Deus, diabo e os milicos

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Me apontem no momento presente qual é o milico de qualquer das tais ‘Forças’ que está em evidência conclamando ao entendimento, ao humanismo, a civilidade?

Que me perdoem crédulos e incrédulos mas, a essa altura, sinceramente, a gente já não sabe quando é Deus que manda as coisas e quando é o diabo. Um Deus e um diabo que já andaram juntos e se estranharam apartados na Terra do Sol e não só aquela do cinema novo.

Talvez eu afirme isso por conta desse estranho apego de muitos brasileiros às Forças Armadas (de almas mais que armadas), como se elas fossem acima de tudo instituições dignas do maior respeito e com relevantes serviços prestados ao Brasil – o que, evidentemente, não é o caso. Para essa gente crédula, quem nos mandou essas Forças Armadas foi Deus, enquanto a maioria quer que elas vão para o diabo que as carregue.

Eu cresci sob a triste égide da ditadura militar de 1964-1985 que calou, torturou, perseguiu, exilou e prendeu milhares de opositores; que submeteu a imprensa a censura prévia e a autocensura jogando no inconsciente coletivo informações que eram, as Forças Armadas, as instituições mais sérias e incorruptíveis do país. Hoje se vê que eram exatamente o contrário e meteram a mão a valer, já que não havia quem os interditasse. Mas passaram a tal imagem ilibada que foi sem nunca ter sido.

Agora, quando todos pensávamos que estavam recolhidos a insignificância, voltam a tona ávidos por poder, cargos, excelentes salários e mordomias incensados por um capitão canastrão que conseguiu ser execrado pelo próprio exército – que hoje em sua maioria o adula. O pior do pior está no comando e eles se organizam com avidez para deixar tudo do jeito que está. Tanto que acabam de encomendar uma pesquisa para saber de fato como anda a “imagem” deles perante os brasileiros.

A minha geração na época da ditadura aprendeu a detestar os militares por seus inúmeros desserviços e truculência. O tempo passou na janela, o Brasil mudou e deu a impressão que eles estavam na miúda, fazendo educação física ou caiando pé de árvore e sarjeta. Por isso, eu até acreditei que tinham entendido qual era o lugar deles e os vi com certa condescendência, apesar de achar um disparate que não tenham sido julgados pelos absurdos que cometeram entre 1964 e 1985.

Eis aí que os brasileiros elegem o pior governo de nossa história (e olha que isso não é fácil diante de tantos governos ruins) e os fardados voltam com força e prestígio aprontando no governo Bolsonaro. É uma atrás da outra, como agora esse parvo vice, o Mourão, que vai a Angola com o único intuito de livrar a cara da Igreja Universal. Tudo isso e mais um pouco me fez voltar a ter asco absoluto dessa malta de obtusos despreparados para viver numa democracia com representantes patéticos, como o citado Mourão e o tal Heleno que é a fina flor da mediocridade não só militar mas humana.

Muitos já disseram que é mais do que hora de duvidar da “sólida” formação dos nossos milicos (inclusive o capitão Bozo) em instituições como a Academia Militar das Agulhas Negras. Se isso é a “elite” da inteligência milica, o que será o baixo clero? Os moderados devem argumentar: é perigoso generalizar. Posso até concordar. Mas me apontem no momento presente qual é o milico de qualquer das tais “Forças” que está em evidência conclamando ao entendimento, ao humanismo, a civilidade? No triste Brasil pós tropicalista e cinema novista Deus e o Diabo seguem lutando na terra do sol. (por Ricardo Soares)

VOZ DO PARÁ: Essencial todo dia!

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