Oito bilhões de almas

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Solidão e isolamento passa a ser cada vez mais difícil e raro diante de panorama

Muito em breve chegaremos a oito bilhões de almas sobre o planeta. Oito bilhões de almas a comerem e beberem – nem todos conseguem – a rirem e chorarem nesse vale muito mais de lágrimas do que de risos. Oito bilhões a tentarem se alimentar com garfos, facas, colheres, hashis, cuias, mãos, gente demais a poluir rios e mares , desfiladeiros e arrecifes, gente comendo bicho, bicho comendo lixo e a roda da história misturando, triturando, fazendo com que nem uma única misera paisagem seja inédita, nem uma única livre dos olhos humanos. Solidão e isolamento passa a ser cada vez mais difícil e raro diante desse panorama.

Então, para não espalhar inquietação e burburinho em todos os quadrantes dos mapas, fiquemos com os 220 milhões de brasileiros, nossa cota nos oito bilhões, e veja tanta gente a percorrer insatisfeita os supermercados e os shoppings em busca daquilo que não podem comprar mas querem. Em busca do que não podem pagar mas almejam pois só assim se imaginam socialmente aceitos. E toma cabelo feio, unha comprida e pintada, pouca noção de asseio e elegância, tome figurino de oncinha e capenga, tome cafonália generalizada e autofalantes altos anunciando tolices que ninguém precisaria comprar.

Na televisão tome novelas recicladas, gente sem ética se digladiando, toneladas de influencers e coachings a pedir sua atenção com os mesmos “e aí galera?”, “tudo bem com vocês?” e blábláblá interestelar a vender teses de caos e rejuvenescimento, falsas sensações de juventudes e fakes alumbramentos.

E dá-lhe bumbuns e dancinhas, trancinhas e cores berrantes, absoluta exibição de burrice ostentação, eletrônicos e planetários sujeitos e sujeitas plugados na escravidão digital incandescente. Isso foi muito além do tropicalismo, da pipoca moderna, das semanas de arte fundidas, dos fundilhos da mimetização das culturas.

Vende-se como pop o que é lixo, vende-se lixo como se ouro fosse, vendem-se tendências e debates onde não há uma base de ideias e sim bolhas de sabão retóricas proferidas pelos mesmos tristes cavaleiros e damas do após apocalipse porque, sim, o apocalipse já chegou mas não foi anunciado. Vem chegando assim diluído no meu , no nosso coração da matéria sofrido. Uma novalgina diária que a gente consome e nem consegue amenizar as nossas múltiplas febres. Mais de 220 milhões de brasileiros, parte dessa imensa massa fecal de oito bilhões de humanos que poderiam ter convertido o planeta numa esfera azul borbulhante de beleza e empatia mas que na verdade leva adiante unicamente e na grande maioria a tese de que vencedor é quem diz sim , perdedor e fracassado é quem não tem carro e casa própria, muito menos férias em Miami ou em Cancun. O mundo todo querendo virar uma Dubai , tão bem simbolizada no mix de aridez desértica e consumo inócuo. Se nem as calotas polares derretidas esfriam essa febre consumista e suicida como não pensar que essas oito bilhões de almas humanas estão definitivamente perdidas ? (por Ricardo Soares)

VOZ DO PARÁ: Essencial todo dia!

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