Folha e Estadão defendem o golpe de estado contra Dilma em editorial com informações falsas

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O jornais Folha de S. Paulo e Estadão foram pilares do processo golpista de 2016

A imprensa brasileira tem desempenhado um papel histórico complexo nas relações políticas e econômicas internacionais, com alguns observadores apontando para um padrão de desalinhamento dos interesses do Brasil em favor de agendas internacionais, notadamente dos Estados Unidos. Esse papel muitas vezes se manifesta por meio de grandes veículos de comunicação, que têm sido acusados de minar os interesses do país, promovendo a desindustrialização e interferindo nas dinâmicas políticas de países vizinhos.

Nos últimos anos, notou-se uma recorrente defesa da desindustrialização do Brasil por parte dos principais jornais do país, frequentemente referidos como “jornalões”. A promoção dessa perspectiva levanta preocupações sobre a autonomia econômica do Brasil, com alguns argumentando que essa abordagem pode enfraquecer setores estratégicos da economia e aumentar a dependência de importações, em detrimento da produção nacional.

Além disso, ao examinar as derrubadas de presidentes e líderes na América Latina, surge um padrão intrigante de instabilidade política, muitas vezes associado a interferências externas, visando a manutenção de influência neocolonial por grandes potências no período pós-guerra e Guerra Fria. O apoio de alguns setores da imprensa brasileira a esses eventos tem gerado debates sobre sua influência nas questões internas desses países e sobre até que ponto essa influência está alinhada com os interesses nacionais.

Recentemente, um editorial do jornal Estado de S. Paulo gerou controvérsia ao defender o golpe de estado de 2016 no Brasil, que resultou no afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff. Esse episódio, marcado por acusações de que não houve crime de responsabilidade, levanta questionamentos sobre o papel da imprensa em moldar percepções públicas e políticas. Enquanto o editorial sustentava a legalidade do processo, críticos argumentavam que a base da remoção de Rousseff era questionável, sendo motivada por uma agenda econômica liberal.

Ademais, a análise de casos como esse traz à tona questões sobre a responsabilidade da imprensa em conduzir a autocrítica e reavaliar seu papel nas tomadas de decisão políticas. O debate político acerca da anulação das decisões relacionadas ao golpe tem sido fomentado por atores políticos, como o Partido dos Trabalhadores (PT), que busca uma “reparação histórica” diante dos eventos ocorridos.

Em um cenário mais amplo, a imprensa tem o desafio de equilibrar a divulgação de informações precisas e imparciais com seu papel na formação da opinião pública. A influência da imprensa na política externa e nas dinâmicas internacionais continuará a ser um tópico relevante e debatido, à medida que os meios de comunicação continuam a moldar percepções e influenciar agendas políticas tanto a nível nacional quanto internacional.

FOLHA DE SÃO PAULO

O jornal Folha de S. Paulo, que foi também um dos pilares do processo golpista de 2016, publica editorial nesta terça-feira 29 para negar a verdade histórica e sustentar que a destituição ilegal da ex-presidente Dilma Rousseff teria ocorrido dentro da normalidade. Como se sabe, Dilma foi afastada a partir de uma narrativa falsa, a das “pedaladas fiscais”, para que fosse aplicado um choque neoliberal na economia brasileira, que não tinha base popular para se viabilizar eleitoralmente.
No texto, o jornal praticamente admite que não houve crime de responsabilidade e atribui sua queda a uma recessão econômica – o que não seria crime de responsabilidade – mas que, ainda assim não foi provocada por ela.“Não foi a tecnicalidade das pedaladas fiscais, de resto uma prática ofensiva ao Orçamento, que de fato derrubou Dilma Rousseff. Ela caiu porque a sua política econômica produziu recessão monstruosa no país. O PIB recuou 3,6% em 2015 e outros 3,3% no ano seguinte”, escreve o editorialista da Folha.

Ocorre que são informações falsas. No fim de 2014, o Brasil havia alcançado a menor taxa de desemprego de sua história. A recessão de 2015 foi causada sobretudo pela Lava Jato, que paralisou milhares de obras e quebrou todo o setor de engenharia no Brasil, assim como pelo processo golpista, que paralisou o Congresso Nacional e trouxe as pautas-bomba do então deputado Eduardo Cunha. Dilma deixou o cargo em 12 de maio de 2016 e a recessão daquele ano já pode ser atribuída ao choque neoliberal de Michel Temer e Henrique Meirelles. Portanto, ainda que uma recessão fosse causa para um processo golpista, ela jamais poderia ser atribuída à ex-presidente.

