Conflitos geopolíticos nunca interferiram na operação da ISS
Nesta terça-feira (26), Yuri Borisov, o novo chefe da Roscosmos, a agência espacial da Rússia, revelou que o país realmente decidiu deixar a Estação Espacial Internacional (ISS), confirmando ameaças feitas anteriormente em resposta a sanções aplicadas pelos EUA após a invasão da Ucrânia. Segundo ele, a participação russa no programa colaborativo se encerra no fim de 2024.
“A decisão de deixar a estação após 2024 foi tomada”, disse o vice-primeiro-ministro, que foi nomeado para administrar a Roscosmos após o desligamento de Dmitry Rogozin, há cerca de duas semanas.
Segundo a agência de notícias Reuters, a NASA disse ainda não ter sido formalmente comunicada. “Nada oficial ainda”, afirmou Robyn Gatens, diretora do programa estação espacial da agência norte-americana. “Nós literalmente acabamos de ver isso também. Não recebemos nada oficial”.
Logo que a invasão da Ucrânia foi ordenada por Vladimir Putin, o Olhar Digital entrou em contato com a NASA para saber sobre os impactos do conflito nas operações do laboratório orbital, construído e mantido por um consórcio de 15 países entre os quais os EUA e a Rússia são os membros mais importantes. Na ocasião, a agência afirmou que “tudo permanece como de costume”.
“A NASA continua trabalhando com a Corporação Espacial Estatal Roscosmos e nossos outros parceiros internacionais no Canadá, Europa e Japão para manter operações seguras e contínuas da Estação Espacial Internacional”, declarou Joshua A. Finch, relações públicas da agência, na época.
Semanas depois, a administradora associada de operações espaciais da NASA, Kathy Lueders, reafirmou as intenções da agência de manter a harmonia entre os países, da mesma maneira que foi feita em outros cenários parecidos.
“Já operamos nesse tipo de situação antes, e ambos os lados sempre trabalharam muito profissionalmente e entendem ao nosso nível a importância desta fantástica missão”, disse.
É comum dizer que a ISS tem um “lado russo” e um “lado americano” (embora a realidade seja um pouco mais complexa), e astronautas dos dois países são presença constante nas tripulações que se revezam em órbita a cada seis meses.
Além disso, a própria estrutura da ISS garante a cooperação entre seus membros. O “lado russo” depende de painéis solares no “lado americano” para obter energia elétrica, e estes dependem dos russos para, basicamente, manter a estação “no lugar”.
Isso porque, mesmo a mais de 400 km da superfície, ainda há atrito entre a estação e a atmosfera da Terra, o que faz com que a velocidade e a altitude do laboratório orbital sejam constantemente reduzidas. Por isso, são necessárias manobras periódicas para compensar essa “queda”, feitas usando os propulsores das espaçonaves russas que regularmente visitam a estação.
Mesmo acreditando que a Rússia não deixaria o programa, algumas alternativas vêm sendo testadas. Em junho, uma nave Cygnus da norte-americana Northrop Grumman que estava conectada à estação depois de deixar uma carga útil para a tripulação, realizou uma manobra de impulso operacional pela primeira vez, com o intuito de testar essa capacidade funcional até então executada apenas pelas cápsulas Progress, da Rússia.
Além disso, embora os veículos Dragon da SpaceX não tenham propulsores orientados para executar tal manobra, Lueders disse que a empresa está estudando incluir essa “capacidade adicional” em suas cápsulas de carga.
Segundo Lueders, a NASA estaria olhando para essas capacidades apenas como “flexibilidades operacionais”. No entanto, se a agência tivesse um meio independente de impulsionar a estação e realizar manobras de evasão de detritos, os EUA provavelmente conseguiriam dirigir a estação sem a parceria russa.
Ocorre que, conforme destaca o site Ars Technica, ninguém na NASA realmente gostaria que isso acontecesse. E um dos pontos principais para essa resistência, segundo Lueders, é que a relação colaborativa entre os países membros da ISS representa um símbolo importante para a cooperação humana em um mundo repleto de conflitos.
“A ISS é uma parceria internacional que foi criada com dependências conjuntas, o que a torna um programa incrível. É um lugar onde vivemos e operamos no espaço, de forma pacífica”, disse ela. “E eu realmente sinto que esta é uma boa mensagem para nós, que estamos operando pacificamente e seguros agora e seguindo em frente. Se a parceria se rompesse [devido às tensões geopolíticas], seria muito triste”.
Via: Olhar Digital