Apesar de muito voláteis, as postagens do Facebook podem nos ensinar coisas simples. As pessoas estão com cada vez mais dificuldade em conviver com as diferenças, isso é óbvio. E nisso me incluo. Mas é uma pena (Reprodução)
Postagens de Facebook conseguem ser ainda mais voláteis do que crônicas. Num passado nem tão remoto se diria que as crônicas serviam para embrulhar peixes e legumes na feira do dia seguinte. Hoje, virtuais, as crônicas, quando muito, embrulham estômagos.
Mas não vim aqui hoje para falar disso e sim para me certificar com vocês de como, apesar de muito voláteis, as postagens do Facebook podem nos ensinar coisas simples. Uma delas é que quando se posta algo que gera muitas curtidas e comentários o primeiro passo é abrir mão do ego pensando “acertei”. Se gerou reação expressiva, independente do seu número de amigos, é porque alguma coisa tem ali. E não estou falando desse lamentável “Fla-Flu” político.
No meu caso mais recente – cada leitor deve ter o seu, suponho -, fiz uma simples pensatinha sobre o fenômeno ainda pouco explicado dos ex- amigos apenas pra me livrar de um fato recente que me incomodou um pouquinho (até porque o personagem envolvido foi muito próximo). Mantivemos intensa troca de cartas – ah, a época das cartas – enquanto ele viveu no exterior, onde o visitei e fui muito bem recebido há décadas atrás.
O caboclo em questão mudou muito como todos nós mudamos. De militante de esquerda, duro e combativo, tornou-se um liberal, defensor do livre mercado, suposto eleitor do Novo com, suponho, uma renda bem consistente levando em conta a que tinha no passado. Alguns diriam que esse caboclo se deu bem e melhorou. Outros lamentariam as suas escolhas.
Na verdade, de maneira talvez leviana, eu disse a ele apenas um “quem te viu, quem te vê”. Minha memória me trai, mas foi só isso mesmo, creio. Mas bastou para que ele, esquecendo um passado de amizade e cumplicidade, passasse a me ignorar. A princípio achei ter sido engano, quando não me respondeu a um convite afetuoso pra lançamento de um livro há quatro anos. Então agora mandei a segunda mensagem só para tirar a prova. E fui solenemente ignorado, o que é uma resposta mais que contundente na medida que lhe lembrava de uma geografia londrina e significativa do nosso passado.
Pois diante disso, meu Facebook foi invadido por considerações muitas sobre como esse tipo de atitude é mais comum do que imaginava a minha vã filosofia. E o tema “ex- amigos” é mais pulsante do que se poderia supor a ponto de eu desejar ler algo mais consistente sobre o tema. Algo como um “tratado geral sobre a amizade”. Aliás, aceito recomendações não só nos comentários aqui dessa crônica, como nas minhas redes sociais.
O meu ex- amigo, que eu não supunha ex, deu seu recado taxativo: siga fora da minha vida. Mas, pelos momentos idos e vividos, eu lamento. As pessoas estão com cada vez mais dificuldade em conviver com as diferenças, isso é óbvio. E nisso me incluo. Mas é uma pena. Ex-amigo é uma categoria com a qual ainda não estou acostumado a lidar. Portanto resta abraçar com força os que ficam e abrir os braços para os poucos que ainda chegam. (por Ricardo Soares)
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