Começa que, para boa parte dos partidos e de seus dirigentes, não faz a menor diferença quem ganhará as eleições: quem vai governar, ganhe quem ganhar, será o Centrão
Tudo que se faz na campanha eleitoral, hoje, relembra o excelente Eça de Queiroz, em A Relíquia: “sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia”. Começa que, para boa parte dos partidos e de seus dirigentes, não faz a menor diferença quem ganhará as eleições: quem vai governar, ganhe quem ganhar, será o Centrão. O Centrão governou com Dilma, o Centrão governou com Lula, o Centrão governa com Bolsonaro.
Às vezes é engraçado. Geraldo Alckmin, sempre discretíssimo em seus discursos, agora grita “Viva Lula, Viva Lula!” E qual é a graça? É que deixou o PSDB, mas o PSDB não o deixou. No discurso dirigido a trabalhadores, deu vivas também “à luta de vocês”. Um dia ele acorda e fala em “nós”.
Há também o Paulinho da Força, que se diz indignado por ter sido vaiado num evento petista. Paulinho cresceu na política sindical como adversário do PT e de Lula, cansou de ser vaiado por petistas. Agora, de tão indignado, pensa em transferir o apoio de seu partido, o Solidariedade, de Lula para Bolsonaro. Talvez não queira dizer que seu velho amigo Ciro Nogueira, chefe de fato do governo Bolsonaro, lhe mostra bons e abundantes argumentos para mudar de lado.
Não falta, claro, um general: Augusto Heleno, que cantava “Se gritar Pega, Centrão/não fica um, meu irmão”. O general anda quieto, ultimamente. Como ele mesmo disse, antes de cantar contra o Centrão, “foda-se!”
Petrofake
Bolsonaro demitiu o general que ele mesmo tinha nomeado para presidir a Petrobras e o substituiu por um profissional do ramo, José Mauro Ferreira Coelho. Como na época em que nomeou o general, declarou-se indignado com o preço dos combustíveis. Dependendo da evolução do preço mundial do petróleo, continuará indignado. Finge que não sabe que a Petrobras tem ações negociadas em Bolsa, no Brasil e nos Estados Unidos. Se resolver dar uma acochambrada nos preços para facilitar a vida do Governo brasileiro, tomará processos milionários dos acionistas prejudicados. Perfeito: ele finge que tomou providências e tudo continua como está. O preço da gasolina no Brasil, em média, é de R$ 7,498 o litro, no posto. É o mais alto, corrigida a inflação, que já houve no país. E se o preço do petróleo cair no Exterior? O combustível não vai baixar, não. Servirá “para cobrir prejuízos passados”.
Terceira via
A história do Brasil mostra que eleições com dois candidatos fortes são a forma predominante: Dutra x Brigadeiro, Getúlio x Brigadeiro, Juscelino x Juarez Távora, Jânio x Lott. Em 1989, houve três nomes: Collor, Brizola e Lula. Depois, Fernando Henrique x Lula, Fernando Henrique x Lula, Lula x Serra, Lula x Alckmin, Dilma x Aécio, Bolsonaro x Haddad. Terceira via? Não seria impossível – mas como imaginar que João Dória e Simone Tebet, com seus partidos estilhaçados, consigam se firmar? Quem conhece Janones e Luciano Bivar? Todos os partidos da terceira via têm o mesmo objetivo: eleger parlamentares e com isso garantir uma boa parcela dos bilionários fundos públicos destinados à política. E, como objetivo paralelo, bancadas grandes ajudam a negociar participações no futuro governo, seja qual for.
O nosso dinheiro
Financiamento público de campanha deu nisso: não é importante ganhar, porque a farta verba de subsistência cobre bem os gastos; E, como este é o pensamento predominante, o importante é saber que o presidente eleito precisará alugar apoios não apenas para governar, mas também para não ser derrubado. Mais ainda: quando alguém se exceder muito na rapina e for surpreendido, terá a proteção dos cem anos de perdão (desculpe! dos cem anos de sigilo) para que as investigações sejam muito dificultadas.
Pesquisa – e daí?
Lula melhorou bem na pesquisa PoderData encerrada nesta semana. Sua rejeição caiu 6% em um mês. Na pesquisa anterior, de março, 44% disseram que não votariam nele de jeito nenhum. Este número agora é de 38%. E daí?
Daí, nada. Alexandre Cordeiro, presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, Cade, foi colocado na autarquia numa negociação de Ciro Nogueira com o Governo Dilma Rousseff. Ciro já era o poderoso chefão dos Progressistas e disse, em gravação de 2017, a Joesley Batista, da JBS, que Cordeiro era “seu menino” e que tinha “botado ele lá”. Função do Cade: investigar acusações de cartel e decidir sobre fusões de empresas. O presidente do Conselho, que Ciro aponta como “seu menino”, é o fiscal mais poderoso do país. Ciro manda com Bolsonaro, como mandava com Dilma.
Uma boa notícia
A Folha de S.Paulo está lançando nova edição de 100 anos de capas do jornal. Um pouco de marketing pessoal: este colunista, em pouco menos de dez anos de Folha, é responsável por algumas das reportagens assinadas de primeira página que aparecem no livro das 100 mais. Acho que vale a pena.
VOZ DO PARÁ: Essencial todo dia!