Esquerda de ruptura e esquerda de coalizão

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Comentário sobre o artigo de Mathias Alencastro

O artigo de Mathias Alencastro publicado na edição impressa do jornal Folha de S. Paulo, saudando a chapa Lula-Alckmin, é – para usar a expressão de E. P. Thompson – “um planetário de erros”.

Ele parte da dicotomia entre uma “esquerda de ruptura” e uma “esquerda de coalizão”. A primeira seria inspirada nas teorias de Ernesto Laclau e teria o Podemos como maior ícone. A segunda teria surgido em oposição a ela.

Parece que a história da esquerda começa por volta de 2010. A possibilidade de uma esquerda classista é simplesmente apagada. A longa trajetória da social-democracia desaparece e vira uma reação ao “radicalismo” de Pablo Iglesias ou Jean-Luc Mélenchon.

Die Linke alemão é apresentado como “predecessor do Podemos“, o que é completamente desprovido de sentido. O artigo chega afirmar que o Die Linke “nem conseguiu entrar no parlamento”, o que é factualmente errado – ele não alcançou a cláusula de barreira, mas garantiu ainda assim 39 cadeiras, graças às peculiaridades do sistema eleitoral alemão.

O artigo trata a democracia como abstração, logo é incapaz de se interrogar sobre as dinâmicas da desdemocratização; reduz “esquerda” a um rótulo desprovido de conteúdo; aplaina as diferenças entre o Norte e o Sul globais. Inclui alegremente Alckmin entre “os democratas”, apagando o golpe de 2016 e a Lava Jato de nossa história.

Ele é significativo sobretudo pelo uso típico do adjetivo “republicano” – o ensopado com chuchu seria nada menos que “uma revolução republicana”.

“Republicano” é, em muitos discursos, o eufemismo para acomodação e capitulação. É “republicana” a esquerda que abre mão de seu programa – e a direita que aceita a existência da esquerda, desde que assim, diluída e inofensiva.

Na verdade, os valores republicanos se afirmam quando é possível que todos os interesses sociais participem da disputa política, nas condições mais igualitárias possíveis, sem a imposição de vetos.

Para chegarmos lá, precisamos de uma esquerda disposta a enfrentamentos.

PS.: E o texto ainda sai no dia em que comemoramos a vitória, no Chile, de uma esquerda que ilustra tudo o que o articulista diz que está condenado ao fracasso. Péssimo timing!

Por LUÍS FELIPE MIGUEL | a Terra é Redonda

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