Ministro do Meio Ambiente quer US$ 1 bilhão da comunidade internacional para preservar a Amazônia. Parece muito, mas é uma bagatela diante do que a floresta e sua proteção poderiam valer. Um atestado de miopia
Supostamente o ministro brasileiro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, se achou muito esperto ao anunciar que pretende exigir “US$ 1 bilhão” na cúpula do Dia da Terra, em 22 de abril. Em troca, o Brasil desmataria 40% menos mata amazônica do que atualmente. Com isso, ele quer dizer: se os gringos estão exigindo que a gente preserve a Amazônia, então vão ter que pagar.
Salles está seguro do aplauso dos que apoiam sua “política ambiental”. No gabinete, o presidente Jair Bolsonaro e alguns generais o teriam congratulado pela demonstração do tipo “Davi contra Golias”. Até porque grande parte do dinheiro iria para os militares e unidades policiais que pretendem proteger a mata tropical. Como declarou, o ministro considera os órgãos ambientais existentes, como o Ibama e o ICMBio, burocráticos e engessados demais.
O problema é que, por US$ 1 bilhão, o Brasil estará se vendendo mais barato do que nunca numa cúpula ambiental. A quantia é uma bagatela diante do que poderiam valer a Floresta Amazônica e sua preservação. Pouco refletida e mesquinha, a ideia mostra toda a miséria da atual política ambiental do país.
A caminho da COP26
O presidente Bolsonaro indicou Salles como chefe de negociações da assim chamada Cúpula dos Líderes sobre o Clima, relegando a segundo plano todos os membros do gabinete que teriam algo para dizer sobre o assunto. E há muito em jogo: o novo presidente americano, Joe Biden, convidou para o encontro 40 chefes de Estado e de governo.
Trata-se de uma reunião preparatória para a cúpula do clima COP26 de novembro em Glasgow. Os Estados Unidos querem obter desde já, dos grandes causadores de gases do efeito estufa, comprometimentos quanto a suas emissões de CO2. Aí, na conferência na Escócia, seria possível finalmente aprimorar as metas do Acordo de Paris de 2015.
E agora, com sua exigência bilionária, Salles quer que a comunidade mundial pague ao Brasil antecipadamente pela floresta existente, ou seja, por dióxido de carbono capturado.
Pelo Fundo Amazônia, criado pela Noruega e também pela Alemanha para proteção da floresta, verbas fluiriam anualmente a posteriori caso o Brasil reduzisse comprovadamente o desmatamento. Como o governo Bolsonaro não pode ou não quer fazer isso, as transferências foram suspensas.
Reivindicar em vez de passar o pires
E no entanto o sistema “dinheiro em troca de proteção florestal” poderia funcionar bem: diversos Estados, conglomerados privados e doadores multilaterais, como o Banco Mundial, seguramente estariam dispostos a investir muito para apoiar o Brasil.
O país só teria que provar, ou assegurar de forma confiável, que pode e quer preservar a Floresta Amazônica. Em vez disso, o atual governo desmonta todas as instituições e corta verbas, de modo que a destruição da Amazônia se acelera cada vez mais.
Ao pedir US$ 1 bilhão é como se o ministro do Meio Ambiente quisesse que o corpo de bombeiros lhe desse uma gorjeta para que este apagasse o fogo na própria casa dele. O governo tenta lucrar com o impedimento da própria catástrofe. “A estratégia ambiental do governo é equivocada, míope e de curto prazo”, criticou o ex-ministro da Agricultura Pedro de Camargo Neto, ao jornal O Estado de S. Paulo.
Pois, com sua matriz energética sustentável, de hidrelétricas e biocombustíveis, o Brasil poderia se apresentar de forma bem diferente no Dia da Terra, impondo condições, não como solicitante. O país deveria exigir dos Estados que mais produzem gases do efeito estufa – União Europeia, China, Rússia Índia – que reduzam suas emissões.
Camargo Neto aponta o caminho: “Nós, que podemos sofrer o desastre que eles estão provocando e podemos pagar o pato. Nós teríamos de estar numa posição de força, pressionando, não querendo passar o pires”.
DW – Brasil
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