Polêmica: o turismo de vacina

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
No Brasil, a demora da vacinação tem levado algumas pessoas a buscarem alternativas individuais para se proteger da contaminação

A vacina contra o coronavírus chegou para grande parte do mundo, mas a velocidade e a eficiência na aplicação das doses tem variado muito.

Os Estados Unidos e a China, por exemplo, são responsáveis por mais de 45% das doses já administradas em todo o planeta. Enquanto isso, Israel aplicou 120 vacinas para cada 100 habitantes. Nosso vizinho, o Chile, também tem avançado na vacinação, com 74 pessoas a cada 100 habitantes.

No Brasil, a demora da vacinação tem levado algumas pessoas a buscarem alternativas individuais para se proteger da contaminação. Uma delas é viajar para países onde é possível ser vacinado sem necessidade de comprovação de residência.

Um dos principais destinos dos brasileiros são os Estados Unidos, onde as doses estão sendo aplicadas sem muita burocracia. Na Flórida, cerca de 52 mil pessoas de fora do estado tinham sido vacinadas até o final de abril.
Já em Nova Iorque, as autoridades locais estimam que 25% das vacinas foram aplicadas em pessoas não residentes no estado. Diante disso, estados como Texas e Califórnia passaram a exigir comprovantes de residência para a aplicação da vacina.

A entrada dos brasileiros nos Estados Unidos, na realidade, está dificultada desde maio de 2020. Para quem tem residência, cidadania ou familiares que moram no país, a viagem para o país fica mais fácil.

Já para os brasileiros que podem pagar a passagem, a alternativa é fazer quarentena em outros países. É o caso do México, onde os “turistas da vacina” vão em direção ao norte. Os mexicanos são maioria entre esses turistas da vacinação, tendo em vista que o país vacinou apenas 6% da sua população.

Os brasileiros e os mexicanos não são os únicos que estão pagando para viajar para o exterior e se vacinar. A Alemanha passa por uma situação parecida. O país está avançando muito lentamente na vacinação em comparação com seus vizinhos europeus. Curiosamente, essa situação tem impulsionado até mesmo novos negócios. 

Aproveitando a oportunidade, agências de turismo da Alemanha estão oferecendo pacotes de viagem para países com vacinação facilitada, unindo atividades como praias e surfe à aplicação da dose do imunizante.

Alguns dos destinos possíveis são Israel, Sérvia, Rússia e Emirados Árabes. Esses países têm avançado na imunização da sua população. O aeroporto de Moscou, inclusive, deve abrir em breve uma área específica para vacinação no desembarque.

O “turismo da vacina” pode ajudar a livrar a Alemanha de parte da carga do seu plano nacional de imunização. No entanto, tanto no caso alemão quanto no caso dos brasileiros que viajam aos Estados Unidos, há um questionamento moral que está sendo debatido.

É justo que a grande maioria da população espere pelas doses da vacina e correndo o risco de morrer, ao mesmo tempo que pessoas com mais dinheiro viajam para se vacinar? E, ainda por cima, aproveitam para tirar férias e relaxar?

E em relação às empresas de turismo, é correto que elas lucrem com uma doença que já matou mais de três milhões de pessoas em todo o mundo?

O empresário austríaco Christian Mucha criou uma plataforma que oferece pacotes de viagem para vacinação. Segundo ele, o mercado está apenas preenchendo um vácuo criado pela incapacidade dos governos de garantir a imunização. Sua iniciativa pretende também oferecer viagens gratuitas para uma em cada dez pessoas que comprarem o pacote. Até agora, mais de vinte mil pessoas já fizeram reserva desses pacotes, de acordo com o site da empresa.

Outro problema é que a falta de vacinas em alguns países mais pobres é ocasionada pelo monopólio de doses pelos países ricos, o que contribui para o turismo de vacinação irregular, como o dos brasileiros que vão para os Estados Unidos.

Frente a esse problema, o presidente americano Joe Biden anunciou que irá doar sessenta milhões de doses do imunizante AstraZeneca, que ainda não foi aprovado pelas autoridades de saúde locais, para países que necessitem, mas não especificou quando nem como isso vai acontecer. O governo americano tem sido criticado por monopolizar vacinas e colaborar pouco com a imunização internacional, enquanto Rússia e China estão apostando na doação de doses para nações mais necessitadas.

Resta ver como os países receberão essa nova categoria de turismo e se isso irá ajudar na aceleração da imunização mundial contra a Covid-19.

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