Sociedade do momento não pode ser considerada como justa e exige participação política de todos nós
A reflexão que se faz no momento presente, a nível universal, é se esta sociedade em que vivemos é realmente justa. Falo desta sociedade que acaba por legitimar a pobreza, sob ao argumento elitista de que a pobreza é furto da incompetência da maioria. Esta sociedade com altíssima concentração de riqueza em nome de poucos e forjadora de milhões de desempregados e até mesmo de famintos, sob nossos olhares inertes e apenas na promessa, escatológica, de uma vida melhor a porvir em outra dimensão espiritual.
E com relação à riqueza, aos poucos rico, em uma sociedade de miseráveis, é cada vez mais perpetuado, considerando a intocabilidade e a sacralidade da propriedade privada, dogma liberal, que impede uma discussão mais séria sob a distribuição de riqueza, à alegação falsa de que tudo o que possuo é produto de meu “trabalho árduo”. Com isto, até a mulher acabou, nesta sociedade ainda patriarcal, coisificada, pelo marido ou companheiro.
De entender-se por “trabalho árduo” dos ricos a exploração de empregados, até mesmo as inúmeras viagem que fazem a lazer, durante o ano, inclusive e de preferência ao exterior, bem como o viver de renda, ou seja, especulando com o capital e com o cérebro constantemente na bolsa de valores e quanto os pequenos ricos, vivendo de juros altíssimos, tendo a agiotagem como a principal ocupação. E tudo isto naturalizado; o errado tornado certo!
Portanto, a sociedade do momento não pode ser considerada como justa e exige participação política de todos nós, considerando que a minha própria consciência, se preocupada com os nossos semelhantes, se empática, tem a necessidade de negar a sociedade do presente, fruto da revolução francesa, que teve por escopo derrubar privilégios e democratizar a vida em sociedade e que, infelizmente ainda não cumpriu estes objetivos.
Com a chegada da burguesia no poder, novos privilégios foram criados, antigos mantidos e a pobreza perpetuada, sob os aplausos de um sistema que pretendeu solucionar os problemas da sociedade e que, no entanto, criou vários outros, a partir do momento em que o Estado passou a ser instrumento da classe dominante e por ela completamente também dominado.
Aceitar a sociedade do momento, com seus eternos desencontro, desencanto e desnivelamento social, é o prevalecimento do egoísmo, do desamor, de continuarmos alijando de participação democrática na vida social milhões de pessoa, decepcionadas com o sistema atual, atualmente exclusivista.
Portanto, essas pessoas excluídas da sociedade não possuem liberdades, ponderando que têm diariamente de lutar pela sobrevivência, prioridade existencial imposta pela necessidade de sobrevivência. Assim, tais pessoas vivem infelizes e com poucas oportunidades de sobressaírem, na ausência de solidariedade dos poucos felizes, que vivem seus próprios mundos, alheios à desgraça da maioria. Este perverso sistema tornam os excluídos, desesperançosos que são, apáticos, certos de que não têm como sair deste modelo. E que qualquer resistência é fadada ao insucesso.
É por isto que não se pode falar em liberdade, ou seja, considerando que a maioria da população não tem a possibilidade de escolher seu projeto de vida, principalmente considerando que está sob uma normatividade que tem o condão de não permitir qualquer reação a esta violenta exclusão. O Direito é feito e está a serviço da classe dominante, que quer se perpetuar no poder, com a exclusão da maioria de um projeto de vida saudável e feliz.
Assim, podemos afirmar que, ao aceitarmos este estado de coisa, vivemos em um mundo antiético. Não há uma procura por uma transcendência, mas sim de perpetuação desta sociedade injusta, que, paradoxalmente, rejeita os princípios que a fundou, a partir da revolução francesa, de igualdade, fraternidade e legalidade.
E tudo continuará assim, apesar das escancaradas imperfeições, enquanto o homem considerar como um fim em si mesmo, considerando que não somos um produto acabado. Estamos em permanente construção. É necessário que o homem se projete para fins transcendentais, ou seja, de superação do momento vivido. Nossa existência exige tal atitude, considerando que o que somos não está em nós, carecendo de ser encontrado, na busca constante de uma sociedade melhor. Não há lugar para este projeto de vida em um humanismo fechado; não há lugar ao culto à personalidade, com atribuição de certos atos a determinados homem, o que vem a caracterizar a gênese do fascismo, muito presente entre nós, infelizmente.
Assim o homem não pode ser o fim e nem valor superior, como pretende demonstrar o direito, equivocadamente. Não podemos continuar a definir a humanidade segundo o valor de determinada pessoa, considerando que não somos produto pronto e acabado. Estamos em construção permanente. E, por conseguinte, não se pode valorizar um em detrimento do outro, pena de continuarmos com este sistema excludente, com o prevalecimento do culto à personalidade.
Assim, concordamos com Sartre quando considera que a liberdade não pode ser totalmente escolhida, posto que seja um dado imediato da existência, cuja apreensão ocorre em dada situação concreta.
Assim sendo, somos uma somatória de acontecimentos do passado e nossa responsabilidade é de trabalharmos, como ativistas e solidários que devemos ser, pelo advento de uma sociedade mais justa, mais humana, para que cada acontecimento seja o mais democrático possível, derrubando propostas autoritárias, que acabam por atrasar a busca constante de uma real liberdade e não de uma liberdade maquiada.
Deste modo, não podemos continuar atomizados, inertes, o que nos torna inumanos. Não podemos pensar que os princípios da revolução francesa são autoaplicáveis e que, portanto, não dependem de nossa atuação. Há carência de ação política, para a materialização destes princípios.
E na verdade forças egoísticas, que estão em vantagem no momento, pretendem que a igualdade, a fraternidade e a legalidade continuam como são, ou seja, ideais, mitos, enfim, meras formalidades, meras promessas, sem aplicação prática, mas que, contudo, servem para justificar e legitimar seus modos de vida excludentes, sob o falso argumento que as oportunidades são iguais para todos.
Contribui para a perpetuação da desigualdade o próprio Direito, ao apresentar a figura do sujeito de direito, unidade criada pela objetivação das pessoas e que acaba por alienar a todos nós. Assim, no artigo da semana que vem vamos trabalhar mais bem este instituto jurídico, a tornar distante, até hoje, o trinômio ditado pela revolução francesa.
VOZ DO PARÁ: Essencial todo dia!