Em depoimento, médica Nise Yamaguchi desvia de respostas e irrita senadores

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Em depoimento à CPI, o diretor da Anvisa, Antonio Barra Torres, disse que, numa reunião com o governo federal, a pesquisadora defendeu alterar a bula da cloroquina

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 abriu a sessão em que ouve a médica Nise Yamaguchi. Defensora do uso de medicamentos sem a eficácia comprovada para o tratamento da Covid-19, a médica em sido inquirida pelos integrantes da comissão sobre a existência e a sua possível participação em um “ministério paralelo” ao da Saúde, à imunidade de rebanho e ao tratamento precoce com o uso da cloroquina.

Em sua fala inicial no depoimento, a médica Nise Yamaguchi tentou desvencilhar sua imagem de proximidade com o governo Bolsonaro, afirmou que é uma “colaboradora eventual” de “qualquer” gestão que precisar de sua opinião médica. “Também não sou chamada para discussões técnicas da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). Sou colaboradora eventual de qualquer governo que precisar de mim, do Brasil e do mundo”, disse ela, emendando ainda não ter “nenhum partido político”.

No entanto, Nise admitiu que esteve “algumas vezes” na Secretaria da Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde para discutir se era o caso da Conitec avaliar a orientação sobre o uso da cloroquina em pacientes com Covid-19. Segundo ela, no entanto, o que se concluiu à época é que o melhor fórum para esse debate seria o Conselho Federal de Medicina (CFM).

“Então estive no conselho e saímos com nota técnica. Avisei Barra Torres (presidente da Anvisa) que não haveria necessidade de se estabelecer discussão a mais, mas que poderia seguir com autonomia do médico”, afirmou ela aos senadores.

A médica ainda citou um almoço na Presidência da República, com “diversas pessoas”, onde falou sobre a “importância do tratamento precoce inicial”. Nise disse que nunca teve encontros privados com o presidente Jair Bolsonaro.

“Inimigo comum é o vírus e a mortalidade. Não estou aqui para defender um governo e sim o povo brasileiro”, afirmou Nise, que citou ainda experiências profissionais no setor público e colaboração no governo Lula. A médica disse também que tem à disposição artigos científicos que embasam o uso da hidroxicloroquina e da ivermectina em pacientes com Covid-19.

Gabinete paralelo

Segundo o vice-presidente do colegiado, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB), no primeiro mês de trabalho do grupo já foram recolhidos provas suficientes sobre a existência do grupo seria formado por aliados do presidente Jair Bolsonaro que o aconselhavam em questões referentes à pandemia.

Oncologista e imunologista, além de diretora do Instituto Avanços em Medicina, de São Paulo, ela defende o chamado “tratamento precoce” para a Covid-19. O depoimento da médica atende a pedido do senador Eduardo Girão (Podemos-CE).

No requerimento, o parlamentar lembra que, em depoimento à CPI, o diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, disse que, numa reunião com o governo federal, a pesquisadora defendeu alterar a bula da cloroquina. Sua intenção, segundo Barra Torres, seria definir o medicamento como eficaz contra o coronavírus. Barra Torres deixou clara sua recusa ao procedimento.

“Yamaguchi é conhecida por defender a hidroxicloroquina e a cloroquina no tratamento de pacientes infectados com o Sars-Cov-2 (vírus causador da pandemia). E foi convidada pelo presidente Jair Bolsonaro a integrar o comitê de crise ainda na gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta”, cita Girão em seu requerimento.

O depoimento da médica também atende a pedido do senador Marcos Rogério (DEM-RO). Para ele, a audiência “será de importância singular para que [a pesquisadora] exponha sua atuação e conhecimentos, com o objetivo único de restabelecer a verdade, oferendo informações transparentes e esclarecedoras. Tem muito a colaborar”, finaliza o senador no requerimento.

Ouvido pela CPI em 11 de maior, Barra Torres explicou que a alteração da indicação da cloroquina seria impossível, pois só quem pode modificar uma bula de um medicamento registrado é a agência reguladora do país de origem, desde que solicitado pelo detentor do registro.

