Protestos na Colômbia desafiam governo e pedem reforma profunda da polícia

Leia mais

Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Ministra das Relações Exteriores renuncia e população exige fim dos abusos

Os protestos que sacodem as cidades da Colômbia há duas semanas não dão sinais de trégua. O país passa por uma onda de protestos em massa contra o governo e contra os excessos cometidos pela polícia. As manifestações tiveram início para protestar contra a reforma fiscal proposta pelo governo do presidente Iván Duque, que recuou e retirou o projeto legislativo. No entanto, a reação brutal das forças de segurança criaram outro problema e agora, a população se volta contra o sistema policial e militar do país. 

Desde então, os protestos se multiplicaram, sem agenda ou direção definida, mas no fundo exigem um país mais justo e um Estado mais solidário e que garanta vida e segurança. Nas ruas, a revolta popular exige uma mudança extrema nas forças de segurança. A brutalidade policial, também denunciada pela comunidade internacional, alimentou uma crise social que já havia sido agravada pela pandemia.

A rotina se repete a cada dia e a cada noite. Policiais atiram à noite, pessoas são baleadas e, de dia, os manifestantes reagem, celulares em mãos, e gritam: “estão nos matando”. A insatisfação popular se voltou, então, para a polícia, uma força que foi forjada no conflito contra as guerrilhas comunistas e o narcotráfico. “Na Colômbia, o inimigo estava dentro. E, neste sentido, a ideia de inimigo interno prevalece no imaginário dos colombianos, tanto na polícia quanto no Exército”, explica o historiador Óscar Almario, da Universidade Nacional.

Diante dos protestos, a ministra das Relações Exteriores da Colômbia, Claudia Blum, apresentou sua renúncia “irrevogável” ao cargo, em carta ao presidente Iván Duque. Apesar de deixar o posto, Blum afirma na mensagem que mantém o apoio e sua “admiração” ao presidente, afirmando que ele pode consolidar consensos “que ratifiquem a unidade e a força de nossa Nação”.

Em 15 dias de protestos, 42 pessoas (41 civis e um policial) morreram, segundo a Ouvidoria. Já o Ministério da Defesa contabiliza 1,5mil feridos, entre civis e policiais. E a ONG Temblores, que registra abusos por parte da força pública, denuncia pelo menos 40 homicídios cometidos por forças da ordem. A AFP avaliou cerca de 40 vídeos, onde se veem atos violentos cometidos por policiais.

Assim como acontece em outras partes do mundo, a força pública colombiana tem dificuldades para se adaptar às novas realidades. Os protestos muitas vezes são espontâneos, sem uma liderança definida, mas com um agravante: quase seis décadas de confrontos internos enraizaram a ideia de que os manifestantes são inimigos a serem combatidos, concordam especialistas.

O que começou como uma rejeição a uma projetada alta de impostos – já engavetada – se tornou um grito de indignação popular. Entre tantas queixas e reivindicações, exige-se uma nova polícia, que não seja mais subordinada ao Ministério da Defesa. Centenas de milhares de colombianos se mobilizaram energicamente.

Revanche

Desde que chegou ao poder, o presidente Iván Duque enfrentou manifestações inéditas, em um país onde o protesto costumava ser atribuído à insurgência armada. Em 2019, multidões saíram às ruas para exigir uma mudança de rumo do governo conservador, e os excessos das forças do Batalhão de Choque levaram a Suprema Corte a exigir reformas.

“Mas isto não é apenas a Colômbia, é global, porque as manifestações têm um outro teor”, e “a polícia também se vê um pouco afetada por estas novas formas” de protesto, analisa Juan Carlos Vásquez, especialista em segurança do Universidad del Rosario. Na Colômbia, há 266.606 militares e 157.820 policiais, segundo dados oficiais.

O especialista acrescenta, porém, que as tropas de choque “estão mais bem treinadas” para lidar com os manifestantes “do que as polícias de vigilância, que são, em grande maioria, os que atiraram nos manifestantes”. Alguns policiais “têm níveis de degradação muito fortes, porque atirar em manifestantes à queima-roupa sem pensar duas vezes mostra que não têm limites”, disse Vásquez.

No momento, cinco policiais estão suspensos por suspeita de terem cometido abusos: dois deles, pelo assassinato a tiros de um estudante de 19 anos, em Ibagué (centro). Em sua defesa, o governo garante que os agentes também receberam disparos e que os protestos têm grupos armados infiltrados, como membros dissidentes das Farc, ou guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN). Dos 849 policiais feridos, 12 foram por projéteis. Os agentes “que foram atacados respondem para matar e se defender, mas também como vingança”, lamenta Vásquez.

Por muito tempo, a polícia teve uma boa imagem no contexto colombiano. No entanto, seu “status” híbrido, como um organismo civil vinculado ao Ministério da Defesa, “enfraquece-o em uma conjuntura em que o problema de ordem pública faz dela a primeira linha de ação do Estado”, analisa Almario.

Na Colômbia, muitos grupos sociais têm usado a violência como um mecanismo de participação política, afirma Luis Felipe Vega, professor de Ciência Política da Universidad Javeriana. Isso assusta os jovens que protestam.

Enquanto isso, o governo ainda enfrenta poderosos grupos armados financiados pelo tráfico de drogas e pela mineração ilegal. Para Vega, neste quadro, o governo não aceita o pedido de desmilitarização da polícia, porque teme “perder a capacidade de enfrentar os inimigos, o que, em termos de segurança e defesa, se chama a ameaça persistente”.

