Mercado reage negativamente ao pacote fiscal e à isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil, e política monetária do Banco Central é criticada por falta de intervenção
O dólar ultrapassa a marca histórica de R$ 6,00
O dólar à vista alcançou um patamar histórico nesta quinta-feira (28), ultrapassando pela primeira vez a marca de R$ 6,00. A moeda norte-americana foi cotada a R$ 6,0004 durante o início das negociações, refletindo a reação negativa do mercado às recentes medidas econômicas anunciadas pelo governo. O aumento expressivo do dólar ocorre após o governo federal divulgar um pacote de contenção de gastos acompanhado de uma reforma do Imposto de Renda (IR), que gerou apreensão nos investidores.
Às 11h30, a cotação do dólar à vista subia 1,33%, chegando a R$ 5,9930, com o mercado em alerta. Já na B3, o contrato futuro de dólar de primeiro vencimento avançava 0,50%, cotado a R$ 5,989. A alta do dólar ocorre em um cenário de crescente desconfiança no mercado financeiro, que reagiu com nervosismo às mudanças propostas pelo governo.
Reforma do Imposto de Renda e o impacto econômico
A reforma do Imposto de Renda foi anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na noite de quarta-feira (27), após o fechamento dos mercados. A medida prevê a ampliação da faixa de isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil mensais, o que foi interpretado por muitos como uma tentativa do governo de aliviar a carga tributária para a população de menor renda. No entanto, o pacote também traz medidas de ajuste fiscal que implicam em uma série de cortes e limitações para equilibrar as contas públicas.
O pacote de contenção de gastos, que pode gerar uma economia de R$ 71,9 bilhões nos próximos dois anos, foi um dos principais fatores que alimentou a desconfiança do mercado. Apesar da tentativa de aliviar a carga tributária para os mais pobres, o aumento da carga sobre as classes mais altas e a necessidade de cortar gastos do governo acabaram criando incertezas sobre a sustentabilidade fiscal do país.
Reação negativa do mercado e críticas à política monetária
A reação do mercado à reforma foi imediata, com o dólar disparando logo após o anúncio. A alta da moeda americana reflete o temor dos investidores em relação à possível instabilidade econômica gerada pelas mudanças fiscais, especialmente pela falta de uma intervenção mais enérgica do Banco Central para controlar a volatilidade da moeda.
Gleisi critica inação do BC para conter disparada do dólar: ‘crime contra o país’
A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, foi uma das vozes que criticaram a postura do Banco Central diante da disparada do dólar. Gleisi usou as redes sociais para acusar a autoridade monetária, comandada por Roberto Campos Neto, de não ter tomado medidas adequadas para conter a especulação cambial. “O BC de Campos Neto não fez nada para conter a especulação desencadeada desde ontem que já levou o dólar a R$ 6. Era obrigação da ‘autoridade monetária’ intervir no mercado contra a especulação desde seu previsível início”, afirmou a deputada.
Para Gleisi, a falta de ação do Banco Central é um “crime contra o país”, já que existem instrumentos como leilões de swap cambial e depósitos à vista que poderiam ter sido utilizados para amenizar a pressão sobre o dólar. A crítica revela a polarização política sobre a condução da política econômica e monetária no país, com a oposição pedindo mais ação do BC para conter a alta da moeda.
Expectativas para o futuro
A alta do dólar a R$ 6,00 é um reflexo das incertezas que ainda marcam a economia brasileira. Com a reforma do Imposto de Renda e o pacote de ajuste fiscal, o governo tenta equilibrar as contas públicas, mas a falta de confiança dos investidores nas medidas propostas, especialmente em um contexto de inação do Banco Central, deixa no ar um clima de instabilidade no mercado.
A expectativa é que, nos próximos dias, o dólar continue a ser um termômetro da reação do mercado às medidas econômicas do governo. A dúvida que permanece é se o governo conseguirá conter os impactos da reforma do IR e o ajuste fiscal sobre o câmbio, ou se novas intervenções do Banco Central serão necessárias para estabilizar a moeda.
Se o dólar vai a R$ 6,00, é sinal de que a economia também está dando ‘um salto’, mas em direção ao abismo, não é?