O mercado não gostou… e daí?!

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Este governo eleito de Frente Ampla democrática é contra a extrema-direita e a favor dos pobres

A posse do presidente Lula foi um sucesso popular. Teve repercussão internacional com fotos na primeira página dos principais jornais do mundo ocidental. A posse dos ministros demonstrou o acerto de suas nomeações. Todos são políticos experientes – governadores, senadores, deputados e líderes em suas áreas de atuação.

Logo, o mandato começou com o programa apresentado em campanha. Iniciou-se o processo de desarmamento da população civil. Exonerou-se os quadros do governo de extrema-direita. Retirou-se empresas estatais relevantes para o desenvolvimento brasileiro, como a Petrobras, da lista de privatização.

Mas a imprensa, costumeiramente pautada por “analistas e especialistas” anônimos, por isso jocosamente apelidados de “Faria Limers”, estampou em manchete: “O mercado não gostou”… e daí?! “Perdeu, mané, não amola!”

O deus-mercado é sobrenatural? Apesar de aparentar ser onipresente, ele não é onisciente, pois não consegue adivinhar o futuro resultante de múltiplas e desconhecidas decisões de todos os diversos agentes econômicos. Caso ele fosse vidente, anteciparia com precisão o futuro. Então, perderia a pretensa onipotência, pois não mais poderia alterar o rumo preanunciado…

Afinal, quem são os adoradores de o mercado? São submissos à doutrina do neoliberalismo? Defendem a absoluta liberdade de mercado e uma restrição à intervenção estatal sobre a economia, só devendo esta ocorrer em setores imprescindíveis e ainda assim em grau mínimo?

Pois é, mané, o social-desenvolvimentismo ganhou a eleição! Seus adeptos priorizam o controle da inflação para proteção dos salários reais e o desenvolvimento sustentado pela ampliação do mercado interno com política social ativa e do mercado externo.

Mercados de riscos ou rumores, diminutos ou raquíticos como são os de ações e dólar, na economia brasileira, ficam sujeitos a ter alta/baixa no boato e queda/subida no fato. Mas não atingem diretamente os interesses populares.

O volume acumulado ao longo da negociação anual no mercado de ações à vista pode impressionar aos leigos. Com a queda do juro básico (Selic) saiu de R$ 4,1 trilhões em 2019 para R$ 7,2 trilhões em 2020 e alcançou R$ 8 trilhões em 2021. Caiu para R$ 7,2 trilhões em 2022. O PIB brasileiro alcançou R$ 9,8 trilhões em novembro de 2022.

Porém, o volume médio diário do mercado acionário é, relativamente, muito diminuto: R$ 29,8 bilhões em 2022, abaixo de R$ 33,4 bilhões alcançados em 2021. Para comparação, em novembro de 2022, os detentores dos títulos federais em poder do público possuíam R$ 5,6 trilhões aplicados neles e negociaram no mercado secundário a média diária de R$ 1,86 trilhão, sendo 96% em operações compromissadas.

Em 2018, o número de contas de investidores PF na B3 era de 814 mil e, em dezembro de 2020, foi atingida a marca de 3,2 milhões com a fuga da renda fixa para a renda variável. No primeiro semestre de 2021, atingiu a marca de 3,8 milhões de contas de investidores PF. Com o número de investidores, houve uma queda no saldo mediano de ações à vista em custódia de R$ 6 mil no 3º trimestre de 2021 para R$ 3 mil no de 2022.

A participação dos investidores PF caiu de 21,4%, alcançado em 2020, para 12,7% em dezembro de 2022. Em contrapartida, os investidores institucionais (fundos de ações e de pensão) participam com 26%, mas os especuladores estrangeiros com 57% são “quem dá as cartas”. Instituições financeiras detêm apenas 4%.

Por qual razão gente de o mercado prioriza a responsabilidade fiscal em lugar da responsabilidade social de um governo não eleito com seu apoio? Criticam as declarações do presidente Lula contra privatizações, reforma trabalhista, responsabilidade fiscal e, arrogantemente, dizem: “‘Lula só fará um bom governo se abandonar ideias econômicas do Partido dos Trabalhadores”. Ora, ora, pregam um estelionato eleitoral a favor do fracassado neoliberalismo?!

A ideia-chave da esquerda, explicitada por Lula em sua posse, é a diminuição da pobreza e da desigualdade social. A direita acha essa “sorte do berço” ser “natural”…

A propósito do combate à desigualdade, uma das batalhas – fora o uso da tributação progressiva – será extremamente difícil. O tão idolatrado regime monetário, para atingir meta de inflação, é justificativa para a taxa de juros disparatada em relação às do resto do mundo, fixada pela autonomia o Banco Central do Brasil. É o maior juro real mundial.

Faça as contas: em alguns bancos, já é cliente Private Banking quem tem volume de negócios acima de R$ 5 milhões. No total, são 66 mil grupos familiares e 147 mil CPFs. O volume financeiro deles alcançou R$ 1,883 trilhão, ou seja, R$ 12,818 milhões per capita.

O volume financeiro total variou “apenas” 5,74% no ano até novembro de 2022. Os ricaços diminuíram a participação de ações na carteira total de 34% em dezembro de 2021 para 31% naquela data. Mas não fugiram delas de maneira suficientemente rápida.

