O espalhador de traições

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Para salvar o pescoço, Bolsonaro atropela até os amigos que o ajudaram a chegar ao poder. Como o general Ramos poderia imaginar que Bolsonaro, tão seu amigo, iria virar-lhe as costas?

Noventa por cento dos políticos dão aos 10% restantes uma péssima reputação. Quando militares brasileiros invadem essa arena, é o fim da picada. A comprovação foi dada pelo general Braga Netto, ministro da Defesa, ao fazer na semana passada uma intervenção destrambelhada a favor do voto impresso reivindicado por seu guru Jair Messias Bolsonaro. Chegou a ameaçar as instituições democráticas para satisfazer mais esse capricho tresloucado do capitão expulso do Exército –  capricho que poderia abrir caminho para exotismos como o retorno do orelhão, das calças boca-de-sino e das anáguas para mulheres.

A Polícia Federal vasculhou todo o histórico do voto eletrônico, desde sua implantação no Brasil em 1996, e não encontrou um vestígio de fraude sequer. Na verdade, Braguinha tentava desviar as atenções do país, focadas na CPI da Pandemia, e aplacar os reais temores do Messias que são, nesta ordem: a derrota nas eleições de 2022, perda da imunidade, prisão e julgamento, inclusive em tribunais internacionais, por crimes contra a vida. Resultado: o repúdio da sociedade foi tamanho que o general conseguiu enterrar de vez qualquer possibilidade de resgate do voto impresso. Segundo bolsonaristas mais ferrenhos, Braga Netto perdeu o direito de abrir o bico até o final do milênio. 

Recapitulemos algumas passagens importantes registradas no BO do país na semana passada, assinadas por observadores tarimbados da políticagem nacional:

“Pobre general Luiz Eduardo Ramos! Respeitou o regulamento do Exército que reprova a presença de oficiais da ativa em cargos comissionados e, a um ano e meio da aposentadoria, abriu mão de uma digna reforma para ser ministro do governo Bolsonaro. Ele não sabia que não precisava disso —poderia ter feito como o general Eduardo Pazuello, que foi de farda e tudo para um ministério de bilhões sob vista grossa de seus superiores. E como o general Ramos poderia imaginar que Bolsonaro, tão seu amigo, iria virar-lhe as costas, como já fizera com outros sem os quais não teria chegado à Presidência? Bem feito! – Ruy Castro, Folha de S. Paulo

                                                               ****

“A ida de Ciro Nogueira para a Casa Civil muda o desenho dos negócios em Brasília. Até aqui, o Centrão se limitava a fazer escambo: alugava apoio parlamentar e sacava sua parte em cargos e benesses. Agora o bloco vai trocar o balcão pela gerência da loja. Passará a mandar sem intermediários.

O chefão do PP se reaproximou do poder em junho de 2020, quando Jair Bolsonaro começou a sentir o cheiro do impeachment. Para socorrê-lo, Nogueira exigiu o comando do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. A autarquia cuida de temas que não costumam emocionar os políticos, como a aquisição de livros didáticos e a organização do transporte escolar. Seu segredo está no orçamento, que ultrapassa os R$ 50 bilhões anuais.

Em fevereiro deste ano, Bolsonaro ajudou outro pepista, Arthur Lira, a se eleger presidente da Câmara. A ascensão do deputado aumentou o poder de barganha do Centrão. O grupo capturou o Ministério da Cidadania, abocanhou a Secretaria de Governo e agora assume a Casa Civil, coração da máquina federal” – Bernardo Mello Franco, O Globo

                                                                ****

“Dois filmes na Netflix, o norueguês “22 de Julho” e o polonês “Rede do Ódio”, contam como a extrema direita destrói e mata. A incitação que ela faz na internet não é tagarelice aloprada, e por isso inócua. Seu objetivo é organizar o emprego da força, levar a cabo atentados terroristas. Qual é a utopia deles? Um país agropastoril onde farão tiro ao alvo em marxistas culturais” – Mário Sérgio Conti, Folha de S. Paulo

                                                                  ****

A propósito, o general Braga Netto ainda é o ministro da Defesa? Como assim, está por aí fazendo motociata com Bolsonaro? Que me desculpe o vice-presidente Hamilton Mourão, mas, ao contrário do que ele pensa e diz, o Brasil é sim uma república bananeira. Braga Netto não perde por esperar. A semana está só começando. Quando menos se espera, o capitão pode surtar de novo.

VOZ DO PARÁ: Essencial todo dia!

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3 COMENTÁRIOS

  1. Que texto bom, parabéns Evandro Oliveira!
    Também sou sociólogo e sempre acompanho suas publicações.
    Um abraço.

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