AFP – Brasil

Os protestos que sacodem as cidades da Colômbia há duas semanas não dão sinais de trégua. O país passa por uma onda de protestos em massa contra o governo e contra os excessos cometidos pela polícia. As manifestações tiveram início para protestar contra a reforma fiscal proposta pelo governo do presidente Iván Duque, que recuou e retirou o projeto legislativo. No entanto, a reação brutal das forças de segurança criaram outro problema e agora, a população se volta contra o sistema policial e militar do país. 

Desde então, os protestos se multiplicaram, sem agenda ou direção definida, mas no fundo exigem um país mais justo e um Estado mais solidário e que garanta vida e segurança. Nas ruas, a revolta popular exige uma mudança extrema nas forças de segurança. A brutalidade policial, também denunciada pela comunidade internacional, alimentou uma crise social que já havia sido agravada pela pandemia.

A rotina se repete a cada dia e a cada noite. Policiais atiram à noite, pessoas são baleadas e, de dia, os manifestantes reagem, celulares em mãos, e gritam: “estão nos matando”. A insatisfação popular se voltou, então, para a polícia, uma força que foi forjada no conflito contra as guerrilhas comunistas e o narcotráfico. “Na Colômbia, o inimigo estava dentro. E, neste sentido, a ideia de inimigo interno prevalece no imaginário dos colombianos, tanto na polícia quanto no Exército”, explica o historiador Óscar Almario, da Universidade Nacional.

Diante dos protestos, a ministra das Relações Exteriores da Colômbia, Claudia Blum, apresentou sua renúncia “irrevogável” ao cargo, em carta ao presidente Iván Duque. Apesar de deixar o posto, Blum afirma na mensagem que mantém o apoio e sua “admiração” ao presidente, afirmando que ele pode consolidar consensos “que ratifiquem a unidade e a força de nossa Nação”.

Em 15 dias de protestos, 42 pessoas (41 civis e um policial) morreram, segundo a Ouvidoria. Já o Ministério da Defesa contabiliza 1,5mil feridos, entre civis e policiais. E a ONG Temblores, que registra abusos por parte da força pública, denuncia pelo menos 40 homicídios cometidos por forças da ordem. A AFP avaliou cerca de 40 vídeos, onde se veem atos violentos cometidos por policiais.

Assim como acontece em outras partes do mundo, a força pública colombiana tem dificuldades para se adaptar às novas realidades. Os protestos muitas vezes são espontâneos, sem uma liderança definida, mas com um agravante: quase seis décadas de confrontos internos enraizaram a ideia de que os manifestantes são inimigos a serem combatidos, concordam especialistas.

O que começou como uma rejeição a uma projetada alta de impostos – já engavetada – se tornou um grito de indignação popular. Entre tantas queixas e reivindicações, exige-se uma nova polícia, que não seja mais subordinada ao Ministério da Defesa. Centenas de milhares de colombianos se mobilizaram energicamente.

Revanche

Desde que chegou ao poder, o presidente Iván Duque enfrentou manifestações inéditas, em um país onde o protesto costumava ser atribuído à insurgência armada. Em 2019, multidões saíram às ruas para exigir uma mudança de rumo do governo conservador, e os excessos das forças do Batalhão de Choque levaram a Suprema Corte a exigir reformas.

“Mas isto não é apenas a Colômbia, é global, porque as manifestações têm um outro teor”, e “a polícia também se vê um pouco afetada por estas novas formas” de protesto, analisa Juan Carlos Vásquez, especialista em segurança do Universidad del Rosario. Na Colômbia, há 266.606 militares e 157.820 policiais, segundo dados oficiais.

O especialista acrescenta, porém, que as tropas de choque “estão mais bem treinadas” para lidar com os manifestantes “do que as polícias de vigilância, que são, em grande maioria, os que atiraram nos manifestantes”. Alguns policiais “têm níveis de degradação muito fortes, porque atirar em manifestantes à queima-roupa sem pensar duas vezes mostra que não têm limites”, disse Vásquez.

No momento, cinco policiais estão suspensos por suspeita de terem cometido abusos: dois deles, pelo assassinato a tiros de um estudante de 19 anos, em Ibagué (centro). Em sua defesa, o governo garante que os agentes também receberam disparos e que os protestos têm grupos armados infiltrados, como membros dissidentes das Farc, ou guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN). Dos 849 policiais feridos, 12 foram por projéteis. Os agentes “que foram atacados respondem para matar e se defender, mas também como vingança”, lamenta Vásquez.

Por muito tempo, a polícia teve uma boa imagem no contexto colombiano. No entanto, seu “status” híbrido, como um organismo civil vinculado ao Ministério da Defesa, “enfraquece-o em uma conjuntura em que o problema de ordem pública faz dela a primeira linha de ação do Estado”, analisa Almario.

Na Colômbia, muitos grupos sociais têm usado a violência como um mecanismo de participação política, afirma Luis Felipe Vega, professor de Ciência Política da Universidad Javeriana. Isso assusta os jovens que protestam.

Enquanto isso, o governo ainda enfrenta poderosos grupos armados financiados pelo tráfico de drogas e pela mineração ilegal. Para Vega, neste quadro, o governo não aceita o pedido de desmilitarização da polícia, porque teme “perder a capacidade de enfrentar os inimigos, o que, em termos de segurança e defesa, se chama a ameaça persistente”.

AFP – Brasil

VOZ DO PARÁ: Essencial todo dia!

- Publicidade -spot_img

More articles

- Publicidade -spot_img

Últimas notíciais