O que é o Hamas e quem o apoia?

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Desde 2007 a organização detém poder político na Faixa de Gaza e nega a existência do Estado de Israel. A partir do território, executa agora as ofensivas aéreas palestinas mais intensas da história do conflito. Ismail Haniyeh (centro da imagem) é o líder político do Hamas

O termo “radical islâmico” é repetidamente empregado pelos meios de comunicação em relação ao grupo palestino Hamas. Na sequência da mais recente escalada do conflito israelo-palestino, contudo, a denominação tem variado, e se passa a falar cada vez mais de “organização terrorista”.

A maioria das nações ocidentais igualmente adota uma classificação semelhante. Exceções são a Noruega e a Suíça, que seguem mantendo contatos com o Hamas, evocando o princípio da neutralidade, e outros vão ainda mais longe em seu apoio. A organização detém também o poder político na Faixa de Gaza desde 2007.

Como o Hamas chegou a sua posição atual?

O Hamas foi fundado na segunda metade da década de 1980, desde o início como oposição à Organização pela Libertação da Palestina (OLP) de Iasser Arafat. É controvertido se, nos seus primórdios, o grupo não teria sido até mesmo apoiado com verbas do governo israelense, como um contrapeso – uma teoria que hoje todos os lados repudiam.

Ao contrário da OLP, o Hamas nega a existência do Estado de Israel. Seu emblema mostra o Domo da Rocha de Jerusalém e, entre bandeiras palestinas, o contorno de um Estado palestino incluindo também Israel.

No âmbito do Processo de Oslo, Arafat selou a paz com Israel em 1993, desse modo dando fim à primeira Intifada. Porém o Hamas não reconheceu a decisão e seguiu perpetrando atentados em território israelense. Nas eleições de 2006 na Faixa de Gaza, obteve maioria absoluta, consolidada um ano mais tarde por uma espécie de golpe de Estado.

Desde então, os territórios palestinos estão separados não só geográfica, como também politicamente, já que a Cisjordânia é governada pelo partido moderado Al Fatah, liderado por Mahmud Abbas. Enquanto isso, a partir de Gaza, o Hamas prossegue os ataques a Israel, definidos como “legítima defesa”, além de ter travado três acirrados combates com as Forças Armadas israelenses, em 2008-09, 2012 e 2014.

Céu noturno iluminado por trajetos de mísseis

Ataques aéreos maciços do Hamas testam os limites do sistema antiaéreo israelense

Quem apoia o Hamas?

A Faixa de Gaza é uma das áreas mais densamente habitadas do planeta, e basicamente isolada economicamente, tendo fronteiras fortificadas com Israel e o Egito, no sul e no norte, assim como o Mar Mediterrâneo a oeste.

Grande parte de sua população vive em pobreza extrema e depende de assistência humanitária – a qual, contudo, foi significativamente reduzida por pressão do ex-presidente americano Donald Trump. O Hamas cava repetidamente túneis, sobretudo em direção ao Egito, para tráfico de armas, algo que vai contra os interesses do Cairo.

O Catar é um dos principais patrocinadores e aliados estrangeiros do Hamas. Já lhe transferiu, até agora, o equivalente a mais de 1,8 bilhão de dólares. Em 2012, seu emir foi o primeiro chefe de Estado a visitar a liderança do grupo islâmico em Gaza. No entanto Tel Aviv espera que, da mesma forma que diversos outros Estados árabes, o Catar se filie ao “Acordo de Abraão” iniciado por Trump, e assuma relações diplomáticas com Israel.

Outro aliado importante do Hamas é a Turquia. Ainda pouco antes das mais recentes ofensivas aéreas do Hamas, o presidente Recep Tayyip Erdogan lhe prometera respaldo, numa conversa com o líder político da organização, Ismail Haniyeh.

De onde vêm os foguetes?

Já do ponto de vista puramente numérico, os disparos de foguetes, que desde a segunda-feira (10/05) o Hamas dirige contra Israel, superam todos os auges anteriores de escalada no conflito israelo-palestino.

Na terça-feira, o grupo declarou haver lançado 130 projéteis em poucos minutos – uma quantidade que testa os limites até mesmo do sistema antimísseis israelense Iron Dome (Domo de Ferro), cujos mísseis antiaéreos são bem mais ágeis, precisos – e também mais caros – do que os do adversário.

Até a sexta-feira, as Forças Armadas de Israel contavam mais de 1.800 foguetes lançados a partir de Gaza, a maior parte proveniente do Irã. O analista Fabian Hinz, especializado em armas do Oriente Médio, comentou à emissora alemã ZDF: “Era sabido que diversos grupos haviam ampliado fortemente seus arsenais, e que dispunham de milhares de foguetes, como amplamente confirmado por fontes israelenses.”

O jornal Jerusalem Post, por exemplo, citou fontes do serviço secreto segundo as quais o arsenal do Hamas conteria de 5 mil a 6 mil foguetes. A estes se acrescentariam os até 8 mil projéteis em poder do grupo Jihad Islâmico, o qual em parte coopera com a organização palestina.

Hinz explica que, por muito tempo, os foguetes iranianos foram contrabandeados através do Sudão, chegando à Faixa de Gaza pela fronteira com o Egito. Esse tráfico, contudo, já não é mais tão fácil desde que o ditador sudanês Omar al-Bashir foi deposto em 2019. Atualmente, contudo, o Hamas construiria seus próprios foguetes na própria Faixa de Gaza, em parte com ajuda estrangeira.

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