“Aqui não é colônia francesa”: Governo e indústria reagem ao protecionismo
Os frigoríficos brasileiros JBS, Marfrig e Masterboi decidiram suspender o fornecimento de carne para mais de 150 lojas do Grupo Carrefour Brasil. A decisão é uma resposta ao posicionamento do CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, que anunciou a suspensão da compra de carne do Mercosul para abastecer supermercados na França. O protesto, que já afeta redes como Carrefour, Atacadão e Sam’s Club, ameaça levar ao desabastecimento total em até três dias, de acordo com fontes do setor.
A medida interrompeu a entrega de cerca de 50 caminhões de carne, causando um impacto direto nas gôndolas: estima-se que 30% a 40% dos estoques de carne em algumas lojas do Carrefour já estejam zerados. A JBS, maior fornecedora da rede, responde por 80% da carne comercializada no Carrefour e por todo o volume vendido no Atacadão. Apesar da gravidade, o Carrefour Brasil nega que exista risco de desabastecimento.
Contexto do Conflito: Declarações de CEO Francês
A suspensão do fornecimento foi motivada pelas declarações de Bompard, que afirmou que a decisão de suspender as compras do Mercosul busca atender à insatisfação dos agricultores franceses. O movimento ocorre em meio a tensões relacionadas ao acordo de livre-comércio entre União Europeia e Mercosul. Apesar de a França ter importado apenas 40 toneladas de carne bovina brasileira entre janeiro e outubro deste ano, a decisão provocou reações enérgicas no Brasil.
Governo e Agronegócio Reagem
O governo brasileiro demonstrou apoio imediato ao boicote dos frigoríficos. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, elogiou a postura do setor, afirmando: “Aqui não é colônia francesa. Se não podemos vender lá, também não vamos vender aqui. Eles têm o apoio do governo.” Líderes do agronegócio, como Pedro Lupion, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, reforçaram o protesto, ao lado de seis entidades do setor. Em carta oficial, as entidades declararam: “Se o Mercosul não é fornecedor à altura do mercado francês, também não serve para abastecer o Carrefour em nenhum outro país.”
Retratação Exigida
A retomada das entregas está condicionada a uma retratação pública do Carrefour global, conforme informado por fontes próximas ao setor. A principal queixa dos frigoríficos vai além do boicote e inclui insinuações de que a carne brasileira apresentaria problemas de qualidade e sanidade. Até o momento, o Carrefour não cedeu às pressões, enquanto o impasse ameaça prolongar o desabastecimento.
O episódio expõe tensões entre políticas protecionistas globais e o comércio brasileiro, colocando em evidência o poder de barganha do setor agroindustrial nacional. Enquanto isso, os desdobramentos seguem sendo observados de perto, com possíveis implicações comerciais e diplomáticas.
Se o Carrefour quis fazer churrasco sem carne brasileira, agora vai ter que se virar com salada de alface francesa.