Desde o dia 23 de julho os olhares do mundo têm se voltado para o Japão. A começar pela abertura dos jogos olímpicos de verão com um ano de atraso, que chamou a atenção pelas arquibancadas vazias, mais do que pelos efeitos tecnológicos ou pela apresentação mais austera. Enquanto discutíamos no Brasil a volta do público aos estádios de futebol com menos de 50% da população vacinada com a primeira dose da vacina contra a Covid-19, os japoneses optaram pelo rigor que o momento ainda exige, mesmo que isso custasse a emoção e vibração com as superações que o esporte sempre nos traz. Mas não são apenas as arquibancadas que nos chamam atenção. Mais do que isso, os jogos de Tóquio têm demonstrado o quanto a pandemia afetou de forma desigual o mundo, os países, e claro, os atletas.
No primeiro dia de competições as redes sociais repercutiram a ausência dos Estados Unidos na primeira página do quadro de medalhas. Por outro lado, chineses e japoneses logo deram as caras nas primeiras posições respectivamente. Como era de se esperar, os dias se seguiram e a configuração das medalhas também. No dia em que escrevo esse texto, à exceção do Comitê Olímpico da Rússia (4º lugar), os dez primeiros no ranking da disputa por medalhas são países desenvolvidos em termos econômicos e sociais. O Brasil vem logo atrás, no 14º lugar, com cinco medalhas. Esse número poderia ser maior (e torço que ainda seja), caso o esporte fosse tratado da mesma maneira que o é entre os dez primeiros países que estão à nossa frente. Não há dúvidas que nossos atletas são mais do que vencedores esportivos, são vencedores na vida. O que dizer de histórias de superação com a de Ítalo Rocha, da infância pobre no Rio Grande do Norte para o ouro em Tóquio? Mesmo sem patrocínio, em condições precárias de treinamento, sem apoio estatal, os atletas brasileiros chegaram em Tóquio com a mesma garra como se o cenário fosse o oposto.
É importante lembrar que a precariedade das condições esportivas brasileiras conserva também uma relação direta com o ensino em nosso país, já que a prática esportiva quase sempre é limitada não só pelas condições materiais insuficientes, mas também pelo descaso com a própria Educação Física. Essa disciplina, quase sempre negligenciada ou estereotipada pelo famoso “rola a bola” nas escolas, vai além do desempenho em modalidades esportivas. Ela tem um papel fundamental na formação de um pensamento crítico e reflexivo nas questões políticas, sociais, culturais e de gênero entre outras que envolvem as práticas corporais. No caso das Olimpíadas de Tóquio, manifestações como das atletas alemãs e norueguesas a favor da livre escolha dos trajes a serem utilizados nas competições de ginástica, ou mesmo o uso do véu pelas atletas islâmicas, mostram o quanto abordagens mais amplas dos esportes são importantes e necessárias, como também comprovam que a Educação Física vai além do ensino da técnica e das regras esportivas.