“Agora, eu não tenho a informação de quem é o autor, quem foi que criou, quem teve a ideia. A doutora [Nise Yamaguchi], de fato, perguntou sobre essa possibilidade e pareceu estar, digamos, mobilizada com essa possibilidade”, esclareceu.

Na última quinta-feira (27/05), o relator da CPI, senador Renan Calheiro (MDB-AL), afirmou que a comissão investiga a existência de uma consultoria informal ao governo a favor de métodos considerados ineficazes de enfrentamento à pandemia.

“Não estamos apenas discutindo a eficácia da cloroquina ou do ‘tratamento precoce’. Queremos investigar se essas coisas foram priorizadas em detrimento da vacinação dos brasileiros. E isso poderia ter salvado muitas vidas”, definiu, opinando que o governo não comprou vacinas suficientes por não acreditar em sua eficácia.

A CPI também ouvirá críticos da cloroquina, como a microbiologista e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), Natalia Pasternak, e o doutor em virologia Átila Iamarino.

Acompanhe a CPI

Novas convocações

O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid senador Omar Aziz (PSD-AM), marcou para esta quarta-feira (2) o depoimento da médica infectologista Luana Araújo, ex-secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19. O data estava prevista antes para a audiência de especialistas a favor e contra o uso de medicamentos sem a eficácia comprovada para o tratamento da covid.

A mudança na pauta não agradou aos membros governistas do colegiado. O senador Marcos Rogério (DEM-RO), que já havia reclamado da convocação de autoridades para falar sobre a realização da Copa América no Brasil, dizendo que fatos que “vão acontecer” tornavam a CPI ilegal. Ele reclamou também da falta de “previsibilidade” nos trabalhos da comissão e das “reiteradas” mudanças de pauta.

Aziz rebateu Rogério afirmando que o entendimento da Mesa é de que não faz parte dos trabalhos da CPI a realização de Audiência Pública. Para Aziz, quem tem que discutir se a cloroquina é boa ou não é a ciência, e não a CPI.

Aziz se desculpou com os especialistas que tinham sido convidados a falar nesta quarta-feira, mas justificou que a decisão foi baseada no tempo. “Nós queremos terminar a CPI em 90 dias, nós não queremos prorrogar a CPI”, afirmou. Aziz concluiu sua fala dizendo que “com certeza absoluta”, a depoente de hoje, a médica oncologista Nise Yamaguchi, “dará um show defendendo a cloroquina aqui muito mais do que qualquer outro especialista”, afirmou.

O presidente do colegiado aproveitou para comentar sobre as mudanças na pauta e as discussões que envolvem convocações. Segundo Aziz, na tentativa de ter “um bom relacionamento” com os membros da comissão, ele tem tentado apresentar a pauta das votações 48h antes, mas devido a dinâmica das investigações, ele não vê a necessidade de pautar requerimento de senadores dois dias antes para votar. “O erro não foi na quarta-feira passada a convocação de governadores, foi quando se apensou, lá atrás, o requerimento do senador Eduardo Girão que é muito claro em investigar” afirmou o Aziz dizendo que as reclamações referentes ao requerimentos deveriam ter sido feitas “lá atrás”.

Fábio Wanjgarten

“Vamos reconvocar o senhor Fábio Wanjgarten à CPI da Covid. Percebemos que a comunicação do governo foi para promover a expansão do contágio e estamos colhendo os frutos mais fúnebres. Vivemos a terceira onda por causa da sandice deste trabalho. Precisamos de mais esclarecimentos!”.

A frase é senador e membro da CPI da Covid, Rogério Carvalho (PT-SE), em publicação no Twitter, sobre a reconvocação do ex-secretário de Comunicação da Presidência da República Fabio Wajngarten, à comissão. Carvalho apresentou o pedido à sessão desta terça-feira.

Agência Senado

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