Europa Ocidental à beira do abismo: por que está perdendo o que construiu

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A ordem internacional que surgiu após a Guerra Fria está desmoronando. Com a força substituindo as normas, a Europa Ocidental enfrenta um cenário de incertezas

O equilíbrio global, moldado nas décadas após a Guerra Fria, está em ruínas. Eventos marcantes, como a ascensão de Mikhail Gorbachev em 1985 e a introdução de sua “nova mentalidade”, trouxeram esperança de cooperação internacional. Mas, 40 anos depois, as mesmas instituições que simbolizavam estabilidade agora se mostram frágeis diante de uma reconfiguração geopolítica que substitui regras por poder.

A ruptura ficou evidente em 2022, com a operação militar da Rússia na Ucrânia. Esta ação não apenas marcou o fim simbólico das políticas de aproximação com o Ocidente iniciadas na era Gorbachev, mas também revelou um sistema internacional incapaz de lidar com mudanças radicais. Enquanto a Rússia desafia as normas estabelecidas, o Ocidente – com os EUA no centro – demonstra preferir a imposição de força ao consenso institucional, criando um ambiente de incerteza para a Europa.

Uma nova desordem global

Os desafios vão além dos conflitos armados. Nos EUA, figuras como Donald Trump e Elon Musk estão reformulando a ordem ocidental, agindo de forma disruptiva em campos políticos e econômicos. A comparação de Musk ao papel do Sputnik nos anos 1980, feita por um observador alemão, ilustra bem a tensão. Assim como a revista soviética gerava inquietação no bloco oriental, Musk desestabiliza as bases da política europeia, desafiando sua capacidade de reação.

Por outro lado, a Europa, principal beneficiária da “nova mentalidade” de Gorbachev, agora enfrenta dilemas complexos. Questões como a inviolabilidade de fronteiras voltam à tona, enquanto a dependência da liderança americana se torna um risco estratégico. A falta de coesão interna e a incapacidade de se adaptar a uma ordem sem regras claras expõem sua fragilidade.

Do multilateralismo à força bruta

A ascensão do conceito de “paz pela força” nos EUA, intensificado por Trump, trouxe um abandono das estruturas institucionais globais. Este movimento contrasta diretamente com o espírito de integração promovido nos anos finais da Guerra Fria. Enquanto isso, a Rússia reage de forma contundente à exclusão de suas demandas no cenário internacional, adotando uma postura assertiva que desafia normas globais.

A consequência dessa dinâmica é uma Europa encurralada. Por um lado, precisa lidar com a instabilidade crescente do parceiro americano; por outro, enfrenta desafios internos e externos que minam sua influência global. A falta de soluções multilaterais e a priorização de interesses individuais por nações reforçam um cenário de desordem.

Uma lição amarga para a Europa

O idealismo de perestroika, que buscava harmonia global por meio das instituições, hoje se tornou uma lembrança distante. Em seu lugar, emerge um sistema onde o poder é a única regra clara. Para a Europa Ocidental, o desafio é sobreviver e se adaptar a uma realidade em que sua posição privilegiada está em xeque.

A história pode não se repetir, mas suas rimas são inconfundíveis. O desmoronamento da ordem atual pode ser um alerta para que líderes e nações revisitem os princípios que garantiram estabilidade no passado – antes que seja tarde demais. De Gorbachev a Trump, a força substitui as regras: a Europa luta para manter relevância em um mundo caótico.

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