A internet revolucionou a política
Ainda me socorrendo do livro de Giuliano Da Empoli, utilizado no artigo “Os Engenheiros do Caos”, que tem um título bem sugestivo, a demonstrar como o caos pode ser implantado, se não observadas às regras do jogo democrático, escritas ou não, e também se desprezada a ética, com o escopo de vencer a todo custo.
Assim esse livro é de suma importância para entender como diversos líderes populistas chegaram ao poder, inclusive Donald Trump, então líder do chamado país guia do mundo, que pode também se rotulado de o “xerife do mundo”, considerando que, além de desprezar o princípio da igualdade entre as nações, com o prevalecimento da lei do mais forte, se considera a nação exemplar e mística, pronta a salvar o mundo, posto que supostamente abençoada por Deus, e assim fazendo e legitimando guerras, a bel-prazer, e desconsiderando os organismos internacionais, inclusive a ONU, com o prevalecimento do poder de força e fogo da OTAN.
Na verdade, há que se considerar nas últimas eleições, em diversos países, o papel relevante e negativo da internet, que revolucionou a política, e que, se não controlada, chegará o dia da formação de partido puramente digital, o que é uma perda à democracia, considerando que não se pode aferir, de suas plataformas, se as notícias são realmente verdadeiras ou se não passam também de dados apenas virtuais, sem necessidade de concretização, caso eleito o candidato. O descompromisso com a verdade, com a realidade, é enorme.
Nota-se que Donald Trump saiu vitorioso com Steve Bannon, chamado de o homem-orquestra do populismo americano, e que pensa fundar uma Internacional Populista, em contraponto às chamadas elites globais. E as ações negativas e os equívocos de Trump foram notados no mundo todo.
Não se pode olvidar também do blogueiro inglês, Milo Yannopoulos que, a exemplo dos nacional-populistas, pretendem quebrar os códigos das esquerdas e do politicamente correto, semeando a discórdia o ódio globalmente. Depois, basta trabalhar sobre a discórdia adrede semeada, como vem acontecendo também no Brasil.
Preocupante o momento atual, com inúmeros engenheiros do caos espalhados e especializados em informações falsas encomendadas. Devemos, pois, ficar vigilantes, bem como ter uma visão crítica dos acontecimentos e não simplesmente uma adesão, de chofre e cega, às notícias, a ponto de comprometer o sistema democrático, que para funcionar bem exige que não nos abdiquemos do direito de pensar e criticar.
Os engenheiros do caos se fazem presentes fortemente na política, considerando que seus eleitores acreditaram em suas falsas promessas, inclusive na necessidade de mudanças radicais, que colocam em perigo a democracia, com propostas autoritárias e ainda com a prevalência da falsa segurança da sociedade, mesmo que em comprometimento da liberdade, o que acaba desaguando em um totalitarismo, que busca o apoio dos eleitores neófitos, armando-os, para futuros embates, que deveriam ser realizados apenas pela força púbica e em conformidade com a lei, e não por milícias privadas.
E o populismo das redes sociais é facilmente confirmado considerando que nela não há nenhum tipo de intermediação e todos se encontram no mesmo plano e a avaliação desta participação é feita apenas pelos likes e pelas curtidas. Portanto, não interessa o conteúdo, mas apenas a adesão imediata, o engajamento. Nada de comprometimento com uma causa justa, em prol de todos. Pouco importa, se as medidas são antidemocráticas. De prevalecer à vontade do líder carismático e fanático.
Não há questionamento, mas aceitação, na política via redes sociais. Falta diálogo direto e sério e geralmente há uma equipe ou um sistema automático para respostas ou para correção de rota, com relação aos próximos a serem cooptados. Os algoritmos são manipulados para dar satisfação aos usuários/eleitores, para atraí-los, inclusive interceptando as aspirações e os medos destes eleitores.
E conforme ressalta Giuliano Da Empoli, no livro citado acima, p. 21: “Para os novos Doutores Fantásticos da política, o jogo não consiste mais em unir as pessoas em torno de um denominador comum, mas, ao contrário, em inflamar as paixões do maior número possível de grupelhos para, em seguida, adicioná-los, mesmo à revelia. Para conquistar uma maioria, eles não vão convergir para o centro, e sim unir-se aos extremos.”.
E continuando expondo suas sérias preocupações com a política virtual, Giuliano Da Empoli acrescenta, p. 21: “Cultivando a cólera de cada um sem se preocupar com a coerência do coletivo, o algoritmo dos engenheiros do caos dilui as antigas barreiras ideológicas e rearticula o conflito político tendo como base uma simples oposição entre o “povo” e “as elites”. No caso do Brexit, assim como nos casos de Trump e da Itália, o sucesso dos nacional-populistas se mede pela capacidade de fazer explodir a cisão esquerdo-direita para captar os votos de todos os revoltados e furiosos, e não apenas dos fascistas.”.
Assim, as redes sociais e a nova propaganda virtual são alimentadas principalmente de emoções negativas, considerando que garantem a maior participação de pessoas. “Daí o sucesso das fake news e das teorias da conspiração” (Da empoli, p. 21).
Portanto, com a entrada das redes sociais na política, o escárnio é utilizado para dissolver as hierarquias e tudo passa a ser nivelado por baixo, inclusive fazendo com que candidatos a cargos políticos fujam do debate direto, pretendo apenas a internet e outros meios de comunicações, que nem sempre é possível comprovar quem realmente está se comunicando. (por Newton Teixeira)
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