Pinóquio

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Faltou um algo mais nessa escuridão mágica

Confesso que fiquei animada com mais esse live-action de histórias da minha infância, especialmente depois de assistir às prévias e às imagens que precederam o lançamento de Pinóquio (Pinocchio, 2019), do diretor Matteo Garrone, tão deslumbrantes aos olhos que emocionavam. Além disso, a promessa de uma abordagem mais sombria me agradaram particularmente bastante, fã que sou desse tipo de obra. Porém, minhas expectativas quanto ao filme depois que finalmente consegui assistir a ele, não se confirmaram.

Está tudo ali, a construção do boneco, o Grilo Falante, a desobediência de Pinóquio (Federico Ielapi) em ir para a escola e, ao invés disso, fugir para se divertir, o encontro com a raposa que o leva para o mau caminho, as mentiras para a Fada Azul, o nariz crescendo, a transformação em burro etc., etc., etc., tudo aquilo que conhecemos da famosa história. Porém a película ficou muito mais lúdica do que eficiente, soando até mesmo um pouco pretensiosa demais, fora alguns detalhes que deixaram a desejar.

É claro que o filme é lindo cinematograficamente falando. Os planos gerais de Garrone, bem como o jogo de luz e sombras que ele faz o tempo todo, são realmente encantadores e o figurino é algo notável que não passa despercebido nem aos olhos menos atentos. É uma riqueza formalística que contrasta diretamente com a extrema pobreza que o diretor teve a intenção e o sucesso de demonstrar.

Porém, de certa forma, mesmo levando em consideração o caráter bucólico intrínseco da história do boneco de madeira, o diretor às vezes pesa a mão em sua versão fílmica. Para começar, o Grilo Falante dá muito medo e, além disso, sendo ele um dos personagens mais importantes do enredo, representando a própria consciência de Pinóquio, depois de duas três cenas o inseto é completamente esquecido. Aqui, Garrone quis dar um peso muito maior à Fada Azul (Marine Vacth) que, aliás, é a melhor coisa do filme, mas a ausência do Grilo se faz sentir. Ademais, o diretor também tenta inserir alguns alívios cômicos que não são assim tão eficientes, servindo apenas para acrescentar alguns minutos a mais ao seu longa. E finalmente, a cena mais marcante da história, a da baleia que engole Pinóquio e seu pai, Gepeto (Roberto Benigni), é extremamente desagradável. Se alguém puder explicar a necessidade de trocar a baleia por um monstro esquisito chamado peixe-cão, por favor, o faça.

Sendo assim, não faltou esforço, não faltou dinheiro e estou convencida das boas intenções na produção do filme. Juro que tentei apreciar essa película, e até agradeço por ela existir, mas o fato é que nunca gostei de Pinóquio. Essa história jamais chegou ao meu coração como tantas outras o fizeram, seja na infância, ou mesmo agora. Talvez seja porque o próprio boneco, por trás de sua aparente fofura, seja um tanto chato, desobediente, e até, porque não dizer, ingrato.

Ainda, a presença do superestimado Roberto Benigni também não é nada que ajude a elevar o carisma do longa.

Dessa feita, está entre nós mais um live-action baseado num clássico que, apesar belo, deixa a desejar. Faltou alguma coisa. Faltou aquele algo a mais que faz sorrir depois que os créditos começam a subir.

por Flávia Leão – Publicado originalmente em O Cinema é

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