Por que dá gosto ver Serena Williams jogar

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
A técnica, a potência e o ritmo de seu saque são inacreditáveis

Eu vi muitas gerações irem e virem no tênis, e toda vez que você vê um grande jogador se aposentar é muito difícil. Mas a notícia de que Serena Williams está deixando o tênis é particularmente difícil por causa do que ela representa.

Sua presença e sua atuação política elevaram o jogo. A técnica, a potência e o ritmo de seu saque são inacreditáveis, dão o tom para a intensidade de seu jogo. Eu não me importo com o que acontece depois disso; estou lá só para vê-la servir.

Conheço Venus e Serena Williams desde que tinham 7 e 6 anos. Eu as conheci em abril de 1988. Nós tínhamos cerca de 1.200 crianças naquele dia para uma clínica em minha cidade natal, Long Beach, na Califórnia, perto de onde as irmãs Williams cresceram, Compton. Você já podia ver que elas eram especiais. E era mais do que sua forma. Eu vi que elas realmente escutavam, escutavam ativamente. Você podia ver que elas estavam realmente envolvidas. Tinham uma concentração incrível.

Mandei Serena sacar naquele dia e disse a ela: Não mude nada.

Ela é a maior de todos os tempos –ou, pelo menos, a maior de seu tempo, já que cada geração fica melhor. Serena mudou a forma como se joga tênis. Em seu tempo, os saques melhoraram muito no tênis feminino, e acho que ela é a razão: ela pressionou as outras jogadoras a melhorar. Quando você tem um ótimo saque, isso a mantém longe dos problemas. Quando ela está por baixo, em 30-40 ou 15-40, pode lançar alguns aces, e antes que você perceba é “deuce” novamente.

Em 1970, eu era uma das nove jogadoras originais que, com Gladys Heldman, criamos nosso próprio torneio. Foi o nascimento do tênis profissional feminino como o conhecemos hoje. Então, em 1973, fundei a Associação Feminina de Tênis. Queríamos que qualquer garota no mundo que fosse boa o suficiente tivesse um lugar para competir –não apenas jogar, competir. Queríamos ser apreciadas por nossas realizações, não apenas por nossa aparência. E queríamos ganhar a vida jogando tênis.

E assim Serena está vivendo nosso sonho. Quando a observo, penso: “obrigada, Deus”. Ela tem sido uma representante incrível, uma líder fantástica ajudando as mulheres, principalmente as mulheres negras. Ela não tem medo de falar sua verdade.

Ela é extremamente competitiva. Nunca vi alguém que odeia tanto perder quanto ela –o que eu amo. Os campeões podem elevar seu jogo quando está apertado ou quando estão em baixa. Serena é totalmente essa pessoa.

Ela também tem o que eu chamo de fator “it”. Serena tem esse fator em luzes de neon. Você pode dizer que ela adora entreter. Ela adora a atenção e sabe lidar com isso. Muitas crianças recebem essa atenção, e então você as vê simplesmente desistir. Ela avança com isso.

Serena é muito boa em se conectar com as pessoas pela mídia e pelas redes sociais. É disso que a garotada gosta hoje. Eles gostam de saber quando você escova os dentes! Ela é muito boa em compartilhar sua vida com eles. Ela conquistou muito, e também passou por algumas dificuldades, incluindo o assassinato de sua meia-irmã, o racismo que suportou como mulher negra e as complicações que sofreu após o nascimento de sua filha. Ela pode se relacionar com muitas pessoas diferentes, e as pessoas podem se relacionar com ela por causa do que ela passou. Não importa se você gosta de tênis ou não: você gosta de Serena.

Toda vez que encontro as outras mulheres das Original Nine e falamos sobre o estado do nosso esporte, dizemos: “Isso não é ótimo?” Elas estão vivendo o sonho. Estamos sempre procurando jogadoras que possam ajudar a promover o esporte, mas, mais importante, que possam ajudar a promover a igualdade e usar o tênis como uma plataforma para mudar a maneira como pensamos, mudar o que consideramos possível e tornar o mundo melhor. Serena trouxe a ideia de igualdade de gêneros, inclusão e diversidade. Ela inspirou as pessoas a viver seus sonhos.

Em seu artigo para a Vogue, em que Serena anunciou sua aposentadoria –que ela chama de “evolução”–, há uma frase que mexeu comigo. Ela disse: “Eu construí uma carreira canalizando raiva e negatividade e transformando-as em algo bom”. Ela está absolutamente certa. É bom que as pessoas fiquem com raiva, desde que seja sobre algo importante. Mas use sua raiva; transforme-a em algo positivo.

Estarei torcendo para Serena nas arquibancadas do US Open esta semana. Acho que ela poderia fazer uma diferença ainda maior na segunda parte de sua vida do que na primeira. Sinto que ela está apenas começando.

Traduzido por Luiz Roberto Gonçalves – Fonte: Folha de S. Paulo

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