Muito além do Pix

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.

A travessia da pandemia tem levado à uma aceleração tecnológica. O advento das moedas digitais não é novo e a mais conhecida delas é naturalmente a Bitcoin. A diferença é que aqui estamos falando de moedas digitais emitidas pelos próprios bancos centrais, inclusive pelo BCB 

Na semana passada, o presidente do Banco Central do Brasil (BCB), Roberto Campos Neto, abordou em uma live para o mercado, dentre vários assuntos de grande importância para o país, um ponto muito importante: a agenda de tecnologia da Instituição.

A travessia da pandemia tem sido acompanhada por um movimento de intensificação no uso de tecnologias, uma vez que o distanciamento social que tem imposto às pessoas fazer atividades corriqueiras com mais uso delas. Em função disso, o BCB entendeu que não só não podia atrasar a sua agenda tecnológica, mas que precisaria antecipá-la. Um exemplo disso foi o Projeto PIX que teve início três meses do que tinha sido inicialmente planejado – justamente por entender que havia uma demanda da sociedade neste sentido.

Roberto Campos observa que existem alguns aspectos em comum no movimento de recuperação global ora em curso. A sociedade tem demandado aos governos que essa recuperação seja sustentável e inclusiva. Neste sentido, a tecnologia é um grande player / agente nestas duas dimensões. Há evidentemente uma preocupação com a questão da proteção de dados. Um passo que não pode ser dado é a criação de um ambiente de tecnologia muito amplo sem ter certeza que as questões de segurança cibernética estão bem trabalhadas. Em relação às interconexões de plataformas, por exemplo entre bancos, fintechs e o conceito de open banking, o que se pode esperar é uma grande segmentação de mercados e produtos.

No mundo recente, Campos Neto cita três grandes ondas: primeiro ficou muito mais fácil produzir dados (a computação avançou muito na relação custo / benefício); segundo ficou muito mais fácil guardar dados (temos hoje capacidade de guardar dados na nuvem que é significativamente mais barato do que antes); terceiro ficou muito mais barato analisar dados. Portanto, se é mais barato produzir, guardar e analisar dados, todo o ambiente de negócios e de precificação passa pela capacidade das empresas de utilizar esses dados para benefício de seus clientes e otimização do retorno pelos serviços prestados.

O casamento de fintechs com bancos é natural e vai acontecer, mas há, segundo Campos Neto, um outro casamento mais importante que a maior parte das pessoas não tem dado a devida atenção: é o casamento entre mídia social e mundo financeiro. Existe uma “corrida do ouro” para juntar basicamente três grandes vertentes: a vertente de conteúdo, a vertente de “mensagemria” e a vertente de pagamentos. Se uma organização tem as três coisas – e poder-se-ia mencionar, por exemplo, o Whatsapp que vai ser aprovado em um futuro bem próximo no Brasil para fazer pagamentos (o Google já faz a mesma coisa na Índia) -, se já existem tantas outras empresas tentando juntar os três aspectos neste mundo de produzir, guardar e analisar dados, neste casamento de finanças com mídia social as empresas terão condições de anunciar um produto, vender o produto, permitir o pagamento direto por este produto e através dos algoritmos / IA (inteligência artificial) saber o que o cliente achou do seu produto / serviço.

Segundo Campos Neto a quantidade de dados produzida neste processo é “inigualável comparada a qualquer coisa que qualquer banco tenha hoje”. Sem dúvida também um grande desafio em termos regulatórios e é preciso ter a correta dimensão do que isto significa em termos de precificação e competição para a sociedade. 

Se já podemos visualizar isso em termos de vendas produtos físicos, a inovação virá abrangendo também a venda de produtos financeiros. Estas inovações aceleradas são parte das razões pelas quais a implantação do Pix foi acelerada, embora a amplitude e abrangência vá muito além do Pix. O Open Bank basicamente diz o seguinte: como o dado passou a ser a coisa mais importante e os dados são dos clientes, eles vão poder usar os dados para conseguir produtos melhores, feitos sob medida e a preços melhores. Isso não coloca em risco os bancos ou o sistema financeiro, mas permitirá, como comentamos anteriormente, uma grande segmentação de mercado e incentivo à inovação e competitividade. Vários APIs* e APPs (aplicativos) poderão ser criados. Na maioria das vezes as instituições financeiras tradicionais não têm vantagem comparativa para desenvolvê-los porque são serviços que exigem plataformas muito mais modernas que não “casam” com as grades plataformas tradicionais dos grandes bancos.

Mas, se por um lado, estes movimentos estão acontecendo a uma velocidade maior do que a esperada, por outro, os movimentos relacionados a parte de “tokenização” não tem ainda se consolidado e expandido na velocidade inicialmente imaginada. A tokenização é um passo revolucionário para excluir o fator humano das interações e garantir a segurança de todos os dados tokenizados. Por ser instantâneo e durar poucos segundos, o token é muito utilizado para autenticar transações financeiras on-line, especialmente de bancos. Em diversos países os ativos financeiros já estão passando a ser registrados em forma de token. A tecnologia que veio para ficar e o que está por detrás disso é a tecnologia de blockchain**. Se as previsões se realizarem teremos ativos financeiros negociados na forma de “smart contracts” (contratos inteligentes) em um sistema de blockchain, o que vai, por consequência, tornar mais importante a criação de moedas digitais.

O advento das moedas digitais não é novo e a mais conhecida delas é naturalmente a Bitcoin. A diferença é que aqui estamos falando de moedas digitais emitidas pelos próprios bancos centrais, inclusive pelo BCB. Isto porque é importante que os meios de pagamento possam acompanhar negócios que sejam transações numéricas criptografadas. Neste contexto de digitalização e tokenização a moeda digital se faz importante, tanto para transações locais como para transações internacionais.

Enfim, muitas mudanças que podem alterar nossas rotinas e nos trazer um mundo novo que, com o tempo, vai tornar o mundo atual irreconhecível – como tentar explicar a Barsa ou fitas de gravadores para a geração atual. Para os privilegiados que transitarem no mundo dos mercados financeiros e da engenharia e ciência da computação, os céus serão os limites.

* API é um conjunto de rotinas e padrões de programação para acesso a um aplicativo de software ou plataforma baseado na Web. A sigla API refere-se ao termo em inglês “Application Programming Interface” que significa em tradução para o português “Interface de Programação de Aplicativos”.

** Blockchain é uma série de registros imutáveis de dados com registros de data e hora, gerenciados por um grupo de computadores que não possuem um controle centralizado. Cada bloco de dado (blocks ?” blocos) é protegido e conectado ao outro usando criptografia

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