Os rendimentos das aplicações em fundos e renda variável ficaram bem abaixo dos 12% de quem aplicou apenas em renda fixa (CDI). Com juros de 1% ao mês (equivalentes a 13,75% aa), R$ 5 milhões rendem R$ 50 mil em um mês ou R$ 634 mil por ano com juros compostos. Só. Isto com risco soberano e sem risco do mercado de ações ou dólar.

Alguns economistas dizem a inflação ser um conflito distributivo. No Brasil, a resolução desse antagonismo, no Regime de Meta de Inflação, é a favor de quem detém capital, acentuando a desigualdade distributiva… Daí se entende sua defesa do status quo.

É lamentável a atuação dos pobres crentes, submissos à doutrinação dos pastores “evangélicos” (sic), e dos machos alpha (dominantes e confiantes) sem abandono da doutrina da Guerra Fria da época de prestação de serviço militar obrigatório. O anticomunismo anacrônico é, para essa gente iletrada, apenas uma falsa justificativa, se comparado a qualquer ameaça do comunismo, enterrado há décadas.

Esses idiotas – sem consciência do dano feito à própria reputação e aos demais cidadãos – expressam um delírio coletivo contínuo, em seu mundo paralelo, baseado em fakes news circulantes em suas câmaras de eco. Defendem um nacionalismo autoritário, religioso, conservador em costumes e armamentista, sob jugo militar. Não à toa, jugo ou canga é uma peça de madeira encaixada sobre a cabeça dos bois…

Uns só leem a Bíblia, caso consigam a ler, outros nada leem a não ser “uotzap” da sua turma com viés de autoconfirmação. No caso deles, como a maioria aparenta ser composta de idosos, não terão salvação, pois carregarão a ignorância até os túmulos.

Afinal, quem é esta turma de golpistas pregadores da ditadura militar, promotores de quebra-quebras e responsáveis por atos terroristas? Ninguém da imprensa ou de institutos de pesquisas se aventurou a levantar, presencial e diretamente, o perfil socioeconômico (gêneros, faixas etárias, faixas de renda etc.) e educacional desses vagabundos acampados por dois meses em frente aos quarteis.

A melhor fonte de informação atualizada a respeito é a Avaliação do Governo Jair Bolsonaro e Expectativa sobre Governo Lula, relatório da pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha em dezembro de 2022. Não mostra diretamente o perfil do “gado” em frente aos quarteis militares, mas demonstra a reação da opinião pública.

Três em cada quatro brasileiros (75%) se posicionam contra os protestos de apoiadores do ex-presidente fujão. Desde o fim do segundo turno da disputa presidencial, realizam bloqueios de rodovias e acampam em frente a quartéis, exigindo intervenção militar contra os resultados das eleições. Há 21% favoráveis a esses protestos, e os demais são indiferentes (3%) ou não opinaram (1%).

Os índices de apoio aos protestos clamando por intervenção militar são mais altos nas regiões Sul (28%) e no Norte e Centro-Oeste (29%), entre os mais ricos (36%), no segmento evangélico (31%) e entre empresários (39%). Lamentavelmente, são indicadores do baixo nível cultural (e democrático) existente nessas regiões e faixas sociais.

Entre quem votou em Bolsonaro, no segundo turno da eleição, 44% são a favor desses protestos, e 50%, contra, com 6% indiferentes ou sem opinião. Para 56%, as pessoas em mobilização a favor um golpe militar e contra a Constituição devem ser punidas, porque ela dita o respeito ao resultado da eleição e à alternância democrática de poder.

Entre os eleitores de Bolsonaro na disputa contra Lula, no segundo turno, 67% são contra a punição dos acampados pedindo um golpe militar, e 29%, a favor. No eleitorado do petista, 81% avaliam ser necessário haver punição, só para 15% essas pessoas não devem ser punidas.

Considerando uma escala de 1 a 5 onde 1 significa ser bolsonarista e 5, petista, 32% se colocaram na posição 5, de petista, e 9%, na posição 4, inclinados ao petismo. A posição intermediária (3) abrange 20%, e 25% se colocam na posição 5, de bolsonaristas, com 7% na posição 2, inclinados ao bolsonarismo. Há 5% sem se encaixar em nenhuma das posições na escala, e 1% não respondeu. São 41% esquerdistas contra 32% direitistas.

Entre os mais pobres, na faixa de renda familiar de até 2 salários-mínimos, 40% se posicionam como petistas, e 21%, como bolsonaristas. Na faixa da classe média baixa, de 2 a 5 salários, esses índices em 24% e 30%, respectivamente, e essa tendência se mantém entre quem tem renda de 5 a 10 salários (21% a 25%), ou seja, classe média alta. Entre os mais ricos, 40% se posicionam como bolsonaristas, e 13%, como petistas.

Na parcela de brasileiros votantes em Lula, no segundo turno da eleição de 2022, 63% se posicionam como petistas, 15% se inclinam ao petismo, na posição 4, e 16% estão na posição intermediária. Entre quem votou em Bolsonaro, 56% se posicionam como bolsonaristas, 14% se colocam próximos ao bolsonarismo, na posição 2, e 3% estão na posição intermediária da escala.

Está explicada a necessidade desse governo eleito de Frente Ampla democrática ser contra a extrema-direita e a favor dos pobres? (FERNANDO NOGUEIRA DA COSTA)

VOZ DO PARÁ: Essencial todo dia!

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