Rede Globo rebate declarações de Lula sobre a Lava Jato durante entrevista exclusiva ao Fantástico, reacendendo o debate sobre o papel da mídia no caso
Neste domingo (15), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concedeu uma entrevista exclusiva ao programa Fantástico, da Rede Globo, após receber alta hospitalar. Durante a conversa, Lula abordou temas polêmicos, incluindo a prisão do general Walter Braga Netto, acusado de envolvimento em tramas golpistas, e fez críticas à sua experiência com o julgamento da Lava Jato. Contudo, a emissora interrompeu a exibição da entrevista para contestar as declarações do presidente, gerando repercussão nas redes sociais e reacendendo a polarização sobre a operação que marcou a política brasileira.
A fala de Lula e a intervenção da Globo
Durante a entrevista conduzida pela jornalista Sônia Bridi, Lula defendeu que os militares acusados de conspiração contra a democracia tenham pleno direito à defesa e à presunção de inocência. “Eu defendo que eles tenham a presunção de inocência que eu não tive”, afirmou, referindo-se ao processo da Lava Jato. Ao ser questionado sobre essa afirmação, Lula reiterou: “Eu não tive direito de defesa. Veja, eu fui preso primeiro, para depois me defender.“
Foi nesse momento que a Rede Globo interveio, interrompendo a fala do presidente para exibir um contraponto em forma de narrativa institucional: “Quando o presidente Lula foi preso em 2018, no caso da cobertura no Guarujá, com participação da defesa dele em todas as etapas do julgamento.” A interrupção trouxe à tona a postura histórica da emissora em relação à Lava Jato, reafirmando a linha editorial que, segundo críticos, colaborou para moldar a opinião pública contra Lula durante o processo.
A polêmica da imparcialidade na Lava Jato
Lula foi condenado e preso em 2018 sob acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro relacionadas ao triplex do Guarujá. O caso, conduzido pelo então juiz Sergio Moro, foi posteriormente anulado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que reconheceu a parcialidade de Moro e declarou a incompetência da Justiça Federal de Curitiba para julgar o processo. Além disso, investigações revelaram diálogos entre Moro e o Ministério Público Federal, evidenciando conluio entre juiz e acusação.
A defesa de Lula sempre sustentou que ele foi alvo de perseguição política disfarçada de ação jurídica, uma tese reforçada pela atuação midiática da época, liderada por veículos como a Rede Globo. A emissora, que dedicou cobertura massiva ao caso, é frequentemente apontada como peça central na narrativa que favoreceu a Lava Jato.
Globo e Lava Jato: uma relação histórica
A atuação da Rede Globo durante a operação Lava Jato foi amplamente criticada por especialistas e analistas políticos. A emissora foi acusada de promover um julgamento midiático, transmitindo declarações e evidências muitas vezes sem o devido contraditório. A recente intervenção na entrevista de Lula reforça essa percepção de parcialidade.
“Essa postura demonstra como o papel da mídia hegemônica no Brasil ultrapassa o limite do jornalismo e interfere diretamente no cenário político do país”, avalia o cientista político Rafael Gomes. Para ele, o episódio reflete uma tentativa de manter o discurso pró-Lava Jato relevante, mesmo após sua desmoralização institucional.
A repercussão nas redes sociais
Após a exibição da entrevista, a interrupção feita pela Globo repercutiu nas redes sociais, com internautas divididos entre críticas à emissora e apoio à decisão editorial. Usuários apontaram que a intervenção da Globo reflete a continuidade de uma narrativa que desconsidera os avanços recentes no debate jurídico sobre a Lava Jato.
Por outro lado, apoiadores da operação consideraram a ação da emissora um “compromisso com a verdade”, defendendo que Lula recebeu amplo direito de defesa durante os julgamentos.
Um debate que continua
O episódio da entrevista de Lula no Fantástico é mais um capítulo na relação conflituosa entre a imprensa brasileira e a política nacional. A intervenção da Globo reabre questões sobre o papel da mídia no equilíbrio democrático e na construção de narrativas públicas. Enquanto o presidente reafirma sua inocência e defende a justiça plena para todos, a atuação da imprensa segue sendo objeto de escrutínio por parte da sociedade.