Depois da confusão causada pelo motim de 12 dos principais clubes europeus, até os insurgentes saem vitoriosos. Os únicos prejudicados são os torcedores
Parece um jogo de cartas marcadas. Apenas dois dias depois de 12 dos principais clubes europeus terem ensaiado uma rebelião contra a Uefa, anunciando sua própria Super Liga, a maioria deles resolve voltar atrás.
As razões apontadas pelos seis melhores clubes ingleses para a desistência – que depois ganhou adesão também do Atlético de Madri, do Milan e do Inter de Milão – são algo até para se deliciar. “Nunca foi nossa intenção causar tantos problemas”, desculpou-se o Arsenal. E o Chelsea, nas suas próprias palavras, alegou que só teve “agora tempo para reconsiderar totalmente a questão”.
Desculpe, mas isso não passa de uma mentira. Os responsáveis pelos clubes de elite europeus não podem ter sido tão ingênuos assim. Eles tinham que ter estado conscientes de que uma saída deles da Uefa provocaria um terremoto no futebol europeu. O clamor veio imediatamente, a violência das reações se superaram mutuamente, de um lado e de outro.
O presidente da Uefa, Aleksander Ceferin, ameaçou os fundadores da Super Liga com a expulsão da Champions League, e os jogadores dos clubes participantes do motim de Inglaterra, Espanha e Itália não poderiam mais participar da Eurocopa. Até a União Europeia, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e o presidente francês, Emmanuel Macron, condenaram os planos da “Dúzia Suja”, como a imprensa britânica apelidou os 12 clubes.
Dinheiro faz a bola girar
A afronta ao futebol tradicional não podia ser maior. Quinze dos 20 futuros membros da Super Liga deveriam gozar de um lugar permanente no torneio e terem, com isso, bilhões garantidos em receita, enquanto os cinco restantes teriam que se qualificar para o tal campeonato e correr o risco de serem rebaixados. Tudo isso financiado pelo grande banco americano JP Morgan, sem preocupação com Fifa, Uefa e federações nacionais, sem falar da torcida. Ou, como diz um sucesso de Liza Minelli, Only money makes the ball go round (só o dinheiro faz a bola girar).
Isso realmente não é algo novo, mas a Super Liga teria levado a coisa ao extremo. Em comparação a esse projeto, a reforma da Champions League – aprovada pelo executivo da Uefa em meio à emoção dos últimos dois dias – parecia uma “reforminha” com que nem vale a pena perder tempo.
Entretanto, o aumento da liga de elite europeia de 32 para 36 equipes em 2024 é bastante controverso. Com isso, dois lugares serão dados a clubes que sequer se qualificaram para a competição, mas que tiveram um desempenho acima da média na Copa da Europa nos últimos cinco anos, ou seja, a clubes de elite em dificuldades. Isso nada tem a ver com uma real competição esportiva. A “nova” Champions League também tem apenas uma meta principal: maximizar o lucro.
Quase todos vencedores
E assim, no final desses dois dias turbulentos todas as partes acabam saindo como vencedoras – com exceção da torcida. A Uefa pode posar como defensora do futebol tradicional, que na verdade pisoteia há anos. E, além disso, conseguiu en passant aprovar sua polêmica reforma, que acabou quase despercebida frente à barulheira generalizada.
Os clubes que estavam para participar da Super Liga, mas não participaram da revolta – como Bayern, Borussia Dortmund e Paris St. Germain – conseguiram registrar ganhos de prestígio. De repente, eles eram elogiados por sua modéstia, embora também estivessem preocupados principalmente com dinheiro.
E os desordeiros? Eles vão sobreviver ao vexame de terem se curvado no final. No mais tardar quando contabilizarem o faturamento em 2025, após a primeira temporada da Champions League no novo formato.
por Stefan Nestler – DW – Brasil
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