Homem, mulher, ou X: passaporte não binário chega aos EUA

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Cerca de 1,2 milhão de pessoas se definem como não binárias nos Estados Unidos, segundo um estudo da Universidade da Califórnia publicado em junho

É um pequeno passo administrativo, mas um grande salto para D. Ojeda. Após meses de espera, esta pessoa que se identifica como não binária pode finalmente solicitar um passaporte dos Estados Unidos com um gênero “X”: nem masculino, nem feminino.

Minha família “nem sempre reconhece quem eu sou”, mas com este documento “pelo menos o Estado reconhece”, disse à AFP.

É uma das primeiras pessoas a solicitar um passaporte com gênero neutro, acessível a todos desde segunda-feira por obra do governo de Joe Biden.

Em sua casa em Alexandria, nos subúrbios de Washington, D. Ojeda preenche o longo formulário: nome, sobrenome e, no terceiro campo do documento, uma escolha entre “H”, “M”, ou “X”, para homem, mulher, ou neutro.

Vários outros países oferecem a mesma possibilidade. A Austrália faz isso desde 2011. Depois dela, vieram Paquistão, Nepal, Nova Zelândia, Canadá, Alemanha e Argentina.

Desse modo, D. confirma sua “mudança de gênero” em relação ao último passaporte, sem precisar se justificar. Para esta pessoa, que usa os pronomes “they/them” em inglês – “elu” em português -, a nova possibilidade é “incrível”.

“O que é difícil para as pessoas trans é conseguir mudar algo. Não acho que devemos nos reunir com um profissional da saúde para provar quem somos”, acrescenta esta pessoa, com doutorado em psicologia e que trabalha no Centro Nacional para a Igualdade Transgênero, uma das associações que impulsionaram a medida na Casa Branca.

“Quando soubemos (da medida), virtualmente, em frente aos nossos computadores, começamos a chorar”, conta D., de 34 anos.

“Me ver como sou”

O Departamento de Estado já havia informado, em outubro de 2021, que entregou o primeiro passaporte americano com um “X” sob a menção “sexo”, mas reiterou que se tratava de um caso excepcional.

Anunciado em 31 de março, o Dia Internacional da Visibilidade Trans, seu acesso para todos foi acompanhado de outras medidas do governo federal que buscam simplificar, progressivamente, a vida administrativa das pessoas trans e não binárias.

Cerca de 1,2 milhão de pessoas se definem como não binárias nos Estados Unidos, segundo um estudo da Universidade da Califórnia publicado em junho.

D. Ojeda já tinha uma carteira de motorista da Virgínia com o gênero “X”. “Fui à administração do veículo motorizado, marquei uma consulta, preenchi o formulário, e o ‘X’ estava lá!”.

Em muitos outros estados americanos, no entanto, os representantes republicanos promovem medidas desfavoráveis para as pessoas trans, em meio a um clima político em que as questões de gênero e identidade polarizam o país.

“Agora, pelo menos, tenho o Estado dizendo quem eu sou, como pessoa. E (…) posso dizer às pessoas ‘Aqui estão meus documentos, o Estado me vê assim, talvez deveriam começar a me ver como sou'”, afirma, enquanto seca uma lágrima por trás de suas lentes.

“Agora, o mundo me parece mais seguro”, confessa.

Voz do Pará com informações a AFP

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