Relatório da HRW e visita da CIDH levam milhares às ruas para protestar
Milhares de pessoas voltaram a protestar contra o presidente Iván Duque na quarta-feira (9) na Colômbia, durante uma visita extraordinária da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que avalia a situação no país mais de um mês após o início da crise, que já deixou dezenas de mortos e milhares de feridos.
Pouco antes, a ONG Human Rights Watch (HRW) denunciou o que chamou de “abusos gravíssimos” cometidos pela polícia colombiana, que acusa de estar supostamente envolvida em 20 homicídios em meio aos protestos antigovernamentais que eclodiram em 28 de abril. Em relatório, a organização especificou que 16 das vítimas foram baleadas por agentes com a intenção de “matar”.
O governo “deve tomar medidas urgentes para proteger os direitos humanos e iniciar uma reforma policial profunda para garantir que os policiais respeitem o direito de reunião pacífica e os responsáveis por abusos sejam levados à justiça”, disse a HRW em um relatório sobre os excessos que serão apresentados hoje ao presidente Iván Duque. Os ataques “não são incidentes isolados por agentes indisciplinados, mas o resultado de falhas estruturais profundas”, acrescentou o relatório.
O diretor para as Américas da ONG, José Miguel Vivanco, assegurou em entrevista coletiva virtual ter recebido “relatos confiáveis” de 34 mortes no contexto das manifestações, das quais 20 aparentemente ocorreram nas mãos da polícia, 16 por balas destinadas a “órgãos vitais”. “As autópsias sugerem que os oficiais atiraram para matar”, disse Vivanco. “As autópsias sugerem que os oficiais atiraram para matar”, afirmou.
A HRW elogiou a iniciativa de Duque de reformar o corpo policial, mas considerou que algumas medidas são “cosméticas”, pois não apontam para uma transformação fundamental. A organização recomendou a transferência da polícia do Ministério da Defesa para o Ministério do Interior ou para um novo Ministério da Segurança, como é o caso em outros países latino-americanos. “A polícia continua agindo com uma cultura de conflito armado, com uma doutrina do inimigo interno, com procedimentos que não são exatamente próximos aos cidadãos”, explicou Vivanco.
Insatisfação generalizada
“Precisamos de oportunidades, de que a educação e a saúde sejam direitos, e não privilégios”, disse a estudante Sofía Perico, de 15 anos, que protestou com a família em frente ao hotel de Bogotá onde estavam membros da comissão, em visita ao país até esta quinta.
Em Bogotá, um grupo de indígenas tentou derrubar as estátuas de Cristóvão Colombo e da rainha Isabel “La Católica”, localizadas em uma avenida que leva ao aeroporto El Dorado, em uma expressão simbólica que tem ocorrido nos protestos. “Estamos aqui hoje para denunciar esses crimes contra a humanidade cometidos há mais de 500 anos, que continuam a ser cometidos, as formas de governar e reprimir o povo continuam as mesmas”, disse o indígena Édgar Velasco, 36 anos, que protestava junto a monumentos já isolados pelas forças de segurança.
Para o diretor regional da HRW, Duque tem sido “lento e não correspondeu à necessidade de condenar em termos inequívocos as gravíssimas violações dos direitos humanos” por parte dos militares. Insistir que se trata de “maçãs podres” é “um erro” e um “esforço para minimizar” que “não ajuda a promover uma reforma fundamental” na força pública, enfatizou Vivanco.
Pediu também a apresentação de provas da responsabilidade dos dissidentes das Farc e dos guerrilheiros do ELN nos excessos, já que esta afirmação do governo gera “mais indignação nos que protestam”, “os estigmatiza” e envia “a mensagem errada” à força pública de que estariam “enfrentando um inimigo perigoso”.
Os protestos começaram no dia 28 de abril contra um aumento nos impostos, algo já arquivado, e se transformou em um movimento de manifestações diárias marcadas por dias mais cheios que outros, bloqueios em estradas e confrontos violentos entre civis e a força pública.
Com um conflito armado de mais de meio século, a Colômbia enfrenta um movimento de protesto sem precedentes, formado em sua maioria por jovens que exigem uma mudança de direção do governo, uma reforma da polícia e um Estado mais solidário para administrar a devastação econômica causada pela pandemia, que aumentou a pobreza de 37% para 42% da população.
AFP
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