O editorial da Folha também aponta outro motivo para o golpe de estado. “Nesse solo que se esfacelava, a inapetência parlamentar da presidente —incapaz de sustentar com a poderosa máquina federal um terço de apoio na Câmara dos Deputados— serviu de pá de cal”, acrescenta.

Tal argumento é mais uma prova de que houve um golpe de estado, uma vez que o Brasil não é parlamentarista e um Congresso conservador não tem a liberdade de afastar um governo popular sem que haja um crime de responsabilidade – o que a Folha não aponta em seu editorial.
No fim, a Folha afirma que “quem merece reparação pelos erros da gestão Dilma é o trabalhador brasileiro”. Ocorre que desde o golpe de estado de 2016, o Brasil jamais voltou a conhecer uma taxa de desemprego tão baixa como a que foi alcançada no governo Dilma. Além disso, após o golpe, os trabalhadores perderam direitos trabalhistas e previdenciários e a prova de que jamais foram gratos aos golpistas é o destino político de figuras como Michel Temer e Aécio Neves.

ESTADO DE SÃO PAULO

O jornal Estado de S. Paulo publicou um editorial nesta terça-feira 29, em que defende o golpe de estado de 2016 contra a ex-presidente Dilma Rousseff, que foi afastada da presidência da República sem crime de responsabilidade. O objetivo dos golpistas era promover um choque neoliberal na economia brasileira e facilitar o saque de riquezas estatais.

“O presidente Lula acha que o Brasil deve desculpas e reparações a Dilma Rousseff”, escreve o editorialista. “No processo de impeachment de Dilma Rousseff, não houve nenhum golpe”, acrescenta o jornal, acusando ainda o presidente Lula de “pedalada moral”.

Tal editorial deixa claro que o jornal não fará autocrítica por ter defendido a quebra da ordem democrática no Brasil. Entretanto, o Partido dos Trabalhadores (PT) apresentou um projeto de resolução no Congresso Nacional pedindo a anulação de todas as decisões relacionadas ao golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff em 2016. O documento solicita a revogação tanto da decisão do Senado quanto das sessões da Câmara que aprovaram a derrubada de Dilma. Embora o PT não busque a restauração do mandato de Dilma, o partido chama o ato de uma “reparação histórica”.

“Por óbvio, não se poderá retornar ao passado e reconstituir um mandato já violentado pelo estratagema político e pelo tempo. Todavia, torna-se um dever do Congresso Nacional, compromissado com a memória nacional e não apegado aos seus eventuais erros, promover reparação histórica quanto à retirada furtiva e desarrazoada do mandato presidencial de Dilma Vana Rousseff”, diz o documento.

Em uma viagem a Angola, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já havia expressado seu desejo de fazer uma reparação à ex-presidente. O projeto cita a decisão do TRF-1 deste mês, que inocenta Dilma no caso das “pedaladas fiscais”.
Em abril de 2016, o relatório favorável à derrubada ilegal de Dilma Rousseff foi aprovado pela Câmara dos Deputados, com 367 votos a favor e 137 contra. Seu governo foi acusado de cometer “pedaladas fiscais”. O processo seguiu para o Senado, onde também foi aprovado, levando à remoção da presidente. O vice-presidente Michel Temer assumiu o cargo. Em agosto de 2016, o Senado finalizou o processo, cassando o mandato de Dilma com 61 votos a 20.

No entanto, o Ministério Público Federal arquivou o caso em fevereiro de 2022, citando falta de provas. Ainda em 2016, a então presidente foi inocentada por uma perícia do Senado. O laudo técnico mostrou que, “pela análise dos dados, dos documentos e das informações relativos ao Plano Safra, não foi identificado ato comissivo da Exma. Sra. Presidente da República que tenha contribuído direta ou imediatamente para que ocorressem os atrasos nos pagamentos“.

Atualmente, Dilma preside o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB na sigla em inglês), instituição conhecida como o Banco do Brics (bloco econômico composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

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