Luciano Huck e Zelensky: dois amadores discutindo geopolítica em horário nobre
Em uma entrevista recente concedida ao apresentador Luciano Huck, da Rede Globo, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, fez duras críticas ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Zelensky questionou a neutralidade brasileira em relação à guerra na Ucrânia e sugeriu que o Brasil deveria alinhar-se à posição ucraniana e ao bloco militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN. Além disso, expressou desconforto com as relações do Brasil com países do Sul Global, como Rússia, China, Irã e Coreia do Norte, desafiando os valores democráticos que o Brasil afirma defender.
Essa entrevista, porém, levanta uma série de questões sobre a legitimidade de Luciano Huck, um apresentador de TV sem experiência política ou de gestão pública, em discutir e pautar temas de extrema complexidade como geopolítica e relações internacionais. Aliás o simples fato de Huck tentar se projetar como presidenciável através de uma entrevista feita com uma figura homóloga midiática que transformou seu país em um palco entre potências nucleares é, em si mesmo, um claro sinal de inépcia política, e uma piada de muito mal gosto. Os brasileiros precisam estar atentos a figuras cujo impropério está sempre na ordem do dia.
A comparação inevitável com o próprio Zelensky, que também tinha uma trajetória na mídia antes de se tornar presidente, torna-se relevante, especialmente ao considerar as consequências da inexperiência política em um cargo de tanta responsabilidade.
A inexperiência de Luciano Huck e a complexidade da política externa
Luciano Huck, apesar de seu sucesso como comunicador e apresentador, não possui o histórico necessário para lidar com as intricadas questões de política externa que envolvem o Brasil, um país com forte protagonismo na América Latina e no cenário global. A entrevista com Zelensky, portanto, coloca em evidência o risco de simplificações perigosas em questões que exigem profundo conhecimento diplomático e estratégico.
Zelensky, ao atacar as relações do Brasil com o Sul Global, despreza a complexidade da diplomacia brasileira, que historicamente busca um equilíbrio entre diferentes blocos de poder, defendendo a multipolaridade e a soberania das nações. A própria Ucrânia, sob a liderança de Zelensky, tornou-se um campo de batalha em uma disputa de poder entre a Rússia e o Ocidente, evidenciando como decisões impensadas podem ter consequências devastadoras para um país. Aliás é sabido por todos que quando a força militar é ativada, significa que a diplomacia falhou. Nesse ponto, qualquer comparação com a Ucrânia não é mera coincidência.
O papel da mídia e a política externa
A transição de figuras da mídia para a política é sempre carregada de riscos. Embora Huck possua uma plataforma poderosa para influenciar a opinião pública, a ausência de experiência em questões de Estado pode levar a uma governança focada mais na imagem do que em políticas substanciais. Este cenário é especialmente preocupante em tempos de crise, quando decisões precipitadas podem comprometer a estabilidade política e econômica do Brasil.
Além disso, a falta de uma compreensão profunda das dinâmicas regionais e globais pode resultar em uma desconexão com as realidades políticas que o Brasil enfrenta, tanto internamente quanto em suas relações internacionais. A entrevista com Zelensky, ao invés de fortalecer o debate sobre o papel do Brasil no mundo, pode acabar gerando uma narrativa simplista que ignora as nuances necessárias para uma diplomacia eficaz.
A entrevista de Volodymyr Zelensky a Luciano Huck destaca um preocupante paralelo entre duas figuras públicas que, apesar de populares, carecem de experiência política. O risco de uma governança inexperiente, tanto na Ucrânia quanto no Brasil, é evidente. É possível imaginar Huck entrevistando Vladimir Putin, o homólogo de Zelensky na Rússia? O presidente russo não queria a guerra, mas se preparou para o pior cenário. Enquanto Zelensky luta para manter a integridade territorial de seu país em meio a uma guerra devastadora, Huck, se decidir entrar na política, terá que enfrentar desafios igualmente complexos, onde a falta de experiência pode ser um obstáculo insuperável.
Em um momento em que o Brasil precisa de uma liderança firme e experiente para navegar pelas águas turbulentas da política global, a possibilidade de figuras midiáticas sem o devido preparo assumirem papéis de destaque deve ser analisada com cautela. A legitimidade de Luciano Huck em discutir e criticar temas tão profundos como os abordados por Zelensky merece, portanto, uma reflexão crítica por parte da sociedade brasileira.