Max Weber e Marx, uma releitura interessante

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Autor franco-brasileiro, Michael Lowy, que estudou Max Weber, em 1968-1969, vê nele traços que o liga a Marx

O sociólogo Max Weber sempre pretendeu ser neutro, com relação ao posicionamento político e também na discussão entre socialista e capitalista. Assim, dúvida existe se este autor pode fazer parte do chamado anticapitalismo romântico, que foi e é uma resistência o progresso mercantilista e desenfreado da sociedade capitalista.

O autor franco-brasileiro, Michael Lowy, que estudou Max Weber, em 1968-1969, vê nele traços que o liga a Marx e que poderia, ambos, contribuir em muito para a diminuição da desigualdade e da concentração de riquezas em mãos de pouco, bem como na busca de um progresso mais equilibrado, com relação à natureza, que não pode ser vista apenas como fornecedora de material para consumo.

Este interessante estudo de Lowy, aproximando Marx de Weber, encontra-se no livro de Fabio Mascaro Querido: Michael Lowy – Marxismo e crítica da modernidade, Ed. Boitempo, 2016, com inúmeras citações doutrinárias relevantes para quem pretender aprofundar no assunto, rumo à uma visão crítica construtiva a respeito do capitalismo e seus desumanos desencontros.

E, reconhecida a derrota do socialismo, urge fazer uma reflexão da obra de Marx, bem como também da obra de Weber, a respeito do capitalismo moderno e suas incongruências, principalmente a partir da Revolução Francesa, que prometeu mudanças radicais, no tocante à igualdade, liberdade e fraternidade e que, não obstante, até o presente momento, não passou, este trinômio, de promessa, o que acaba por enfraquecer todas as constituições que encamparam tais princípios e que, no mundo real, não consegue implementá-los, em prejuízo aos mais necessitados.

Na verdade, a miséria é uma triste realidade e não é correto entende-la como algo natural ou que surge em razão da necessidade de se manter a aristocracia, como uma classe escolhida por Deus.

Urge encarar a miséria como uma questão social e que, por conseguinte, deve ser enfrentada pelo Estado, socorrendo aos mais necessitados, com verdadeiras políticas públicas de dignificação destes nossos irmãos que se encontram em desigualdade com relação a nós, justamente em razão de o Estado ter falhado, desde o início, ao não se preocupar em dar emprego ao pai de família e ao não colocar as crianças menos favorecidos em Escolas públicas de qualidades, em horário integral e inclusive com fornecimento de alimentação adequada aos alunatos. A fome compromete também o aprendizado.

Aliás, não existe paradoxo maior do que a Universidade pública ser destinada, justamente em razão da deficiência do ensino público, aos ricos, que poderiam pagar Escolas particulares, enquanto o pobre, a minoria que chega à universidade, tenha que conseguir financiamento para poder estudar, se endividando por longos anos. E, depois de formados, renegociando a dívida, diante da dificuldade de pagamento, considerando que o ensino superior não é garantia de emprego imediato.

Max Weber não era aceito nas universidades francesas, o que restringiu uma reflexão mais aprofundada a respeito da obra dele, com destaques para os chamados tipos ideais. E, depois, não se pode olvidar que, até o começo de 1970, a sociologia se mantinha atrelada à filosofia, o que dificultava uma leitura da obra weberiana, apesar de alguns pensadores ligados ao marxismo começar a estuda-la, com o escopo de fundamentar uma leitura marxista, também humanista.

Buscava-se, portanto, nesta aproximação entre Marx e Weber, recuperar o nexo entre ação humana e história, certo de que a história não é linear e nem determinista e que é possível melhorá-la, caso tenhamos consciência de nossa atuação na busca de um mundo mais humano e igualitário. Portanto, somos partícipes e também construtores da história, que não poderá ser vista apenas no momento presente, mas também com retorno ao passado, na busca da narrativa dos vencidos, para não ficarmos apenas na história contada pelos vencedores. Portanto, uma história irreal ou oficial.

Assim, o revisionismo, principalmente quando com o objetivo de apagar a real história, repercute no momento presente e com certeza o futuro restará comprometido, considerando que estaremos fadados a praticar os mesmos erros, posto que desprezamos tristes lições do passado.

E, também nesta aproximação de Max e Weber, a partir da Ética protestante e o espírito do capitalismo, é possível entender corretamente o problema da religião no marxismo, considerando que os fenômenos religiosos são relevantes na construção da realidade social. Portanto, é errado falar que Marx desprezava a religião.

Evidentemente que neste diálogo entre esses dois pensadores há que se utilizar do conceito de afinidades eletivas, o que permite a aproximação de diferentes visões do mundo, chegando mesmo a existir fusão entre pensamentos, o que não foi o caso entre Max e Weber que, não fosse uma leitura eletiva, não poderiam ser encontrados pontos comuns ou legitimadores de um pensamento em relação ao outro.

Uma das aproximações entre Marx e Weber está no âmbito teórico-político, considerando o diagnóstico weberiano a respeito da modernidade, que poderá contribuir para uma releitura de Marx a respeito da crítica ao capitalismo moderno, com suas características destrutivas.

VOZ DO PARÁ: Essencial todo dia!

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