Milhares protestam em vários países para denunciar “fraude” nas eleições na Nicarágua
O Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, foi reeleito para um quinto mandato (quarto consecutivo) de cinco anos, com 74,99% dos votos nas eleições de domingo, segundo os primeiros resultados parciais oficiais divulgados esta segunda-feira.
Os resultados parciais são baseados na contagem de votos em 49% das mesas, de acordo com o tribunal eleitoral, que registrou uma participação de 65,34%.
Um observatório da oposição, o Urnas Abertas, alertou, no entanto, que a abstenção chegou aos 81,5%, com base em dados de 1.450 fiscais não credenciados presentes em 563 seções eleitorais, durante esta eleição presidencial qualificada pelo Presidente norte-americano, Joe Biden, como “uma comédia”.
Com sete candidatos presidenciais detidos, por acusações de “traição”, Ortega, no poder desde 2007, tinha praticamente certa a sua reeleição, juntamente com a sua mulher, Rosário Murilo, atual vice-presidente do país.
Tanto a oposição nicaraguense, como a Organização dos Estados Americanos e a União Europeia já tinham expressado dúvidas sobre a legitimidade das eleições no país centro-americano e grande parte da comunidade internacional avisou que consideraria esta eleição como uma fraude.
Além do cargo de Presidente, 4,4 milhões de nicaraguenses foram chamados no domingo às urnas para eleger vice-presidente, 90 deputados da Assembleia Nacional e 20 do Parlamento Centro-Americano.
Protestos contra a fraude nas eleições na Nicarágua
Milhares de nicaraguenses manifestaram-se domingo em vários países contra o que consideram ser uma “fraude” nas eleições.
Uma das principais manifestações ocorreu em Washington, D.C., onde os nicaraguenses caminharam desde a sede da Organização dos Estados Americanos (OEA) até à embaixada do seu país nos Estados Unidos.
Durante a marcha, os manifestantes hastearam uma enorme bandeira azul e branca da Nicarágua, que se tornou um símbolo de oposição ao Presidente Ortega e contrasta com as cores vermelha e preta da bandeira da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), o partido do chefe de Estado.
“Ortega, escuta, ainda estamos na luta” e “Viva a Nicarágua livre!” gritaram os manifestantes, que apelaram à comunidade internacional para que não reconheça o resultado eleitoral deste domingo, por considerarem que o governo de Ortega não proporcionou condições de transparência.
Entretanto, em Miami, dezenas de nicaraguenses reuniram-se no Parque Ruben Dario para repudiarem as eleições, que consideram “fraudulentas”, com bandeiras do seu país e cantando “Nicarágua raptada por um assassino”.
“Repudiamos estas eleições que são uma fraude, com cinco partidos políticos que são marionetes do Sandinismo, não aceitamos estas eleições fraudulentas, esta farsa”, disse o líder comunitário César Lacayo, organizador da mobilização, que garantiu ter havido protestos como aquele em 57 países de todo o mundo, nos quais também foi exigida a libertação de 150 prisioneiros políticos.
Em Espanha, realizou-se outra manifestação, em Madrid, com os presentes a exigirem que os resultados eleitorais não sejam reconhecidos.
Santiago Urbina, da Unidade Nacional Azul e Branca, que reúne grupos da oposição, disse à agência de notícias espanhola EFE que estas eleições deveriam servir para retirar Ortega do poder, já que a União Europeia, a OEA e os EUA denunciaram a falta de legitimidade das mesmas, com sete candidatos da oposição presos e partidos políticos proscritos.
Um comunicado lido neste e em outros protestos simultâneos que correram em outras cidades exigia a libertação de mais de uma centena de “presos políticos” na Nicarágua, um novo órgão eleitoral “independente” do governo Ortega e eleições “limpas” com supervisão internacional, entre outras reivindicações.
Nicaraguenses também se manifestaram em San José, onde milhares marcharam pelas principais ruas da capital da Costa Rica contra o que chamaram “fraude” e o “circo” eleitoral orquestrado por Ortega.
Por outro lado, cerca de 100 nicaraguenses manifestaram-se na Cidade do Panamá para repudiar a “farsa” eleitoral no seu país e afirmaram que Ortega concorreu sozinho à presidência, depois da prisão dos seus principais rivais.
Uma grande parte da comunidade internacional nega qualquer legitimidade ao escrutínio. Para o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, o processo eleitoral “perdeu toda a credibilidade”, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, considerou-o uma “farsa”.
Nos últimos meses, a perseguição aos opositores foi contínua e desde junho foram detidas 39 pessoas, entre personalidades políticas, empresários, camponeses, estudantes e jornalistas.