Conversas alarmantes expõem planos de ruptura institucional
Mensagens de militares da reserva, analisadas pela Polícia Federal (PF), trouxeram à tona conversas preocupantes sobre uma possível ruptura institucional no Brasil, ocorridas antes da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2023. De acordo com áudios exibidos no programa Fantástico, da TV Globo, no último domingo (24), o general-de-brigada da reserva Roberto Criscuoli defendeu abertamente uma “guerra civil” como meio de impedir a posse presidencial.
As conversas ocorreram em 29 de novembro de 2022, poucos dias após a certificação oficial do resultado das eleições. Em um áudio enviado ao general Mario Fernandes, ex-integrante da Secretaria-Geral da Presidência, Criscuoli apelou por uma insurgência militar, pedindo que sua mensagem fosse levada ao então presidente Jair Bolsonaro. “Se nós não tomarmos a rédea agora, depois vai ser pior. Na realidade, vai ser guerra civil agora ou guerra civil depois”, afirmou.
Defesa de uma ruptura e ataques à democracia
Nos áudios divulgados, Criscuoli argumenta que abandonar os limites democráticos seria necessário para atender ao que chamou de “vontade popular”. Ele criticou a ideia de respeito às normas constitucionais e declarou que o momento exigia uma ação imediata. “Não tem que ser mais democrata agora. Acabou o jogo. Não tem mais quatro linhas. O povo da rua tá pedindo, pelo amor de Deus”, disse, em referência às manifestações pró-Bolsonaro em frente aos quartéis do Exército.
O general também alertou que a demora poderia fortalecer os adversários políticos, enfraquecendo o movimento. “Nós estamos esperando o quê? Dando tempo pra eles se organizarem melhor? Pra guerra ser pior? Irmão, vamos agora”, enfatizou no áudio.
Contexto e implicações das mensagens
Naquele período, milhares de manifestantes acampavam em frente aos quartéis pedindo uma intervenção militar com base em acusações infundadas de fraude eleitoral. Embora as Forças Armadas tenham oficialmente refutado tais alegações, as gravações revelam a disposição de membros da reserva em instrumentalizar o movimento em favor de uma ruptura golpista.
As mensagens reacendem discussões sobre a influência de retóricas golpistas e a radicalização de setores ligados às Forças Armadas. Elas também reforçam o alerta sobre os riscos da utilização da instituição militar como ferramenta política.
Repercussão e próximos passos
Os áudios divulgados geraram uma nova onda de críticas e cobranças por responsabilização dos envolvidos. A investigação da PF sobre atos antidemocráticos se fortalece com essas evidências, que podem embasar ações judiciais contra os responsáveis.
Até o momento, nem Roberto Criscuoli nem Mario Fernandes se pronunciaram sobre o caso. Especialistas apontam que a repercussão das gravações poderá acelerar discussões sobre os limites da atuação política de militares da reserva e fortalecer a luta por medidas que assegurem a preservação da democracia no Brasil.