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Lula e o estranho flerte com a austeridade fiscal

Sua campanha está morosa — e alguns de seus conselheiros namoram a ortodoxia econômica. Mas 2023 será bem diferente de 2003 — e “colocar o pobre no orçamento”, como promete, exigirá desagradar mercados e revogar contrarreformas

Existe uma regra inescapável a respeito dos meses que antecedem as disputas eleitorais no Brasil, em especial os pleitos envolvendo a Presidência da República. Tendo em vista a baixa institucionalidade dos partidos políticos na elaboração dos programas das candidaturas e de suas alianças, cria-se um clima de vale-tudo em torno das figuras dos candidatos, que costumam contar com uma dose expressiva de capacidade decisória no que se refere aos seus projetos de governo. Esse elevado grau de personalismo na forma como se desenvolve a política em nosso país costuma oferecer um grau de incerteza a respeito de qual será o perfil do programa a ser eleito e de qual será o comportamento do futuro chefe do Executivo.

As pressões de toda ordem que se apresentam sobre Lula são o maior exemplo dessa característica do processo eleitoral tupiniquim. Tendo em vista a imensa assimetria de forças que se verifica entre o candidato e seu partido, ocorre que o ex-presidente acumula para si a capacidade de decisão sobre questões essenciais de sua campanha e mesmo da estratégia eleitoral. Esse foi o caso, por exemplo, da escolha de seu vice-presidente e da definição das orientações para a concretização das alianças políticas e eleitorais nos Estados da federação. O candidato conta com um grande grau de liberdade para tomar as decisões e, caso necessário, depois o Partido dos Trabalhadores (PT) monta um jogo de cena para referendar as opções, já implementadas por Lula, em suas próprias instâncias internas de decisão.

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