Guerra – Rubem Braga – Com gabarito

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
4 de setembro de 1939

               Rubem Braga

Lei Rubem Braga completa 30 anos no ocaso - Século Diário

Nestes dias em que a guerra começa, ando eu mergulhado no trabalho de traduzir, para o José Olympio, um livro de Cronin, o autor de A Cidadela. O livro tem um título lírico – sob o olhar das estrelas – mas não tem duas linhas sequer de divagações líricas. É vivo e realista. Conta a história de uns mineiros do Norte da Inglaterra. A ação começa antes da Grande Guerra e acaba depois. Não aparece uma única cena de guerra, mas nem por isso ela deixa de estar presente, influindo sobre os personagens que embarcam para a França e mesmo sobre os que não embarcam. Há o caso interessante de um rapaz que fez “objeção de consciência” para não ir à guerra. Havia na Inglaterra daquele tempo milhares de jovens que se negaram a combater não por medo – era preciso mais coragem para ficar do que para irmos por motivos espirituais. Arthur Barras, o filho de um proprietário de mina de carvão, é um deles. E tem de comparecer perante um tribunal presidido pelo próprio pai. Os outros membros do tribunal são: um açougueiro, um militar e um pastor protestante. O açougueiro, um tal Ramage, homem truculento de pescoço taurino, interroga:

– Por que se nega a combater?

– Não quero matar meus semelhantes.

– Mas, por quê?

– Minha consciência se recusa a isso.

Há um silêncio, e depois Ramage observa rudemente:

– Consciência demais sempre faz mal a uma pessoa.

Aí o reverendo intervém, olhando paternalmente o acusado:

– Vamos ver uma coisa. Você não é cristão? Não há nada, na religião cristã, que proíba matar legitimamente pela salvação do país.

– Não há assassinato legítimo.

– Como?

– Não consigo imaginar Jesus Cristo metendo uma baioneta na barriga de um soldado alemão. Não posso imaginar Jesus atrás de uma metralhadora derrubando homens inocentes.

O reverendo Low fica vermelho:

– Isso é uma blasfêmia!

Depois é o próprio pai que interroga. Em certo momento explica ao filho:

– Fazemos esta guerra para que seja a última.

– É o que sempre se diz. É o que se repetirá mais tarde para que os homens se trucidem, quando rebentar a próxima guerra!

Depois vem um rápido interrogatório do militar – e Arthur Barras acaba condenado a dois anos de cadeia, com trabalhos forçados.

Está visto que Arthur tinha razão – mas seu gesto não teve força nenhuma para deter a guerra, nem para evitar esta outra, que aí está. Nem muito menos para evitar que outro personagem – o bravo Joe Gowland – ficasse podre de rico dirigindo uma fábrica de munição.

Uma fada no front. Porto Alegre, Artes e Ofícios.

Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 55-7.
Fonte de imagem:https://www.google.com/url?sa=i&url=http%3A%2F%2Fmemoria.oglobo.globo.com%2Fjornalismo%2Fprimeiras-paginas%2Ffim-da-paz-8898913&psig=AOvVaw0lgk6wQirEKl9uE8tLrxE2&ust=1606601324061000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCNiY4L3eo-0CFQAAAAAdAAAAABAD
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