Os Engenheiros do Caos e a construção da democracia sob mentiras

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
E mais uma vez em discussão as notificas falsas, os líderes populistas galgando o poder, eleitos inclusive por votos de (falsos) intelectuais

O nome deste artigo é o título do livro de Giuliano Da Empoli, e que, segundo “Le Monde”, Os engenheiros do Caos “descobriram que a democracia da era do narcisismo de massa e das redes sociais oferece possibilidades inesperadas de mobilização social.”, conforme consta da aba do livro aqui mencionado.

E mais uma vez em discussão as notificas falsas, os líderes populistas galgando o poder, eleitos inclusive por votos de (falsos) intelectuais. Na contra capa deste livro também há uma frase preocupante e que merece reflexão, até mesmo psicanalítica, no momento presente, considerando que repercute no futuro, de Mark Twain, no sentido de quer: “Uma mentira pode dar a volta ao mundo enquanto a verdade leva o mesmo tempo para calçar os sapatos”.

E a falsa democracia surge com as “Fake news”, a começar pela Itália, de julho de 2018, quando assume o novo presidente do Conselho de Ministros, Giuseppe Conte, que chega ao poder sem expressão política reconhecida e contando com uma séria de estranhas coincidências.

E a exemplo do que aconteceu no Brasil, com relação a um Ministro nomeado pelo governo atual, o “curriculum vitae on line” de Conte também estava repleto de notícias falsas, com desmentidos das universidades mais prestigiadas do mundo (Cambridge e Sorbonne), posto que não houvesse registro da passagem deste Ministro pelos bancos daquelas Universidades.

Porém, Conte, mesmo desmentido, continuou no poder e sua ascensão à cúpula das instituições italianas prosseguiu, como se nada tivesse acontecido; como se a mentira valesse a pena, uma vez desprezada a exigência e o caráter de cada um.

E, com a ascensão de Conte, dois líderes políticos do Movimento 5 Estrelas e da liga puderam ocupar o poder, logo abaixo dele. Assim é que Luigi Di Maio foi nomeado vice-presidente do Conselho e ministro da Indústria e do Trabalho, homem que dirige do Movimento 5 Estrelas e que acabou deputado se distinguindo “graças à sua inefável capacidade de dizer tudo – e também o contrário – no espaço de poucas horas; e de protagonizar gafes e fake news em série.” (cfr. Os Engenheiros do Caos, p. 14, Ed. 2020).

Assim, Luigi Di Maio se tornou homem forte, coroado pela Time Magazine como uma Europa de cara nova. Porém, há outro vice-presidente, Matteo Salvini, que, como ministro do interior, usa da internet “diariamente para espalhar o medo e incitar o ódio racial. A partir do início do seu mandato, muitas dezenas de vídeos virais postados por Salvini referem-se a delitos cometidos por negros ou clandestinos, de casos mais graves a acontecimentos mais triviais” (Os Engenheiros do Caos, p. 15), colocando a população italiana contra essas pessoas, inclusive contras os muçulmanos. Para ele, pouco ou nada importa se os fatos são verídicos, disseminando-os assim mesmo.

Também e segundo Da Empoli, no livro base para este artigo, os políticos italianos, além de desconhecido do público italiano cometem gafes diárias, negando a existência de famílias “gays”; afirmando que os aviões espalham na atmosfera agentes químicos ou biológicos; não acreditando da chegada do homem à lua etc. Portanto, as mentiras falsas produzem os seus políticos, razão da realimentação ou da reprodução da mentira mundo adentro.

E o populismo não está restrito apenas à Itália, se alastrando por todos os continentes, causando preocupação diante do atropelo das regras democráticas estabelecidas ao longo de várias décadas e que não poderiam ser olvidadas, para que exista uma real democracia e também para que não haja perigo de retrocessos.

A preocupação, conforme ressalta o escritor Da Empoli, p. 17-18, é que “Os defeitos e vícios dos líderes populistas se transforam aos olhos dos eleitores, em qualidades. Sua inexperiência é a prova de que eles não pertencem ao círculo corrompido das elites. E sua incompetência é vista como garantia de autenticidade. As tensões que eles produzem em nível internacional ilustram sua independência, e as fake news que balizam sua propaganda são a marca de sua liberdade de espírito.”.

E demonstrando que está atualizadíssimo com a atual dinâmica política e que sua preocupação realmente persiste inclusive no momento atual e nas próximas eleições, Da Empoli continua afirmando, p. 18, lastreado nas palavras, fatos e atos dos governantes: “No mundo de Donald Trump, de Boris Johnson e de Jair Bolsonaro, cada novo dia nasce com uma gafe, uma polêmica, a eclosão de um escândalo. Mal se está comentando um evento, e esse já é eclipsado por um outro numa espiral infinita que catalisa a atenção e satura a cena midiática. “.

Entretanto, por trás destes acontecimentos estão os trabalhos dos spin doctors, ou seja, de consultores políticos que tem o cuidado de, em consonância com o rumo das pesquisas eleitorais, mudar a tendência a favor de um candidato que se elege prometendo algo ou criando situações que na maioria das vezes não poderá ser cumprida ou até mesmo inventando dados, inclusive contra os seus adversários político, que passam a ser vistos como inimigos, a serem abatidos.

Portanto, podemos chamar esses político de bonecos da internet e de outras ferramentas tecnológica e que também mais uma vez os meios justificam os fins, que é o de ser eleito, a quaisquer custos, pouco importando as absurdas promessas feitas quando da campanha eleitoral.

O eleitor tem memória curta e se agraciado com algo, continuará eleitor. Depois, aqui vale o velho adágio, no sentido de que a mentira contada várias vezes infelizmente se torna verdade, infelizmente.

VOZ DO PARÁ: Essencial todo dia!

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