Há muita desinformação sobre o assunto e continuamos a fazer parte de uma cultura patriarcal falocêntrica, em que os orgasmos clitóricos continuam em segundo plano
“Tenho 50 anos e não fico com homens há anos, mas minha sexualidade desde que passei a ficar com mulheres mudou cento e oitenta graus: tenho muito mais orgasmos. Acho que é consequência de uma sexualidade mais rica. Sexo com mulher é melhor: vou seguir recomendando pelo resto dos meus dias”, diz Vivi. Inesperado, ou não? Uma pesquisa de junho da revista Public Health England sobre sexualidade revelou alguns dados sobre os níveis de satisfação sexual com base em uma pesquisa com 7.000 mulheres.
Metade das entrevistadas (entre 25 e 34 anos) não desfrutava de sua vida sexual. O percentual caiu 29% entre mulheres de 55 e 64 anos, sugerindo que o sexo para as mulheres melhora com a idade. Esta pesquisa não detalhou, precisamente, as preferências sexuais, mas outros estudos anteriores o fizeram e mostram a próxima tendência: as mulheres que fazem sexo com mulheres são mais propensas a estar entre as que afirmam estar mais satisfeitas.
Um estudo no Journal of Sexual Medicine concluiu que as lésbicas atingem o orgasmo 75% das vezes que fazem sexo, em comparação com 61% das mulheres heterossexuais. A orientação sexual dos homens, no entanto, não parece ter muito efeito sobre suas taxas de orgasmo, será por uma questão de machismo? Quão bem os parceiros masculinos conhecem os corpos de seus parceiros sexuais?
Sobre isso, Eliana (30), uma jovem bissexual, diz:
“Acho que o orgasmo ocorre de forma mais ou menos parecida porque tem mais a ver comigo e com o que a outra pessoa gera para mim, não tanto pelo gênero, mas por uma questão de pele e conexão. Ultimamente não tenho ficado com mulheres (infelizmente), mas as todas as vezes que fique foram espetaculares e os últimos meses com meninos não foram tão bons. Às vezes eles me deixavam esperando, lutando para conseguir iniciar a transa, isso me cansou um pouco, depender de tempo para ereção e outras questões masculinas… da mesma forma quando se trata de orgasmos“.
Qual é o segredo do sexo lésbico em relação ao sexo heterossexual está dando errado?
Muitos homens acreditam que podem dar a suas parceiras um orgasmo simplesmente pela penetração e… Eles falham! Porque isso acontece com apenas 20% da população feminina.
O pornô mainstream não é um grande educador nesse sentido: o sexo violento predomina e a cena termina quando os homens gozam. Há muita desinformação sobre isso e continuamos a fazer parte de uma cultura patriarcal falocêntrica, em que os orgasmos clitóricos continuam (como disse Freud), sendo de segunda classe? Que quando ocorre, eles realmente abrem os portões do céu.
Outra questão é a anterior. “Acho que o que muda entre um homem e uma mulher é que, no segundo caso, a sexualidade não está focada na genitalidade, mas o corpo todo é uma zona erógena”, diz Carla (31), outra garota bissexual.
Shere Hite, uma sexóloga alemã, realizou um importante estudo sobre a sexualidade feminina, The Hite Report, onde reuniu um grande número de depoimentos de mulheres que enfrentam várias questões sobre sua vida sexual. Do orgasmo com estimulação do clitóris sem penetração, surgiram expressões como: “É mais intenso, mais focado, mais localizado, mais envolvente, mais externo, mais excitante, mais definido”. Enquanto o orgasmo apenas com penetração foi definido como: “Mais difuso, mais maçante, afetando todo o corpo, mais suave”.
A Freud, com amor
Makarena, um bissexual de 27 anos, diz: “Com um vínculo muito bom posso chegar ao orgasmo com um homem. Com uma mulher acontece muito mais. Penso que a natureza tem seus segredos. No meu caso, a questão é que vejo o corpo feminino mais erótico, com maiores capacidades eróticas”.
A psicóloga e sexóloga Mariana Kersz ensaia possíveis motivos: “Talvez tenha a ver com a libertação de medos e tabus e com a possibilidade de encontrar em uma pessoa semelhante (no corpo de outra mulher) alguém que atue como espelho, essa possibilidade de chegar a conhecer o corpo. Entre as mulheres, o sexo funciona ‘melhor’ porque há uma melhor compreensão do funcionamento do corpo e dos tempos desse corpo. O tempo feminino é muito diferente do masculino, os homens precisam de muito menos tempo para se excitar (por exemplo) Podemos desacelerar um pouco o momento, que no caso de casais héteros costuma ser um dos grandes conflitos.”