Um frisson de otimismo anima os capitalistas, que sonham com o pós-pandemia. Mas últimos ciclos econômicos sugerem novas crises e mais desigualdade. Ocaso do sistema parece nítido – resta saber o que virá depois…
A economia do mundo como um todo decresceu -3,5% em 2020 em decorrência da crise provocada pelo novo coronavírus; entretanto, segundo estimativas recentes da OCDE, crescerá 5,8% em 2021 e provavelmente algo em torno de 4,4% em 2022. Essa perspectiva tem trazido esperança e até um pouco de euforia para os agentes econômicos que dão suporte ao capital e que se beneficiam de seu processo de valorização: o mundo, segundo eles, vai recuperar o caminho de prosperidade – mesmo, porém, se desconfiam racionalmente dessa predição, é isso o que mais desejam. Mas, o que esperar de fato da economia mundial na próxima década – e mesmo depois dela?
Uma primeira resposta a essa pergunta pode ser encontrada examinando simplesmente a evolução da economia mundial nas últimas décadas. A figura abaixo mostra de forma iniludível que as taxas de crescimento do PIB global têm caído tendencialmente desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Se entre 1961 e 1970, esse indicador avançou segundo uma taxa média de 5,4% ano, nas décadas seguintes, essa taxa foi caindo até chegar à média de 2,2% ao ano entre 2011 e 2020.
Logo, não parece haver de início qualquer razão para otimismo; eis que a tendência histórica de longo prazo mostra um continuo declínio da taxa de elevação do PIB. A euforia constatada não parece ser, portanto, nada mais do que uma ilusão produzida pela recuperação em V da crise produzida pelo novo coronavírus. Na perspectiva desse evolver secular cadente, projetou-se apenas uma elevação média de 2,2% ao ano para a década que se inicia em 2021 e termina em 2030, tal como foi posto no gráfico em sequência.

Entretanto, como se sabe, este tipo de análise é insuficiente, pois se baseia somente numa regularidade estatística – e em um pouco de bom senso. De qualquer modo, antes de entrar em considerações teóricas, é interessante considerar, ainda na mesma perspectiva, que a economia capitalista tem crescido por meio de ciclos longos desde pelo menos o último quartel do século XVIII.
Nesses ciclos há sempre uma fase ascendente em que as taxas de crescimento tendem a se elevar e uma fase descendente em que elas tendem a cair. A tabela abaixo mostra os resultados obtidos por Tsoulfidis e Papageorgiou por meio de uma pesquisa estatística cuidadosamente desenvolvida com base nas séries estatísticas atualmente disponíveis; segundo esse estudo, após o advento da primeira revolução industrial, ainda no século XVIII, ocorreram cinco ciclos longos na economia capitalista. O início do primeiro “ocorreu” em 1790 porque essa é a data mais antiga para a qual há informações confiáveis.[1]
Após a Segunda Guerra Mundial, ocorreram dois ciclos longos na economia mundial: um entre 1946 e 1982, período em que dominou o keynesianismo, e um outro a partir dessa última data, época em que prevaleceu o neoliberalismo. Entre 1981 e 1990, a economia mundial cresceu em média 3,12% ao ano; entre 1991 e 2010, essa taxa média caiu para 2,8%, para chegar a apenas 2,2% na última década. Em razão desse baixo crescimento, reconhece-se amplamente que a economia mundial entrou num período de estagnação após 1997.
Ora, esse resultado também mostra de imediato que o neoliberalismo não foi capaz de produzir uma recuperação forte da economia mundial, capaz de levar as economias dispersas na superfície do planeta Terra aos patamares obtidos após o fim da Segunda Guerra Mundial. De qualquer modo, enquanto regime de acumulação prevalecente nos últimos 40 anos, o neoliberalismo parece agora estar em processo final de esgotamento – sem que se saiba ainda o que vai substitui-lo.

Para melhor compreender esses dois últimos ciclos longos, ou seja, o 4º e o 5º, é preciso observar o que ocorreu com a taxa de lucro no período considerado. Para tornar isso possível, empregou-se aqui uma boa aproximação dela; tomou-se a taxa interna de retorno para o G20 (uma média ponderada construída com os dados da Penn World Table 9.1) como representativa, já que o G20 inclui as vinte maiores economias, as quais respondem por cerca de 70% do PIB mundial. A figura em sequência apresenta essa estatística descritiva. Nela fica bem evidente os dois ciclos longos mencionados: o primeiro está formado pela “idade de ouro” e pela “crise de lucratividade”; o segundo está constituído pela “recuperação neoliberal” e pela “longa depressão”.
