerda, que quando criança foi engraxate e chegou a ser o presidente mais popular da história do Brasil (2003-2010), antes de ser condenado por denúncias de corrupção que lhe renderam em 2018 um ano e meio de prisão.

Lula, que não perdeu nada do seu carisma, ainda não se declarou candidato, mas está costurando alianças com dirigentes que lhe deram as costas e adversários tradicionais, como seu antecessor social-democrata Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Embora ainda falte muito para as eleições de outubro de 2022, as pesquisas apontam para uma definição entre o fundador do Partido dos Trabalhadores (PT) e o ex-capitão da ultradireita, de 66 anos, no segundo turno.

Isso significa que a batalha pela liderança da maior economia latino-americana seria definida pelo terço do eleitorado resistente a votar em qualquer um dos dois. E para Lula representa recuperar parte da classe média e das elites empresariais que castigaram o PT escolhendo Bolsonaro em 2018.

O ex-líder sindical, que no final dos anos 1970 liderou as greves dos metalúrgicos contra a ditadura militar (1964-85), nunca deu sinais de perder o norte, nem mesmo quando foi condenado pela operação Lava Jato, que investigou um esquema de desvios na Petrobras.

E assim como em 2022, quando chegou à Presidência em sua quarta tentativa, ele quer fazer valer a imagem de moderado.

“Lula é uma criatura versátil que teve idas e voltas nas últimas décadas: da extrema esquerda nos anos 1980 à aliança com os conservadores com um perfil de centro nos anos 2000”, disse o analista político Oliver Stuenkel, da Fundação Getúlio Vargas. “Agora está de novo no modo ‘governo’, posicionando-se claramente como alguém de centro”, acrescentou.

‘Lulinha paz e amor’

Lula recuperou seus direitos políticos em março, quando o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, anulou as condenações contra ele por considerar incompetente a 13ª Vara Federal de Curitiba, que havia proferido a sentença, para julgá-lo.

Rapidamente, voltou à cena política em tom de campanha, criticando duramente Bolsonaro, cuja popularidade vem derretendo por causa da gestão da pandemia, que já deixou mais de 450 mil mortos e 14 milhões de desempregados. “Não tenham medo de mim. Eu sou radical porque quero chegar à raiz dos problemas neste país”, ironizou Lula, em resposta a seus críticos.

Em visita de cinco dias a Brasília, ele se reuniu este mês com políticos e diplomatas. De volta a São Paulo, almoçou com Fernando Henrique Cardoso, que o derrotou em duas eleições presidenciais antes de lhe passar a faixa. Lula publicou uma foto dos dois usando máscaras e saudando-se com um toque de punhos.

“O que ele está começando a fazer é o que se faz na política: começando as costuras para ver as possibilidades, conversando com os partidos, sentindo qual é a demanda de cada um”, disse ao jornal Valor o senador Jaques Wagner (PT-BA). Até agora parece estar se saindo bem.

“No que diz respeito às elites políticas, já temos resultados imediatos. Essa sinalização do Lula foi recepcionada por líderes de vários partidos – PSD, MDB e mesmo por lideranças de partidos menores -, que deram declarações relativamente elogiosas, ou pelo menos cordiais, a Lula”, disse Mayra Goulart, professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Seu tom se assemelha ao de 2002, quando disse que o “Lulinha quer paz e amor”. De fato, seu governo teve um tom moderado, misturando políticas pró-mercado com programas para combater a pobreza. Quando transmitiu a Presidência à sua sucessora, Dilma Rousseff, sua popularidade beirava os 80%.

Alguém na terceira via?

Muitos eleitores queriam uma alternativa de centro, que parece pouco provável. As pesquisas indicam que 30% poderiam se abster ou votar em branco ou nulo, como em 2018; e que Bolsonaro e Lula teriam 25% dos votos cada um.

“Qualquer candidato de centro terá muitas dificuldades para chegar a um segundo turno”, concluiu a consultoria Eurasia Group. Aspirantes não faltam: governadores, empresários, o apresentador de TV Luciano Huck, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e até o ex-juiz Sérgio Moro, que mandou Lula para a prisão, aparecem na lista.

Mas nenhum tem uma projeção nacional em um país de dimensões continentais e 212 milhões de habitantes. Enquanto isso, Lula continua articulando sua volta também no exterior, tomando como referência o presidente americano, Joe Biden, que derrotou Donald Trump, o modelo de Bolsonaro, e dando entrevistas a veículos nas Américas e na Europa.

AFP

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