O lucro acima de tudo

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
O banqueiro empresta o que não é dele e lucra mais do que o próprio dono

“O que é o crime de assaltar um banco comparado com o crime de fundar um banco?” A provocação do poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht pode ser coisa de comunista, mas expressa uma realidade acima das ideologias. Não importa o país ou o tamanho da crise, os banqueiros sempre saem no lucro.

A coisa é relativamente simples: guardam o seu dinheiro e ganham juros com ele. Em suma, o banqueiro empresta o que não é dele e lucra mais do que o próprio dono. Fora do sistema bancário, a prática é ilegal e tem o nome de agiotagem. Justamente por ser lucrativo, esse é um ramo de negócio muito explorado pelas máfias em todo o mundo.

Segundo historiadores, os bancos surgiram no Renascimento, após a adoção das moedas pelas cidades-estados da Europa. Já naquela época, não era seguro guardar dinheiro no colchão. O nome “banco” teria sido adotado em Florença, referindo-se à mesa na qual um grupo de financistas judeus negociava a troca de moedas com os comerciantes locais.

Raízes religiosas

A origem dos bancos teria raízes religiosas. Há quem diga que o rei Salomão já fazia empréstimos na Antiguidade. Tanto que a construção do templo de Jerusalém teria contado com a ajuda de Hiram, rei da Fenícia e seu ilustre devedor. Navegadores fenícios teriam quitado o débito com ouro e madeira extraídos numa região distante chamada Ofir, usados na ornamentação do famoso templo.

Lendas à parte, quem primeiro cumpriu o papel dos bancos na Idade Média foram os Cavaleiros Templários. A famosa ordem de monges guerreiros foi criada pela Igreja em 1119, com a finalidade de proteger os peregrinos cristãos em suas jornadas a Jerusalém, passando a transportar valores em troca de uma módica recompensa. Mesmo tendo feito voto de pobreza, a ordem ficou tão rica que caiu em desgraça em 1312, devido à ambição do papa Clemente V e do rei francês Felipe, o Belo.

O primeiro banco da era moderna surgiu em Gênova, com o nome de Banco di San Giorgio. Com o sucesso da iniciativa, não demorou para que a ideia fosse copiada e surgiram concorrentes em várias outras cidades. A partir da Revolução Industrial, na Inglaterra, o sistema bancário ganhou asas e se tornou a alma do capitalismo.

Ao menor risco de falência, os bancos geralmente são socorridos por seguradoras do próprio sistema ou incorporados por instituições maiores. Afinal, a quebradeira bancária ameaça toda a economia. Até 1983, a maioria tinha diversas agências. Tratava-se, portanto, de um setor de alta empregabilidade. Graças à ciência da computação, surgiram na Escócia os serviços eletrônicos e isso mudou tudo em todo o mundo.

Serviços eletrônicos

Hoje, o sistema bancário emprega pouco e lucra como nunca. Com os avanços tecnológicos, surgiram bancos, agências e moedas virtuais, que permitem aos banqueiros não apenas ganhar dinheiro com o cliente como também colocá-lo para trabalhar sem remuneração. Com o uso de aplicativos, bastam alguns toques para movimentar a própria conta.

Como todos sabem, o Brasil sempre foi um paraíso para os bancos. Principalmente nos governos petistas, o setor cresceu acima da média, beneficiando-se inclusive da modalidade de empréstimos compulsórios a aposentados de baixa renda.  

Em 2019, os quatro maiores bancos do país (Itaú, Bradesco, Santander e Brasil) somaram o lucro recorde de R$ 81,5 bilhões em valores nominais. Em 2020, devido à pandemia de Covid-19, registrou-se uma queda de 24,4%, mesmo assim com o total acumulado de R$ 61,6 bilhões.

No entanto, como sempre ocorre, o setor deverá ser o primeiro a se recuperar da crise que assola o Brasil (e o mundo). A indústria, o comércio e mesmo os governos precisarão de dinheiro para retornar à normalidade. Com o aumento da procura por financiamentos e empréstimos, a taxa de juros tende a subir e o lucro dos bancos chegará à estratosfera, comprovando mais uma vez que Brecht tinha razão.

por Jorge Fernando dos Santos

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