O arauto da destruição

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.

Impressionante, quando você já se imagina imune aos vitupérios ditos pela autoridade governamental máxima do país, particularmente quando se refere à cultura, imediatamente volta a soar o alarme de inconformidade e revolta com a condução que imprime aos assuntos de interesse da nação, com seus pronunciamentos eivados de preconceito, sarcasmo e falta de respeito.

Enojada, pois não há outro adjetivo para expressar meu estado de espírito, quando recebi, por WhatsApp, o trecho do vídeo que registra o discurso do mandatário na sede da Fiesp esta semana, especificamente a “janela” que abriu durante o seu speech “edificante”, discorrendo sobre o episódio acontecido com o “amigo do peito”, o empresário Luciano Hang (principal financiador de sua campanha), que reclamou da interferência do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) quando da escavação de um terreno em que construiria mais uma de suas “magníficas” lojas. Pois bem, segundo o presidente, entre sorrisos tortos e ironias toscas, o comerciante teve sua obra interrompida “porque o tal do Iphan com ph (ele não sabia da existência do órgão, já nos seus 84 anos de existência e realizações fundamentais) deparou-se com azulejos históricos”, medida esta que, de pronto mandou revogar por meio de seu secretário de Cultura.

Pela deprimente narrativa, presume-se que o presidente da República não tenha a menor ideia das atribuições constitucionais do órgão responsável pelas políticas de preservação, tombamento e difusão do patrimônio cultural do país, no âmbito da União.

Pouco importa, para ele ou para sua platéia entusiasmada, aparentemente também pouco afeta aos temas da cultura, que lhe retribuiu com muitos aplausos e risos, sobretudo no momento em que debochou do papel do “trem” Iphan, demonstrando seu orgulho por ter “ripado” todo mundo combativo da instituição e de ter colocado gente “nossa” lá.

Como estava radiante e bem disposto ao compartilhar a sua política de eliminação de problemas, com o desmantelamento das estruturas de fiscalização, ao arrepio da lei, em flagrante desrespeito às obrigações consagradas na Carta Magna, no que tange à preservação do patrimônio cultural material e imaterial da nação.

Que miséria, que tristeza, que decadência, não basta ter de testemunhar um achincalhe desses, mais nauseante ainda é ver a casa empresarial da economia brasileira aplaudir essa agressão intolerável.

Octogenário venerável Iphan, que seu corpo técnico, composto por verdadeiros missionários na cruzada de defesa do patrimônio cultural do povo brasileiro, não entregue os pontos, não sucumba à política de terror do desmanche, que se mantenha firme e não se acovarde frente ao inimigo, por mais poderoso que seja, momentaneamente.

Defensores da nossa história, de nossos bens culturais de maior valor como pátria, denunciem, busquem a justiça para tudo aquilo que colida com a missão constitucional do Iphan, cumpram seu dever, vai passar, resta pouco tempo para a saída dos bárbaros.

Ânimo, quem ri por último ri melhor!

por Eleonora Santa Rosa no Dom Total

 

O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente do Voz do Pará. O autor assume integral e exclusivamente responsabilidade pela sua opinião.
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