Pressão vem pouco tempo após o presidente Lula declarar, quando estava na China, que o Brasil não pode ser impedido de desenvolver cooperação com Pequim
Cercada de mistério, a missão dos generais estadunidenses no Brasil teve ao menos um objetivo explícito: barrar a crescente aproximação do presidente Lula com a China, principal rival geopolítico de Washington e que vem ampliando sua influência na América Latina por meio de investimentos em diversas áreas.
Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo destaca que uma das integrantes da comitiva militar estadunidense, a general Laura Richardson, chefe do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA, é uma das figuras anti-China mais proativas. Ela alegou, em março deste ano, que Pequim tem a intenção de “burlar normas internacionais” com o objetivo de “propagar sua marca autoritária”. A militar só esquece que os Estados Unidos é o maior parceiro comercial da China, ou seja, eles podem, mas o Brasil está proibido.
No Brasil, Richardson encontrou-se com o ministro da Defesa, José Múcio, os comandantes da Marinha, almirante Marcos Olsen, do Exército, general Tomás Paiva, e da Aeronáutica, brigadeiro Marcelo Damasceno, e com o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, almirante Renato Rodrigues de Aguiar Freire. Também visitou o Comando de Defesa Cibernética, acompanhada da embaixadora Elizabeth Frawley Bagley.
Os exércitos estadunidense e brasileiro concluíram uma série de acordos de ação, planejando “149 atividades durante as conversas” no Brasil. “Nos próximos anos, ambos os exércitos continuarão com intercâmbios bilaterais de pessoal, exercícios combinados e outras atividades militares profissionais”, informou o Comando Sul do Exército dos EUA.
A intenção da visita oficial dos militares estadunidenses ao Brasil foi explicitada por Brian A. Nichols, secretário-adjunto para Assuntos do Hemisfério Ocidental, em entrevista ao mesmo periódico. No Brasil, ele disse que os acordos firmados entre a China e países da América do Sul são “enganosos” financeiramente e afirmou que os EUA ainda têm capacidade de oferecer termos melhores.
Apesar da ofensiva diplomática dos EUA, a aproximação com a China não mostra sinais de enfraquecimento. Múcio deve visitar a China ainda este ano, em um sinal de aprofundamento da parceria estratégica. Os investimentos chineses no Brasil também estão a pleno vapor, à medida que Lula persegue uma política externa independente e neutra.
O País também busca investimentos estrangeiros, e a capacidade da China de cumprir um papel importante no crescimento econômico projetado pelo governo foi destacado durante a visita oficial de Lula a Pequim, em abril. O comunicado final listou uma série de áreas de possíveis investimentos, como portos, ferrovias e transição energética.
Durante a visita, Lula deixou claro que o Brasil não pode ser impedido de desenvolver cooperação com a China. “É uma demonstração de que queremos dizer ao mundo que não temos preconceitos nas relações com os nossos homólogos chineses. Ninguém vai proibir o Brasil de melhorar as relações com a China”, disse o presidente em encontro com o homólogo Xi Jinping, referindo-se a uma visita à fábrica da Huawei, empresa amplamente sancionada pelos EUA.