Defender a Ucrânia, mas não a Palestina, faz com que os EUA e seus aliados pareçam dúbios, disseram autoridades ao Financial Times
As tentativas dos EUA e dos seus aliados de “pintar Moscou como um pária global” foram “envenenadas” pela sua pressa em apoiar a retaliação israelita contra o Hamas em Gaza, informou o Financial Times na quarta-feira, após consultar várias autoridades.
As nações ocidentais há muito que enquadram o conflito na Ucrânia como um ato de “agressão espontânea” e criticam Moscou pelo sofrimento dos civis.
No entanto, as mesmas nações parecem relutantes em condicionar o seu apoio a Israel ao exercício de contenção, na sequência da incursão mortal do grupo militante palestiniano Hamas, no início deste mês. Israel cortou os fornecimentos essenciais a Gaza e a submeteu a intensos bombardeiros.
“Perdemos definitivamente a batalha no Sul Global”, teria dito um diplomata do G7. “Todo o trabalho que fizemos com o Sul Global [sobre a Ucrânia] foi perdido… Esqueçam as regras, esqueçam a ordem mundial. Eles nunca mais nos ouvirão.”
“O que dissemos sobre a Ucrânia tem de se aplicar a Gaza. Caso contrário, perderemos toda a nossa credibilidade”, acrescentou outra autoridade. “Os brasileiros, os sul-africanos, os indonésios: por que deveriam acreditar no que dizemos sobre direitos humanos?”
Uma liderança árabe notou a flagrante falta de consistência: “se você considera o corte de água, alimentos e eletricidade na Ucrânia como um crime de guerra, então deveria dizer a mesma coisa sobre Gaza”.
O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, foi confrontado sobre o assunto na CNN. O apresentador Jack Tapper enfatizou que “civis são civis”, independentemente de onde residam. O responsável recusou-se a dizer se Washington estava a pressionar Israel para permitir a entrada de suprimentos em Gaza.
De acordo com o The Huffington Post, o Departamento de Estado dos EUA instruiu na semana passada diplomatas de alto nível que trabalham no Oriente Médio a não usarem três frases específicas em relação ao conflito Israel-Palestina: “desescalada/cessar-fogo”, “fim da violência/derramamento de sangue” e “paz”.
Esta semana, um projeto de resolução proposto pela Rússia, denunciando a violência contra civis e pedindo um cessar-fogo, foi rejeitado pelo Conselho de Segurança da ONU. Outro apresentado pelo Brasil foi posteriormente vetado pelos EUA, após 12 membros votarem a favor.
A Rússia absteve-se na segunda proposta, depois da sua alteração para incluir um pedido de trégua ter sido rejeitada.
“Vocês, colegas, certamente apresentarão alguma justificativa formal usando uma ‘linguagem desonesta’, mas neste contexto soam patéticas. Vocês fizeram suas escolhas”, disse o enviado de Moscou, Vassily Nebenzia, sobre a não aprovação do texto.