Podres e instagramáveis poderes

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
As eleições de outubro serão como nenhuma outra. O poder hoje não está mais centralizado nos palácios de governo. Foto (AFP)

Na trajetória do poder no Brasil houve um primeiro Dom Pedro que declarou independência e um segundo, derrubado por um golpe militar para dar lugar à república; depois houve Vargas, o pai dos trabalhadores que saiu da vida para entrar na história, não sem antes também dar o seu próprio golpe com a criação do Estado Novo, em 1937. Daí, sofremos outro golpe militar, perpetuado durante vinte anos de ditadura. Com a volta da democracia e após anistiados indiscriminadamente torturados e torturadores, pudemos ir às urnas para eleger o primeiro presidente civil após um jejum de quase três décadas; um fiasco que acabou em impeachment.

Após o trauma, o Plano Real de Itamar Franco trouxe algum alento até que, finalmente, um operário foi alçado ao Planalto e a fome foi debelada dentro de nossas fronteiras. Como alegria de pobre dura pouco, sofremos outro golpe e novo impeachment – dessa vez deflagrado contra a primeira mulher eleita presidenta. Hoje, Brasília não passa de um filme B de terror; coprodução entre generais e uma milícia digital criminosa que sustenta a necropolítica praticada pela famiglia Bolsonaro.

Peça chave no xadrez político do país e apoiadora dos dois golpes mais recentes, a Rede Globo foi de “filhote da ditadura”, como dizia Leonel Brizola, a inimiga pública número um do regime.

Além dos incontáveis instagramers e youtubers a inflacionar as redes sociais com pura autopromoção, cada vez mais autoridades dos três poderes do país estão se dando ao desplante de trilhar o mesmo caminho. A proliferação de plataformas de mídia na internet democratiza o direito à opinião e aumenta exponencialmente a circulação das notícias, porém, tanto faz se baseadas em fatos ou factóides – esta a grande questão.

O poder hoje não está mais centralizado nos palácios de governo ou nas assembleias legislativas de estados ou da União; espalha-se pela internet afora e, se nem todos são mesmo agentes deste processo, a impressão que fica é outra. Só por compartilhar um post previamente publicado o sujeito já se acha um digital influencer. Não influencia ninguém, porque seu alcance se restringe àqueles amigos em rede que já concordavam com ele.

Sobre as eleições deste ano, é possível afirmar que a informação não virá das redes sociais, já terminalmente contaminadas pelo sectarismo. A imprensa em geral e especialmente o telejornalismo têm um desafio monstro pela frente e cada emissora deverá escolher um lado: o da legalidade ou o da indecência.

No caldeirão fervente da política nacional – cujo horizonte já projeta a possibilidade de mais um golpe -, a informação isenta será uma arma preciosa contra o clientelismo e a instalação de qualquer projeto de poder que se ancore no autoritarismo. Record, SBT e Rede TV! já trabalham a pleno vapor pela reeleição de Bolsonaro e seus telejornais não se esforçam em disfarçar este fato. O jornalismo da Band segue como o mais confiável e deve permanecer assim.

Há que se ver como se comportarão a TV Cultura e a Globo, os casos mais interessantes neste cenário. A primeira, por ter candidato (se não a presidente, a governador em São Paulo com certeza) e a segunda pelo motivo oposto. Pela primeira vez, a Globo não estará apoiando ninguém e será muito curioso acompanhar a sua cobertura das eleições. Estará pisando em terreno virgem, sem saber previamente como se comportar. Talvez até consiga ser isenta, o que será uma enorme novidade em sua trajetória.

Originalmente no Dom Total

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